Um universo bem peculiar

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“O Grande Hotel Budapeste”

Foto: Reprodução

Ele é conhecido por uma série de peculiaridades em seus filmes: paleta de cores artística, simetria, perfeccionismo técnico e artístico, atores e temas recorrentes, atmosfera nostálgica, tipografia e diálogos singulares. Um dos cineastas contemporâneos mais apaixonantes, o norte-americano Wes Anderson acaba de virar tema da mostra “Muito além dos Tenenbaums”, a primeira retrospectiva inteiramente dedicada ao diretor, que fica em cartaz na Caixa Cultural, no Centro do Rio, de 6 a 18 de janeiro. A mostra tem curadoria e produção de Aline Fonte e Rodrigo Fomel.

“Tivemos a ideia para o projeto pois, pessoalmente, admiramos o trabalho dele. Iniciamos as pesquisas e detectamos uma demanda do público. À medida que a pesquisa avançava, percebemos que não era fácil acessar material sobre o autor: seus filmes estão fora de estoque no Brasil, a maior parte dos textos sobre ele são em inglês. Decidimos elaborar a mostra de cinema, com exibição de todos os oito longas e um curta, publicação de catálogo com textos inéditos escritos por autores brasileiros em português, palestras e debates para discutir os pontos fortes de sua obra: arte, música e a essência das histórias narradas”, explica Aline. 

Os longas de Anderson são: “Pura Adrenalina” (1996), “Três é Demais” (1998), “Os Excêntricos Tenenbaums” (2001), “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), “Viagem a Darjeeling” (2007), “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), “Moonrise Kingdom” (2012) e “O Grande Hotel Budapeste” (2014). Os dois da década de 90 são filmes nunca exibidos antes no Rio de Janeiro. O único curta de sua carreira é o raro “Hotel Chevalier”, lançado em 2007. Todos serão exibidos na mostra com entrada a R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia).  

"Os excêntricos"

Foto: Reprodução

“Os maiores desafios foram assegurar as autorizações e os suportes para exibição. Foram meses de contatos nacionais e internacionais, atrás de detentores de direitos e de cópias em 35mm ou em blu-ray. Por fim, conseguimos fechar negócio com duas licenciadoras, cada uma responsável por parte dos títulos, e garantir todos os filmes em blu-ray de alta qualidade”, ressalta Rodrigo, que aproveita para expressar a importância do americano para o cinema mundial. “Ele propõe um cinema de qualidade em sentido amplo. Não prioriza forma preterindo conteúdo. Ao contrário, elabora os elementos audiovisuais em um conjunto bem coeso e, a partir da sinergia desses elementos, surgem os significados que ele busca expressar”.

Já Aline considera Wes Anderson um dos realizadores que contribui massivamente para a inovação da linguagem audiovisual atualmente. Ao mesmo tempo em que sua obra evolui marcando uma assinatura especial, a curadora destaca que ele vai também delineando novas possibilidades para o gênero cinematográfico em si. 

“Ele colabora para o desenvolvimento do cinema enquanto arte. É claro que faz parte de um circuito comercial, mas isso não significa que não pode ser considerado um artista audiovisual. Wes não causa incômodo ou repulsa. Parece que vai além, suavemente além. O resultado é hiper-realista, fantástico, mágico. Imprime coesão, não só no perfeito casamento entre som e imagem, mas também no contexto a que elas se aplicam. As histórias e o tom dos personagens são a tradução conceitual desse modelo de imagem e som. Acho que é por isso que é tão impactante a experiência de assisti-lo”, argumenta Aline.

Desde a concepção do projeto, o objetivo da dupla de curadores e produtores era ampliar as discussões sobre a obra de Wes, abrindo um espaço para o público brasileiro dialogar e pensar criticamente as questões suscitadas pelos filmes. Por isso, a mostra ainda vai contar com três palestras, que serão ministradas ao longo da programação. Dentre os temas discutidos estão a direção de arte na filmografia de Anderson, a psicanálise em sua obra e a importância da música e da trilha sonora em seus filmes. As palestras têm entradas gratuitas, com senhas distribuídas no mesmo dia em que serão realizadas. O público também é convidado para bate-papos com a curadoria para discutir o processo de produção e a proposta da mostra com rodadas de perguntas e respostas, que vão acontecer na abertura, dia 6, e no encerramento, dia 18, sempre às 19h30. 

“Os temas das rodas surgiram da nossa própria percepção sobre o que torna a obra dele relevante: um apuro técnico fora do comum – tanto em termos de áudio quanto visual – associado a um cuidado detalhista com a construção de personagens, e narrativas capazes de trazer à tona subjetividades pessoais e relacionais de maneira sutil e impactante”, analisa Rodrigo. 

A Caixa Cultural – Cinema 1 fica na Av. Almirante Barroso, 25, no Centro do Rio. Telefone: 3980-3815. De 6 a 18 de janeiro de 2018. Programação completa em www.mostramuitoalem.com.br. Preço: R$ 4 (inteira).