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Em “Oito rotações em torno de Galileu”, sete atores trazem à tona reflexões acerca das relações entre ciência, política e religião

Foto: Divulgação

O Teatro Eduardo Kraichete recebe o fim da maratona de espetáculos da Mostra de Teatro “Contrastes”, da Oficina Social de Teatro, que desde julho vem presenteando o público com peças que falam de amor, ciência, costumes e até corrupção. Nesta quarta (13), às 19h30, é a vez do espetáculo “Oito rotações em torno de Galileu”, no qual sete atores transitam pelo palco para trazer à tona reflexões acerca das relações entre ciência, política e religião. 

“O texto fala do percurso do matemático e astrônomo Galileu Galilei na defesa de sua ideia de que a Terra não era o centro do universo, frente aos preconceitos da alta cúpula da Igreja Católica e da Santa Inquisição. A peça trata deste conflito entre ideias engessadas e falidas e da possibilidade de mudança profunda a partir de uma possível descoberta”, conta Reinaldo Dutra, diretor da peça. 

Durante a apresentação, os atores revezam os papéis entre si, utilizando elementos do teatro brechtiano, como no momento do julgamento final, onde o cientista florentino fica diante da catedral católica.

Segundo o diretor, a narrativa é baseada na obra “A Vida de Galileu”, do famoso dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
“O interesse surgiu a partir da vontade de tratar de assuntos que nos tocam e nos mobilizam, fazendo uma revisão crítica da história trazida por Brecht. As inspirações surgem do próprio teatro brechtiano, com suas possibilidades técnicas e filosóficas. Também nos inspiramos em nossas observações e vivências daquilo que observamos diariamente acerca das questões trazidas”, explica o diretor. 

Lidando com uma estética atemporal, o espetáculo quer mostrar o quão positivo e destrutivo podem ser os movimentos contínuos das ações e dos ideais humanos.

Apesar da peça de Brecht ter sido escrita na década de 30, a história é cada vez mais atual.

“Acredito que as inspirações para a concepção da peça se justificam, principalmente, pelo atual momento político, em que estamos vivenciando uma enorme desvalorização da cultura, da arte e da própria ciência. O grande desafio do elenco é fazer com que o espectador, através do texto, baseado na vida de um grande personagem de nossa história, reflita sobre os conflitos políticos atuais e como ele vem reagindo a isso”, garante o ator Marcelo Lima.

Já na quinta (14), também às 19h30, é a vez da peça “Pra Sempre Fiel”, que conta com a direção de Erika Ferreira e faz uma grande homenagem ao dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. 

“Pra Sempre Fiel” faz uma grande homenagem ao dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues e a seu universo polêmico

Foto: Divulgação

Na montagem são abordados os principais sentimentos que o dramaturgo trazia em seus textos: o ciúme, a cobiça, a ira, a vaidade, o prazer e a hipocrisia. Além dos bastidores da sociedade carioca. 
“O texto é uma colagem de histórias sobre amores proibidos, adultérios e perversões familiares. Trabalhamos com os contos de Nelson Rodrigues e adaptamos as histórias para cada grupo de intérpretes. Expandimos, mas sem perder a essência rodriguiana”, afirma a diretora. 

Nelson acumulava funções, foi jornalista, romancista, folhetinista e cronista, e se destacou como dramaturgo, tornando-se um dos mais influentes do Brasil do século XX, apesar de suas obras terem sido rotuladas como obscenas, imorais e vulgares.

Para o elenco, o processo de criação dos personagens foi marcado pela análise comportamental e ideológica dos personagens vividos nos contos de Nelson. 

“Quando se envolve em um trabalho o nome de uma pessoa pública há, por um lado, uma quantidade de material de estudo amplo e mais acessível, mas também há a preocupação de compreender e respeitar as características marcantes e a identidade do trabalho dessa pessoa e, em casos onde ela também se torna personagem, de sua vida pessoal e personalidade. Antes do início do processo de montagem, houve um momento de estudo e experimentação, onde foram estudados o realismo brasileiro e as obras de Nelson, e, a partir desse estudo, foram elaboradas esquetes baseadas em textos de ‘A vida como ela é’ e ‘Álbum de família’”, conta Ruan Siqueira, ator da peça “Para Sempre Fiel”. 

A peça é uma oportunidade de conhecer a obra de Nelson e fazer uma viagem pelo tempo.

“Em tempos de permissividade, vale a pena reler ou conhecer Nelson Rodrigues, que teve a ousadia de enfrentar uma sociedade pudica, construída em comportamentos sociomoralizantes”, declara Erika.