Toque de recolher no Catarina

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Após toque de recolher determinado por traficantes que controlam o bairro, comércios não abriram as portas. Nas ruas do Catarina, traficantes montaram barricadas para deter rivais e a polícia

Evelen Gouvea

Um dia após a informação da morte de Schumaker Antonácio Rosário, apontado pela polícia como chefe do tráfico de drogas no Jardim Catarina, atribuída a um suposto comparsa da facção criminosa Comando Vermelho (CV), traficantes do bairro ordenaram toque de recolher. 

Comércios e escolas foram obrigados a permanecer com as portas fechadas no dia desta sexta-feira (26) e os ônibus não circularam pelas ruas do bairro, onde o clima é de muito medo e tensão entre os moradores. Até o fechamento desta edição, o corpo de Schumaker não havia sido encontrado, o que faz com que a polícia não confirme oficialmente sua morte, apesar das evidências.

A Polícia Civil apura informações de que o assassinato tenha sido orquestrado por Thomas Jhayson Vieira Gomes, o 2N, apontado como homem de frente do tráfico de drogas do Complexo do Salgueiro. A Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói abriu um registro de ocorrência com base em informes repassados pelo Disque-Denúncia e também em canais de inteligência da corporação.

A Polícia Civil investiga também a informação da morte de dois supostos comparsas de Schumaker no Jardim Catarina. Seriam eles Ricardo Severo, o “Faustão”, e Diego Júnior de Souza Silva, o Esquilo.

Já a Polícia Militar informou que o patrulhamento foi intensificado no Jardim Catarina, Salgueiro e bairros vizinhos, e que o 7º BPM (São Gonçalo) e o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) ocuparam o Catarina por tempo indeterminado. Viaturas da PM foram baseadas em locais estratégicos para impedir possíveis ataques de traficantes.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) reforçou o policiamento na Rodovia BR-101, próximo aos acessos ao Catarina e ao Salgueiro. A corporação negou uma informação que circulou nas redes sociais dando conta de que as principais vias de acesso aos dois bairros tinham sido fechadas durante a madrugada desta sexta.  

Nesta sexta-feira, as ruas do Catarina ficaram desertas na maior parte do dia. Apenas bandidos em motocicletas eram vistos circulando pelo bairro. Transportes como ônibus, vans e mototáxis foram impedidos de circular. Várias linhas de ônibus alteraram seus itinerários para não circular pela região, deixando cerca de 100 mil pessoas que moram na região sem condução na porta de casa. Muitos enfrentaram sol escaldante e caminharam por quilômetros até pontos de ônibus na BR-101 e na RJ-104, para conseguir chegar ao trabalho.

O clima de medo se estendeu aos bairros Itaúna, Mutuá e Mutuapira, onde escolas também suspenderam as aulas para preservar a integridade dos alunos e de seus funcionários. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que não suspendeu as aulas na Rede Pública Municipal de Ensino. Entretanto, escolas podem ter fechado as portas por qualquer impedimento e ainda deverão comunicar à secretaria através de ofício já informando a data de reposição das aulas. A Secretaria de Estado de Educação não se manifestou.

Clima é de muito medo 

Pelas redes sociais, moradores do Jardim Catarina e bairros vizinhos relataram que estavam acuados e temerosos com o risco de possíveis confrontos entre traficantes. Desde a noite de quinta-feira, após a informação da morte de Schumaker, os alertas começaram a se espalhar em grupos de Whatsapp e páginas do Facebook.

Uma moradora da localidade, conhecida como Catarina Novo, disse que durante a madrugada homens armados passaram pelo bairro alertando para que as pessoas não saíssem de suas casas por conta de possíveis confrontos.

Em outro ponto do bairro, na região da Ipuca, um morador informou que PMs estavam sendo atacados por traficantes armados e que um suspeito teria sido baleado e morto. O 7º BPM (São Gonçalo) não confirmou a informação.

Também nas redes sociais, circulou um áudio atribuído a 2N em que justifica o assassinato, alegando que estava sendo alvo de Schumaker e de seus comparsas. A gravação está nas mãos da polícia e será anexada às investigações.

