Dever em casa

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Billy Graham é gerente de uma empresa carioca de distribuição de materiais de limpeza em domicílio, criada com uma estrutura inteiramente em home office

Foto: Marcelo Feitosa

Em 1996, o filósofo Pierre Levy dedicou uma obra inteira à dissertação da multiplicidade de significados e aplicações acerca do termo “virtual” –  aparentemente simples e corriqueiro para as gerações atuais, e talvez mais presente do que nunca no vocabulário das próximas gerações. Logo no primeiro capítulo de “O que é o virtual?”, Levy introduz o conceito de “empresa virtual” através da seguinte definição: “serve-se principalmente do teletrabalho; tende a substituir a presença física de seus empregados nos mesmos locais pela participação numa rede de comunicação eletrônica e pelo uso de recursos e programas que favoreçam a cooperação”. Para a época, quando os recursos tecnológicos eram “arcaicos” se comparado aos atuais, e o modelo empresarial tradicional ainda era uma das principais forças motrizes que impulsionavam a movimentação da economia global, este conceito não passava de mais uma utopia filosófica. Por pouco tempo. Até que o milênio virou e o homem se viu apto a romper as barreiras do tempo e do espaço por meio de uma infinidade de tecnologias, como ferramentas de acesso remoto, armazenamento de dados em nuvem, e o Skype: a “sala de reuniões” mais frequentada da atualidade.

Para atualizar o público sobre o novo perfil do mercado empresarial, a Spaces – uma empresa de referência mundial quando se trata de coworking – divulgou uma pesquisa em novembro de 2017, que aponta o home office como opção para 55% dos trabalhadores corporativos do Brasil. O estudo foi realizado com 20 mil profissionais em todo o mundo, sendo 900 brasileiros de diversos setores: consultoria e serviços, utilities, tecnologia, entre outros.

O home office é a nova – e, às vezes, necessária – realidade de vários empresários que dedicaram boa parte de suas vidas ao meio corporativo “à moda antiga”. Billy Graham, de 56 anos, foi gerente de suprimentos de duas grandes empresas que atuam no setor naval e offshore durante oito anos. Hoje, vive uma vida totalmente diferente.

“Minha rotina como funcionário convencional não era diferente da grande maioria dos gerentes destes segmentos, estamos ligados 24 horas por dia com notebook e celular, e passamos mais de 12 horas de segunda a sexta dentro do escritório. Mas, o que mais me indignava eram as quase três horas que gastava todos os dias no trânsito”, lamenta Billy, que, atualmente, é gerente da Casa Limpa Inbox, uma empresa carioca de distribuição de materiais de limpeza em domicílio, criada com uma estrutura inteiramente em home office.

“Todos os funcionários e representantes são ‘home office’ e, por isso, são incentivados a pensar livremente. O resultado tem sido muito bom. Se nosso principal objetivo é oferecer comodidade e bem-estar, então começamos dentro da empresa”, resume.

E é para orientar quem quer começar a trabalhar em casa que surgiu o Go Home, que oferece cursos e dicas sobre home office. O site foi fundado por um casal, Marina Brik e André Brik, que decidiram compilar em um mesmo lugar o máximo de informações sobre home office.

“Quando meu marido saiu da agência de publicidade onde trabalhava em 2003 e resolveu abrir a sua própria em casa, percebeu que não havia nenhum material no Brasil sobre o assunto. Então, encomendou vários livros em inglês, leu todos e, depois de aprender os conceitos básicos, resolveu em 2006 criar um site para publicar as informações mais importantes”, explica Marina, que, na época, inspirada pela iniciativa do marido, também começou a trabalhar em casa.

Depois de terem desenvolvido toda uma didática em prol do novo formato de trabalho, eles consolidaram uma filosofia: “trabalho é algo que se faz e não um lugar para onde se vai”. 

“Hoje em dia, trabalhar de casa (ou de qualquer lugar) deixou de ser tendência e passou a ser uma necessidade, especialmente nas grandes cidades, onde o trânsito toma tantas horas produtivas do dia. Além disso, devemos considerar também a atração e retenção de talentos, especialmente os da geração Y, que já não aceitam mais a formatação antiga”, enfatiza Marina.

Apesar de, no primeiro momento, parecer uma decisão 100% vantajosa, é preciso ter alguns cuidados antes de tomar qualquer atitude. Marina explica que, ao desejar o home office, a pessoa tem que saber em que ramo pretende atuar, de preferência que seja algo com o qual já tenha experiência. A partir daí, tudo deve ser encarado com muita maturidade e, principalmente, disciplina.