Poder que corrompe

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A experiência como repórter de polícia em jornais e TVs deu a Nathalia Alvitos o repertório para desenvolver o romance policial

Foto: Lucas Benevides

Esse mês, chega às livrarias o novo título da escritora e jornalista niteroiense Nathalia Alvitos, 33. Formada pela PUC-Rio, ela se especializou em segurança pública com cursos em Israel e no Rio de Janeiro. Trabalhou na Marinha do Brasil e nas principais redes de TV, chegando a se tornar repórter policial. Cansada da maratona da profissão e de enfrentar os perigos de cobrir as guerras que acontecem pelas cidades cariocas, Nathalia decidiu transformar um pouco das suas aventuras em literatura. E é assim, mesclando tudo que vivenciou à sua imaginação, que a repórter está lançando sua segunda obra, o romance policial “Cidade Perdida”. Nele, a autora faz um misto de jogos de poder envolvendo políticos, traficantes, policiais e imprensa.

O romance de ficção caminha numa linha tênue com a realidade atual vivida pela população brasileira. Tudo acontece em uma cidade fictícia onde a corrupção e a violência têm força bastante para dominar o local e fazê-lo movimentar. Os políticos negociam cargos por meio de grandes quantias; a polícia trabalha em acordo com traficantes e a imprensa deixou de fazer seu papel: não mais trabalha em função da comunidade, mas, sim, na ambição de se destacar divulgando apenas notícias que conquistem as maiores audiências.

A heroína desta vez é a determinada e focada inspetora da Polícia Civil Lana Garcia. A jovem vive pela segurança da cidade e sempre foi capaz de desvendar qualquer crime que lhe fosse colocado. De um jeito único e desconfiada, ela acredita apenas em uma pessoa: O comissário Germano, a quem vê como um mestre. Ao ser colocada para investigar um assassino em série que visa à morte de grandes poderosos de uma emissora nacional de TV, ela se encontra mergulhada em um mundo envolto em um emaranhado de grandes segredos.

Foi em meio ao grande caos de nossa realidade que a autora foi inspirada a escrever essa nova história. Para ela, o livro em questão nasceu da vivência que teve como repórter, oportunidade onde pôde ver mais de perto toda a realidade dos jogos de poder. Em seu texto, ela trata de forma fictícia ações da realidade que refletem no nosso cotidiano, percebendo que estamos vivendo em um espaço onde não devemos mais nos abster de lutar pelo que é correto.

“A obra é uma consequência da realidade, é o fruto de uma necessidade que surgiu e se acumulou durante os anos que trabalhei com reportagem. A realidade brasileira mostra que é preciso se empoderar da cidadania, não há mais espaço para a negligência. A personagem fictícia Lana Garcia, inspetora da Polícia Civil, surge para suprir a passividade onipresente. Ela traça um plano detalhado para salvar a cidade da corrupção e caminha no limite entre a lei e o crime, gerando significados inesperados para a palavra ‘justiça’. É um livro atual, que pontua, por exemplo, a natureza não democrática do foro privilegiado. Garcia conhece a Constituição e o Código Penal e explora as lacunas que hoje ganham destaque nas operações policiais”, relata a autora. 

Devido ao contexto atual do País, Nathalia teve sua maneira de pensar e escrever altamente tocadas por toda uma desordem. No lançamento anterior, “Lavínia: no Limite”, o foco retratava valores. Já em “Cidade Perdida”, ela decide dar voz a uma personagem com maior determinação e coragem para enfrentar de cabeça erguida os desafios e problemas que tentam sufocar a sociedade.

“A Lavínia, personagem principal do primeiro livro, traz questionamentos internos, psicológicos, em relação aos valores da sociedade, já a Lana Garcia questiona as ações e omissões concretas da sociedade. Entendo que a Lavínia é o interno, e a Lana é o externo. Acredito que, hoje, vivemos o ‘fim das ideias’, como afirmou Fukuyama em 1992, e Lana Garcia retrata a vontade de encontrar uma solução. De forma oposta ao primeiro livro, “Cidade Perdida” não trata de valores, mas de uma reação à passividade ultrajante diante da violência”, conta Nathalia. 

A autora aproveita para deixar claro que suas personagens nada têm em comum com ela. A conexão entre a criação e a criadora seria apenas o desejo de lutar por algo melhor.

“Os livros dialogam muito, principalmente porque ambos compartilham o mesmo objetivo: contribuir para melhorar a sociedade. E também são protagonizados por mulheres fortes. As histórias acontecem por causa delas e não o contrário. Lana Garcia, ao se considerar responsável pela proteção da cidade, acaba desenhando o destino dela. Minha personalidade não se conecta a elas, a não ser pela vontade de lutar, porque tenho compromisso com meu tempo e com a sociedade, por isso fui repórter e por isso eu escrevo”, esclarece a escritora. 

Colaborou: Ulisses Dávila