Clima na região é de tensão e ônibus circularam apenas nas rodovias

Evelen Gouvêa

Dezoito linhas afetadas pelo tráfico

Pelo menos 18 linhas de ônibus que atendem os bairros Jardim Catarina, Salgueiro, Palmeiras e Boaçu tiveram seu trajeto alterado ou deixaram de circular ao longo desta sexta-feira, prejudicando milhares de passageiros, incluindo estudantes e pessoas em tratamento médico. Rodoviários alegam que não puderam trabalhar, ameaçados pela ação terrorista de grupos armados, que infestam essas localidades.

Há pelo menos um ano o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Passageiros de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) denuncia às autoridades de Segurança Pública do Estado a escalada da violência nos municípios de sua área de atuação, principalmente em São Gonçalo e Niterói. No primeiro município, os pontos críticos são o Salgueiro, Palmeiras e Jardim Catarina, na localidade conhecida como Ipuca, no final da Rua 35. 

“Motoristas e cobradores têm sofrido com essa explosão criminosa e muitos foram baleados ou agredidos covardemente por marginais, cujas ações armadas, estratégia por domínio territorial, enfrentamento com os agentes da Lei, dominação das populações residente e visitante, implantação de uma cultura e de regras próprias, já deveria ser suficiente para classificá-los como terroristas”, afirma o sindicato.

Somente este mês, em pelo menos sete oportunidades, ônibus foram atingidos por disparos de armas de fogo e um motorista levou três tiros e encontra-se em tratamento.
“Temos encaminhado todas as denúncias aos órgãos de Segurança Pública, mas a situação está fora de controle há muito tempo. Enquanto isso, o número de rodoviários que procura tratamento psicológico e psiquiátrico no Sintronac, por terem passado por situações de extrema violência, só aumenta. Atualmente, temos 450 motoristas afastados, sem prazo de retorno ao trabalho, por problemas psicológicos”, afirma o presidente do Sintronac, Rubens dos Santos Oliveira.

Schumacker e 2N, antigos desafetos

Schumaker Antonácio Rosário, ou Schumaker do Catarina, e Thomas Jhayson Vieira Gomes, o 2N do Salgueiro, são apontados em investigações das policias Civil e Federal como responsáveis pelo tráfico de drogas no Jardim Catarina Complexo do Salgueiro. Schumaker era alvo de investigações da DH de Niterói, acusado de ser o responsável por várias execuções no Catarina.

Entre as mortes atribuídas a ele está a de PMs que moravam no bairro. Schumaker ainda é acusado de dar ordem para que seus comparsas expulsassem policiais e parentes que moravam no bairro. Já 2N, além de ser apontado como sucessor do traficante Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó, no Complexo do Salgueiro, é acusado de orquestrar ataques contra motoristas de caminhões de carga na BR-101, no trecho da Niterói Manilha.

De acordo com a polícia, Schumaker e 2N, apesar de integrar a mesma quadrilha criminosa, são antigos desafetos.  Os dois são considerados foragidos da Justiça e estão com cartazes no Portal dos Procurados. Como não é considerado oficialmente morto, o Disque Denúncia ainda oferece R$ 30 mil por informações que levem à prisão de Shumaker, considerada maior recompensa oferecida por foragido o no estado.

Violência já fez várias vítima no bairro

Vítima dos recentes casos de violência no Jardim Catarina, que deixaram oito baleados e um morto no último fim de semana, a estudante de 11 anos atingida por bala perdida no último dia 20, durante tiroteio no bairro, será transferida para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Após ser avaliada por junta médica do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, onde está internada, foi identificada uma lesão plexo braquial, que a fez perder parte do movimento da mão esquerda. 

“A paciente hoje está estável. Fora de perigo. Mas foi identificado esta lesão que precisa ser corrigida através de um procedimento cirurgico. Por isso estamos encaminhando a paciente para uma unidade de referência, no caso, o Into”, informaram os médicos. 

A estudante permanece na unidade ao lado dos pais.

“Ela chegou aqui no hospital e foi prontamente atendida. Foi tudo muito rápido. Só temos a agradecer a Deus e a toda equipe do hospital”, disse o pai da estudante, um ajudante de pintor, de 62 ano