Donos de casa

Revista
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Tamanha habilidade na limpeza de casa levou Fernando Dugone, que estuda psicologia, a oferecer serviços domésticos.

Foto: Douglas Macedo

Lugar de mulher é na cozinha? Pode ser, e de homem também, assim como a sala, o quarto, o banheiro, a área de serviço. As necessidades da vida moderna estão acabando com as barreiras domésticas e democratizando as tarefas. O fogão, o ferro de passar, o aspirador de pó e o varal de roupas passaram a ser utilizados tanto por homens quanto pelas mulheres. 

Segundo a socióloga Wilma Pessôa, a divisão de tarefas faz parte do processo de desenvolvimento da relação dos seres humanos entre si, que buscam sua sobrevivência no meio natural onde vivem. 

“As diferenças físicas entre homens e mulheres, crianças, jovens e idosos não podem ser abstraídas desse processo, mas ele não pode ser tratado como meramente natural. O modo como ele se deu ao longo da história foi socialmente construído. Relações cooperativas e relações de poder se desenvolveram, a dominação patriarcal – embora não seja a única que surgiu – fundou um padrão que extrapolou a esfera familiar, difundindo-se por toda a sociedade hegemônica”, explica a especialista. 

Nesse sentido, a reprodução desse padrão segue, ainda hoje, um processo que parte da sociedade mais ampla e incide sobre o espaço particular da família: “o homem é formado dentro desse modelo e a mulher também. Ambos ficam submetidos, desde o nascimento, a um controle que lhe dita o comportamento e os valores”, acrescenta Wilma. 

De acordo com dados compilados na publicação de Leonor Rodrigues “Homens, papéis masculinos e igualdade de gênero”, colhidos em uma pesquisa do International Social Survey, um programa de colaboração transnacional em pesquisas, é possível identificar uma grande diferença entre casais mais jovens. O livro revela que a cozinha é o cômodo da vida doméstica onde os homens marcam presença de forma crescente: seja dividindo tarefas, seja assumindo a responsabilidade.

O estudo revelou que as tarefas relacionadas ao preparo de refeições são as mais divididas: mais de um quarto dos casais jovens compartilham as colheres de pau e panelas. E o homem que cozinha sempre ou habitualmente está presente em 12% destes casais - o dobro em relação ao total de casais da população mundial.

É o caso do professor Victor Rodrigues e sua esposa, a engenheira Mariana Telles. Na relação, é ele quem acorda todos os dias às 4h30 e prepara o café da manhã para os dois. Ao longo do dia, o almoço e o jantar também ficam por sua conta. Casados há um ano, a divisão de tarefas está presente na relação desde o início do matrimônio. O fogão é, desde então, responsabilidade de Victor, principalmente por sua esposa não saber cozinhar. Por chegar mais cedo em casa durante a semana, lavar as roupas e o banheiro são outras atividades assíduas na rotina do professor. 

“Sempre achei a ‘imagem patriarcal’ errada. Homem nunca foi melhor que mulher. Pelo contrário: por serem donas de casa e, ao mesmo tempo, trabalharem fora, acho as mulheres bem mais capazes que muitos homens. Creio que esse papel do homem vem sendo trocado ao ter em vista que muitas mulheres acabam recebendo mais e têm mais responsabilidades financeiras dentro de casa”, opina Victor, acrescentando que, constantemente, incentiva seus amigos a dividirem as obrigações domésticas com suas esposas. Para ele, a ideia de que mulher precisa fazer tudo e que homem não pode fazer nada é completamente errado. 

“Quando é dividido entre os dois, não fica pesado para ninguém. Hoje em dia, geralmente, os dois trabalham, os dois têm seus compromissos. Pode ter certeza: a mão não cai”, brinca o professor. 

Sustento

Há, também, os homens que transformam suas habilidades domésticas em negócios. O estudante de psicologia Fernando Dugone aproveitou suas aptidões em tarefas do lar e, hoje, oferece serviços considerados domésticos: faz consertos elétricos e estruturais de uma casa e, até mesmo, faxinas pesadas. 

“Meus amigos sempre disseram que eu tinha talento, que minha faxina era boa. Por incentivo deles comecei a oferecer serviços. Com esse trabalho, consigo manter minha casa, minha faculdade e posso, inclusive, me manter no meu estágio que não é remunerado”, conta Fernando, que também dá conta de cuidar da própria casa.