Cool coast, hot coast

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Fotos: Colaboração / Romeu Valadares

Podia ser uma resenha de surfe, mas é de vinho e comida mesmo! Como consequência do aumento de interesse no vinho, o volume produzido no mundo tem aumentado ferozmente. O nível do mar fermentado invade e já ameaça submergir mercados ainda jovens, carentes de estatura. Rótulos moderninhos, cores vibrantes e o que mais nossa vã imaginação nos permitir criar, vale tudo no desespero de flutuar das prateleiras lotadas para a superfície à vista do consumidor. O Rio Wine and Food Festival 2017, na sua quinta edição, encerrou sua semana de atividades no domingo passado (27/08) com um saldo notável, revelou mais vinhos que sempre e teve crescimento de 50% em relação ao ano passado, isso em pleno Rio de Janeiro devastado!

A resposta para os incrédulos está na popularização dos eventos, que, espalhados pela cidade, tocaram o público de forma indiscriminada. Um formato que incluiu degustações pagas em locais privilegiados como o Copacabana Palace, mas que também ofereceu feiras em mercados abertos, com palestras de especialistas totalmente grátis. O Uruguai, o Chile e o Brasil foram destaques nessa edição. A organização Wines of Chile, que trabalha para promover os vinhos chilenos no mundo, realizou sua mostra dentro das atividades do RWFF. No lobby do Hotel Nacional, agora Gran Meliá Nacional, prédio projetado por Oscar Niemeyer, com jardins de Burle Marx e com vista para a piscina, foi montada uma das mais confortáveis feiras em que estive, o mobiliário inspirado nos anos 50, 60 e 70 se encarregou de acolher rodas de enófilos que trocavam experiências sobre os vinhos que mais haviam gostado nas bancas de produtores e importadores. Uma prova às cegas de 60 rótulos revelou os eleitos da feira, o branco escolhido foi o Cool Coast Sauvignon Gris da vinícola Casa Silva, coincidentemente um dos vinhos servidos no jantar de abertura do festival, no Gávea Golf Club. A Cool Coast é uma linha produzida em Paredones, costa da denominação de origem Colchagua, fica entre 8 e 9Km do oceano Pacífico, recebendo assim forte influência marítima. A corrente gelada de Humboldt, somada ao ar fresco vindo do outro lado, onde fica a cordilheira, mantém as temperaturas abaixo de 26 graus mesmo no verão. O enólogo responsável pelos vinhos da Casa Silva é o nosso velho conhecido Mario Geisse, referência no Brasil com seus espumantes da Cave Geisse (outro vencedor em prova cega contra espumantes do mundo incluindo um champagne), mas o Cool Coast Sauvignon Gris não precisa de padrinhos, se impõe no copo, como fez de maneira incógnita no Wines of Chile. Seu parentesco com a conhecida sauvignon blanc procede, mas o açúcar que concentram suas uvas meio rosadas se revela determinante no resultado mais redondo que o “gris” tem, em comparação com o “blanc”. O toque herbáceo, característico do Blanc também está lá, mas sua sutileza é para mim um valor a mais. Levei-os ao Restaurante Sur Le Grill, recentemente inaugurado na Av. Rui Barbosa 158, juntamente com seu irmão de linha, o Cool Coast Chardonnay, disposto a testá-los frente ao ceviche, no caso do Sauvignon Gris e no páreo com a lagosta grelhada na brasa, o chardonnay.

No princípio era o vinho e o que houvesse para comer com ele, que bom que em nosso século dá para escolher o vinho pensando no prato e vice-versa! A acidez que brilha no Sauvignon Gris é fundamental para pratos que também carregam essa acidez como o ótimo ceviche de cherne da casa, com a ressalva pessoal: merece temperatura abaixo da que vem na ficha da Vinhos do Mundo, sua importadora, por sua acidez brilhante, gosto de descer aos 9 graus. O chardonnay, naturalmente mais encorpado, é diferente de muitos vinhos dessa casta que rolam em chips de madeira, só 30% desse passa por barricas francesas, mantendo a integridade de sua fruta e do mel sutil que embala o palato e que combina tão bem com a doçura da carne de lagosta! Belezas de uma costa fria, muito bem-vindas nesta que está prestes a ferver!