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Vocalista da banda UK-OK, Renato Freitas fez show para arrecadar fundos
Foto: Douglas Macedo
Quando o fogo da solidariedade acende em nossos corações, não tem jeito. Buscamos, a todo custo, achar maneiras de fazer do mundo à nossa volta um lugar melhor. E é nesse mesmo contexto que algumas histórias evidenciam o poder transformador que a arte exerce nas realidades, por mais irreversíveis que possam parecer.
Este ano, o bancário Renato Freitas está vivendo um verdadeiro despertar para a obra solidária: “Acho que estou passando por uma fase de progresso mesmo, de parar de ficar me lamentando ou dando opinião, e passar a agir.”
A primeira boa ação de Renato esse ano foi reformar o colégio em que tinha estudado quando jovem. Em um bar, ocasionalmente conversando com a diretora, ele descobriu que a quadra estava fechada há oito anos. Decidiu então pegar o dinheiro que ia usar para uma viagem à Europa e aplicar na reestruturação na escola que, assim como a grande maioria da rede pública de ensino, sofria com a negligência do Estado.
Posteriormente, já satisfeito em ter cumprido sua missão pessoal, Renato mais uma vez é incomodado pelo que ele atribui “à voz de Deus”. No mesmo bar, ele conhece Luciana Pinheiro Rodrigues (34), uma cadeirante que vendia balas enquanto ele se divertia.![]()
Valor arrecadado serve para ajudar a ambulante Luciana a cursar faculdade
Foto: Divulgação
“Sempre quando saía com os amigos, ela passava e eu achava muito triste aquela situação. Mas parecia que Deus batia nas minhas costas e dizia: ‘Você vai ficar aí se lamentando ou vai ajudar?’. Daí um dia eu combinei que, quando ela passasse de novo, uma amiga que estava comigo a chamasse. A minha ideia principal era pagar um curso, ou arrumar um emprego melhor para ela, para que não precisasse mais ficar pela rua o dia inteiro”, comenta.
Conversando com Luciana, descobriu que também era deficiente auditiva, mas mesmo desprovida de qualquer privilégio socioeconômico, ela não deixou de sonhar. Ela deseja cursar Astronomia e fez um pedido muito simples: precisava de aulas particulares de física, química e matemática para conseguir passar no ENEM.
Ao invés de só pagar as aulas, Renato concluiu que seria melhor conseguir um aparelho auditivo para que ela pudesse ouvir. Foi aí que a arte entrou na história. O bancário é vocalista em uma banda de amigos: a UK-OK. Como já estava financeiramente desfalcado por ter ajudado a escola, considerou que a melhor opção seria recorrer a eles nessa nova jornada. Eles toparam de primeira. Foram várias tentativas para conseguir um lugar que cedesse o espaço para o show, muitas sem sucesso. Até que o restaurante A Mineira decidiu ajudar.
“Eles atenderam a todas as nossas necessidades. Não só cederam o espaço, como colaboraram com toda parte estrutural do show - palco, sonoplastia, etc. Claro que muita coisa eu financiei por conta própria, mas a ajuda deles foi fundamental”, lembra Renato.![]()
O escultor Rodrigo Pedrosa há dois anos dá aulas de escultura para crianças carentes do Remanso Fraterno
Foto: Arquivo pessoal
A meta do show era de R$ 1.800, já que Renato havia feito uma ‘vaquinha’ on-line, angariando R$1.500 e também conseguiu a doação dos aparelhos, mas um veio com defeito, tendo que arcar com o conserto, no valor de R$ 3.300.
Outra história inspiradora é a do artista plástico Rodrigo Pedrosa, que há dois anos dá aulas de escultura para crianças e adolescentes no projeto “Acolher Jovem”, do Remanso Fraterno. A instituição contemplava só até o quinto ano do ensino fundamental, até que os gestores começaram a sentir necessidade de continuar acompanhando as crianças que terminavam. Foi assim que surgiu o Acolher Jovem, que oferece oficinas de escultura, música e contação de histórias, com o objetivo de desenvolver habilidades diferentes das que eles vão ter no colégio formal.
Rodrigo conheceu o Remanso através de uma amiga, que voluntariava como assistente da professora de capoeira na época.
“Vim em uma festa e é como eu sempre falo: ‘Quem vem aqui não sai mais’. É uma experiência muito forte. No dia seguinte, eu já estava procurando saber como poderia ajudar”, comenta o artista, que há dois anos dá aula todas as quartas-feiras pela manhã.
“Consigo acessar neles coisas que estão aparentemente perdidas quando eles entram, que é o lúdico, a criatividade, a calma, o contato espiritual deles com eles mesmos”, filosofa o escultor.
Arte solidária
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