Carinho animal

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Filipe Clavery e Azula, a Zuzu, companheira nas viagens da família que tem chip subcutâneo

Foto: Lucas Benevides


Com tantas idas e vindas, por mais que nunca seja esperado, é impossível ter certeza sobre a duração de casamentos, que podem, inclusive, chegar ao fim de uma hora para outra. Contudo, a relação entre os humanos e seus animaizinhos de estimação cumpre, na maioria das vezes, o “até que a morte os separe”. Isso acontece, pelo menos, há 10 mil anos, quando o cão e o gato passaram a ser domesticados pelo ser humano. Um companheirismo foi cultivado e, pouco a pouco, os tão amados bichos tornaram-se inseparáveis e, para muitos, indispensáveis. Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha, em 2013, aproximadamente 133 milhões de pets divididos entre cães, gatos, peixes e outros pequenos animais. 

Com tantos bichinhos fazendo parte das famílias do País, o mercado pet precisa dar conta da forte demanda dos consumidores animais – não é à toa que a área mantém um constante crescimento, estando imune, inclusive, à crise econômica. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o setor faturou, em 2015, R$ 18 bilhões, registrando um crescimento de 7,6% em relação a 2014.

Contradizendo a opinião de muitos, os gastos com animais de estimação, que movimentam o mercado, não se limitam à higiene. Banho e tosa têm uma boa parcela das vendas do setor, porém, a empresária Sylvia Assumpção conta que o ponto forte de suas vendas está nas roupas para cães e gatos. 

“As pessoas querem vestir bem seus animais. Querem que os bichinhos fiquem graciosos. Assim como lojas de roupas para nós, humanos, eles têm oportunidade, agora, de terem coleções ‘fashion’ à disposição”, explica, acrescentando que a área tem sempre novidades que mexem com a cabeça dos seus clientes. É o que acontece com coleção de primavera-verão para cães e gatos, com biquíni e sunga, que, segundo a proprietária da loja, é bastante vendida. 

Para Sylvia, sempre houve preocupação com a estética do animal. Porém, hoje, a vaidade aumenta essa preocupação, trazendo a necessidade das roupas e acessórios. 

“Antes ninguém se preocupava em vestir seu pet. Usavam, no máximo, uma coleira e, mesmo assim, bem sem graça. Hoje todos querem uma roupa bonita para seu bichinho.

Tenho clientes que combinam com as amigas de saírem com seus cachorrinhos e vêm à loja, antes, para comprar roupa nova para eles. Afinal, os pets não podem repetir o traje”, diz. 

A empreendedora, que tem em seu estoque paletós e, até mesmo, vestidos de noivas para cães, afirma que o “boom” do mercado pet é motivado, principalmente, pelas pessoas considerarem seus animais de estimação integrantes da família. A jornalista Andrea Curi, por exemplo, pinta as unhas da sua cadela Pérola cuidando e enfeitando a cachorrinha, assim como uma filha. Sylvia Assumpção acrescenta que existe, até, chá de bebê, casamento e festa de aniversário para os pets. 

“As pessoas vêm comprar presente como se fosse para um filho. E, na verdade, realmente são filhos. Não importa o preço: o que a pessoa gostar, ela compra para seu pet, sem se importar muito com o custo”, acrescenta.

E é assim que Bartô e Zoé, gatos da maquiadora Érika Aquino, são considerados por ela e pela sua filha Eduarda, de 10 anos. Bartô chegou à vida de Érika após ser adotado, quando ainda era pequeno e debilitado. Após meses de insistência, cuidados e gastos de aproximadamente R$ 320 por mês, o gato cresceu e, hoje, tem costume de pegar sol na praia com sua família, tendo uma vida totalmente saudável. 

“Fazemos isso por indicação do veterinário. Como ele é um gato branco, isso fortalece os pelos e diminui a queda, afinal, quando ele era pequeno tinha problema com os pelos”, explica Érika, enfatizando que, hoje, com a chegada dos bichinhos, tem mais dois “filhos”. Enquanto isso, Boo, o lulu-da-pomerânia de seis anos da Manoela Mendes, encanta a todos, inclusive, nas redes sociais da dona. 

Já os xodós da família da jornalista Marianna Ferreira são Luke, Darth e Valdívia, os três peixinhos batizados pelo seu irmão João Pedro, de 5 anos. Com aquário temático do Bob Esponja, personagem mais famoso do oceano animado, os animaizinhos ganharam um lar por causa do medo de Marianna de dormir sozinha. Além de clarear o quarto, o aquário trouxe a companhia dos pets aquáticos para o dia a dia da família da jornalista. 

