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Marli Gonçalves, Marly Barros e Fátima Miranda: exemplos do perfil da mão de obra do segmento

Foto: Douglas Macedo

Seja em loja ou indústria, a realidade é a mesma: há falta de costureiras. É tão raro encontrar este tipo de profissional que mais de 100 mil vagas ainda precisam ser preenchidas em todo o País. Enquanto a maior parte do mercado de trabalho, no entanto, procura contratar pessoas mais jovens, o segmento de corte e costura exige experiência e é composto em sua maior parte por mulheres da terceira idade. A falta de interesse dos jovens pela profissão de tradição compromete o mercado e restringe a mão de obra em indústrias e ateliês.

Os dias podem ser contados em uma área como essa, que carece de renovação de profissionais, e isso preocupa o futuro do mercado de moda. O reflexo disso é que, hoje, no Brasil, a indústria têxtil tem aberto cerca de 250 mil novas vagas por ano. É tempo de valorização do trabalho manual e também de investir na carreira de corte e costura para atender à demanda das indústrias que estão em busca de costureiras qualificadas.

Sandra Maria da Silva, de 58 anos, administra uma loja de reforma e conserto em Icaraí, onde todas as cinco costureiras têm mais de 60 anos.

“É muito difícil encontrar gente jovem. É um mercado a partir de 40 anos. Os jovens querem aprender outras coisas e eu até concordo, mas é uma profissão que, acredito que, daqui a um certo tempo, vai ficar extinta, porque os jovens não querem aprender. Eles não têm paciência”, desabafa Sandra.

Marly Barros, de 76 anos, costura há 56 e, até um ano e meio atrás, trabalhava todos os dias. No entanto, por causa das dificuldades que chegam junto com a idade, agora trabalha duas vezes por semana.

“O corpo já não corresponde, nem a memória. Antes do Natal, entretanto, trabalhei quase o mês todo porque a demanda nesse época é maior”, confirma Marly.

Marli Gonçalves, de 68 anos, por sua vez, costura desde os 12 e, atualmente, é a única pessoa que vai todos os dias em seu local de trabalho.

“Gosto muito do que faço. Cansada a gente se sente, é natural, mas chega em casa, toma um banho, descansa e, no outro dia, já está pronta”, aconselha.

Muitos idosos recorrem à costura como uma renda complementar a da aposentadoria.

“Além de gostar, eu preciso. Porque a gente trabalha tantos anos para se aposentar com um salário mínimo que não da pra você viver, então, você automaticamente sente a necessidade de ter uma outra renda”, lamenta Marly. 

Fátima Miranda, de 64 anos, costura há 20 e acredita que a falta do que fazer tem levado muitos idosos a adoecerem.
 
“Amanhece o dia e anoitece sem eles fazerem nada em casa, não ter uma ocupação, renda... Isso gera doença. Eu amo o que faço. Entro aqui feliz da vida e saio também. Não me vejo sem fazer nada, inclusive, a costura”, defende Fátima, que conta, ainda, que só trabalha uma vez por semana porque, nos demais dias, toma conta de seus netos.

É nas segundas-feiras que a costureira está no ateliê, quando sua filha tem folga no trabalho. Segundo ela, trabalharia todos os dias se pudesse, mas não deixa de praticar o que gosta nem mesmo em sua residência.

“Lá em casa tem minhas máquinas e minha filha, quando me procura e não me encontra fala assim: ‘Pode ir no quarto de brinquedinhos da minha mãe que ela vai estar lá’. Ela chama minhas máquinas de meus brinquedinhos. Pretendo trabalhar até quando tiver fôlego de vida e Deus me der coragem”, brinca.

A maioria dos idosos sofre com a solidão do dia a dia e se manter no mercado de trabalho é uma forma de estarem em contato com outras pessoas, em um ambiente de interação e socialização.  

“Me sinto muito só e, aqui, eu tenho minhas amigas. A gente ri e trabalha. Então, ao mesmo tempo que é um trabalho de muita responsabilidade, também é de muita distração pra cabeça”, releva Marly.