Los Hermanos

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O argentino Julián Manuel e a brasileira Isadora Gold, que se conheceram em 2014, na Praia de Copacabana, são namorados desde então

Foto: Arquivo Pessoal

Em grandes arquibancadas, é possível ouvir discussões acaloradas sobre a maestria no futebol, que alimenta há decadas uma rivalidade entre Brasil e Argentina: Lionel Messi ou Neymar Junior? Pelé ou Maradona? Apesar da rivalidade no futebol ser algo que já faz parte do imaginário de ambos os países, a rixa entre nós e nossos hermanos começa muito antes das estrelas polêmicas do futebol. No Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, a disputa foi entre Portugal e Espanha, mas serviria como ponto de partida para os próximos episódios históricos que colocariam Brasil de um lado e Argentina de outro. Já no século XIX, ainda com uma relação fragilizada, o Brasil Imperial e as Províncias Unidas do Rio da Prata – nome da Argentina anterior à primeira constituição – começaram uma guerra pela Província Cisplatina, que mais tarde se tornaria o Uruguai. 

Apesar disso, hoje, a rivalidade existente entre os dois maiores países da América do Sul não impede que brasileiros e argentinos tenham uma ótima relação. Até na política a rixa parece estar bem mais branda. Celebrado no dia 30 de novembro, o “Dia da Amizade Argentino-Brasileira” nasceu quando os então presidentes da Argentina e do Brasil, Néstor Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram em 2004 a Ata de Copacabana, que instituiu a data comemorativa que relembra o encontro, neste mesmo dia em 1985, entre os presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em Foz de Iguaçu. 

Ao conhecer Julián Manuel Rodriguez, de 22 anos, na Praia de Copacabana, durante a Copa do Mundo, em 2014, a estudante brasileira Isadora Gold, de 23 anos, conta que o que mais chamou sua atenção no argentino foi sua calma e respeito, algo que, de acordo com ela, não estava acostumada a ver em outros garotos brasileiros.

“Ele é muito cavalheiro. No último dia dele aqui no Brasil, me disse ‘te quiero’ e chorou quando nos despedimos. A partir de então, nos falamos todos os dias. Depois de alguns meses, fui para a Argentina. Entramos, então, numa relação onde nos vemos de quatro em quatro meses e ficamos juntos durante um mês”, explica a brasileira. 
Para Isadora, a rivalidade com os hermanos é mais explícita no futebol. Ela conta que, na Copa, depois do jogo entre Argentina e Alemanha, Julián ficou dois dias sem falar com a brasileira por ela ter dito que Messi não merecia ganhar o prêmio de melhor jogador. Isadora acrescenta, ainda, que, sempre que tem um “Brasil x Argentina”, é briga certa entre o casal.

“Apesar de sempre criticar a Seleção Brasileira, não posso falar nada da Argentina, nem com ele, nem com seus amigos. Aliás: estão sempre implicando comigo. Na época do 7x1 foi horrível e, até hoje, eles não esqueceram disso. Lembram até mais que nós, brasileiros”, explica.

Para o brasileiro Alexandre de Oliveira, que há dois anos namora o argentino Federico Dasso, a rivalidade entre os dois países é mais perceptível entre os tupiniquins.
“Os argentinos acabam gostando muito de nós. Nossa cultura, nossa música, nosso samba, nossa praia. Eles querem mais nos conhecer e nós acabamos marcando ainda mais essa rivalidade”, argumenta Alexandre.

Por não gostar de futebol, o casal se manteve imune à rixa clássica. Contudo, outras questões complicaram o início do relacionamento.

“Quando conectamos duas pessoas com culturas, línguas e formações diferentes, temos que entender que estão acostumados a comer, beber e se relacionar com outras pessoas de formas diferentes também. Demoramos um pouco para encaixar nossos gostos. Discutimos, mas vimos que tínhamos que superar essa diferença e construímos um relacionamento mais saudável, escolhendo o meio termo: o que agrada tanto a ele, quanto a mim”, acrescenta. 

Hermana Mafalda

Em abril deste ano, a relação entre Brasil e Argentina se estreitou ainda mais. O Centro Cultural Brasil-Argentina, em Buenos Aires, foi palco do encontro entre dois dos principais cartunistas contemporâneos da América Latina: Maurício de Souza e Joaquín Lavado, o Quino, criador da emblemática Mafalda. 

Na ocasião, o brasileiro desenhou sua personagem mais famosa, a Mônica, junto com a estrela de Quino e presenteou o centro cultural que, hoje, guarda a obra em seu acervo. Mesmo sendo amigo há muito tempo de Maurício, Quino lamentou a “pouca interação que existe entre cartunistas dos dois países”. No evento, o brasileiro afirmou que gostaria de voltar a publicar quadrinhos da Mônica na Argentina, assim como fez nos anos 80.