No trabalho e no amor

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Carlos e Rosangela Garcia dividem os trabalhos na empresa de bolos que é uma das maiores da cidade

Foto: Lucas Benevides

De acordo com pesquisa do International Stress Management do Brasil (Isma-BR), casais que trabalham juntos têm uma relação mais agradável e são mais compreensíveis. O estudo aponta que 80% dos casais entrevistados que trabalham juntos lidam melhor com as angústias e com a carga horária do companheiro. Em contrapartida, apenas 37% dos parceiros que trabalham em organizações diferentes têm a mesma estabilidade na relação. 

A história de amor de Rosangela, de 62 anos, e Carlos Garcia, 67, já tem 40 anos. E há 27 eles dividem, também, a profissão de boleiros. Juntos, criaram a empresa “Casal Garcia Bolos”, uma das mais reconhecidas grifes de bolos e bem-casados da cidade. 

“Sempre gostei muito de fazer bolos e doces. Recebia todos os meus amigos em casa com um pedaço de torta. Fazíamos um chá da tarde na igreja uma vez por mês e minha responsabilidade era levar uma torta. Até que começaram a falar que eu deveria vender e resolvi fazer isso. Quando fui ver, já estava fazendo 60 tortas por dia”, relembra Rosangela.

Após sua aposentadoria, Carlos, que já ajudava a esposa nos preparos das tortas, decidiu se dedicar integralmente aos bolos artísticos. 

“Nosso sonho era fazer bolo de casamento. Íamos para festas e ficávamos admirados, e falávamos que, um dia, trabalharíamos com aquilo. Ele era gerente financeiro de uma empresa e, todo fim de semana, me ajudava com as encomendas, como um bom marido, sempre ao lado da mulher. Até que acabou se encantando pela confeitaria”, conta. 

Na empresa, Carlos se dedica a montar o bolo, faz todo o design. Já Rosangela fica responsável pela massa e recheio.
“É maravilhoso poder trabalhar com o meu marido. Só conhece essa sensação quem passa por ela. O amor e o respeito que temos um pelo outro são as coisas que nos sustentam. O Carlos respeita a opinião que dou em relação ao trabalho que ele está fazendo. Assim como eu, também respeito quando ele me aconselha a seguir um caminho”, conta Rosangela. 

Os artistas plásticos Marlon Amaro e Cibelle Arcanjo dividem o mesmo ateliê em Icaraí

Foto: Lucas Benevides

Juntos há 10 anos, o casal Cibelle Arcanjo, de 25 anos, e Marlon Amaro, 30, se conheceram em um projeto social que atuava nas duas comunidades onde os dois moravam, ela no Preventório e ele no Morro do Estado. Foi neste momento que perceberam que tinham muitas questões em comum, mais até do que imaginavam. 

“Nunca planejamos de fato trabalhar juntos. Nós dois sempre tivemos interesses muito parecidos em termos de carreira/ofício. Antes de se conhecer, a gente já amava desenhar, gostava das mesmas músicas e tinha angústias muito parecidas com relação ao mundo. Até a vivência de morar dentro de comunidades desde que nascemos. Então nos conhecemos, prestamos vestibular para o mesmo curso, o de Belas Artes na UFRJ, passamos e estudamos juntos. Agora no fim da graduação, com a possibilidade de reduzir e dividir custos, decidimos dividir um ateliê em Niterói, na Babel 08. Um não atrapalha o outro, então acontece naturalmente, e tem dado super certo”, garante Cibelle, que, junto com Marlon, criou o Aletier de Pinturão no espaço em Icaraí.

Ao longo dos anos, os artistas vêm se adaptando e conhecendo a particularidade de cada um. 

“Como o espaço é pequeno e cada um tem seu próprio processo criativo, acabamos tendo cuidados para um não atrapalhar o outro. O Marlon é mais bagunceiro em algumas coisas, em outras eu que sou. Por exemplo: ele gosta de espalhar o material dele e ir deixando. Eu já sujo mais o espaço com tinta, mas, como estamos no mesmo espaço, ele se espalha menos e eu cuido pra não respingar tinta por todo o canto. Aí os dois trabalham e no fim do dia arrumamos a bagunça antes de sair. Cuidamos sempre pra deixar tudo organizado para o próximo dia de uso. Separamos o material, cada um tem seus pincéis, suas tintas e compartilhamos aqueles que não vão atrapalhar o outro quando formos usar. No fim, o maior desafio é chegar a um meio termo que seja confortável pros dois”, diz Cibelle.

Para o casal, trabalhar junto significa se colocar no lugar do outro com paciência e coração aberto para ceder em algumas situações, para que tudo possa funcionar da melhor forma. Já que, em uma parceria, os dois estão lado a lado e têm o mesmo poder.

“Uma dica pra quem quer trabalhar junto é saber unir interesses e abrir mão em prol de objetivos comuns, pois o estresse das discussões pode não terminar no trabalho e continuar em casa e isso pode ser fatal num relacionamento. Como parceiros, temos que saber abrir mão do nosso jeito pessoal de resolver as coisas. Temos que decidir juntos o rumo dos negócios e saber que, nessa parceria, os dois têm pesos iguais nas decisões. Isso não será uma tarefa fácil, mas talvez seja o caminho mais saudável para a vida do casal em casa e no trabalho”, aconselha Marlon.