“São bichinhos muito frágeis e, por mais que tenhamos todo o cuidado, morrem com facilidade. No início eu chorava quando algum morria. Temos agonia em ver o aquário vazio, então sempre colocamos um peixinho novo no lugar”, conta Marianna. 

Empresária, Sylvia Assumpção investiu no segmento de roupas para animais. Ela tem opções até para ocasiões especiais, como vestido de noiva, peças para chá de bebê e presentes para festas de aniversário

Foto: Lucas Benevides

Mesmo com a grande procura pela moda e farmácia voltadas para animais, a maior fatia do faturamento nacional ainda é do “Pet Food”, que corresponde a alimentos, snacks e bifinhos. O cirurgião-dentista Heráclito Dambyski, de 26 anos, assume que não abre mão de prestar muita atenção nas refeições dos seus cães, Nina e Napoleão, servindo arroz integral, carnes e, até mesmo legumes para os bichos. 

“Me preocupo muito com o que eles comem. Da mesma forma que não gosto de comer a mesma coisa o tempo inteiro, acredito que meus cachorros também não ficariam felizes se comessem apenas ração”, diz Heráclito.

O zootecnista João Victor Macedo, integrante da PetChef, empresa especializada em alimentação natural para animais, diz que, normalmente, as pessoas tendem a pensar que a ração é o alimento mais indicado para os bichinhos. Porém, quanto mais próxima da natural, mais benefícios a comida pode trazer ao organismo. Variar o alimento com proteínas, carboidratos e vegetais – assim como Heráclito faz com seus cãezinhos –, pode proporcionar diferentes fontes de nutrientes, de acordo com o zootecnista. 

A proteína, existente nas carnes, é fonte de aminoácidos responsáveis pela formação de massa magra – músculos – e enzimas, participando, também, da formação de hormônios. O carboidrato, presente no arroz, é a principal fonte de energia do animal. Já os vegetais são ricos em fibras, facilitando o funcionamento do intestino. 

“Os animais comem com mais prazer. As fezes têm menos odor, facilitando a limpeza. O pelo fica mais bonito. E, é claro, a expectativa de vida aumenta, afinal o pet se alimenta de nutrientes mais puros”, explica João Vitor. 

Tecnologia é aliada

Em meio à era digital, o mercado pet também se beneficiou das novidades tecnológicas, levando muitos donos a investir um pouco mais para garantirem a segurança dos seus xodós. O técnico de informática Filipe Clavery, de 35 anos, entrou para o time dos donos preocupados no ano passado, quando decidiu microchipar a sua vira-lata branca de três anos e meio. O “pai dog” da Azula resolveu não correr o risco de perder a cachorra, ainda mais porque ele a carrega por onde vai.

Por meio de um procedimento simples, a microchipagem é a opção quando a preocupação é a perda ou roubo do animal. A veterinária Ingrid Cavalcante explica que, uma vez implantado na região da escápula, via subcutânea, o material biocompatível gera uma numeração para o animal, incluindo um cadastro na internet com os dados dos donos. É possível, com um leitor, ter acesso a esses dados para que possa comprovar a qual família o animal pertence. 

“Não imagino isso acontecendo, mas por precaução eu e minha esposa achamos melhor fazer o procedimento indolor. A pessoa que encontrá-la poderá inserir o código do microchip subcutâneo (impresso em uma placa na coleira) no site que contém um banco de dados internacional com o nome, telefone e endereço dos proprietários. Na falta dessa plaquinha de identificação, somente em uma clínica veterinária com escâner apropriado para ler o dispositivo eletrônico. Nós viajamos muito com a Azula e esse foi mais um dos motivos”, revela Filipe.

A Zuzu, como é carinhosamente chamada, sempre viaja na mala do carro, com cinto de segurança para cachorro, que é plugado na sua coleira e no conector do cinto do banco de trás do veículo.

“Ela adora! Se comporta superbem fora de casa. Faz as necessidades no tapete higiênico normalmente, o que facilita bastante a rotina. Já rodamos com ela de carro quase mil quilômetros em um dia, indo para o interior de São Paulo, onde mora a família da minha esposa. Fazemos algumas paradas para comida, água e necessidades, embora ela durma bastante. Aqui no Rio, já fomos com a Zuzu para Lumiar, Visconde de Mauá, Maromba, Cabo Frio...”, lembra Filipe.