O genial pato

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O genial pato

Foto: Divulgação
 

Engenheiro químico e enólogo, o português Luis Pato colocou sua região, a Bairrada, no mapa mundi dos vinhos de qualidade. Herdou do pai a inquietude dos revolucionários. Enamorou-se por sua terra e conduziu a uva baga pela mão, como quem leva uma criança brilhante e rebelde pelo caminho da verdadeira educação, conduzindo para revelar o brilhantismo sem suprimir o caráter.

Algum exagero? Perguntem aos ingleses. Lá, Luis é conhecido por Mr. Baga. Se preferirem, peçam um de seus vinhos no Japão, ou nos mais de 20 países onde eles são reverenciados e estão à venda. Por último, se ainda se lembrarem do tempo em que a aprovação de Robert Parker era decisiva, nas contas de RP, o LP é o melhor vinho de Portugal. 
Em 1980, elabora seu primeiro vinho, marcando gol de placa logo ao entrar em campo. E empreende uma revolução com o uso de carvalho francês de primeiro uso e a decisão de plantar em “pé franco” (sem enxerto) para resgatar a história dos vinhos que existiam antes da praga da filoxera, que dizimou vinhedos no final do século XIX, e obrigou a vitivinicultura a se reinventar usando as vinhas de uvas americanas (imunes à praga) como “cavalo” para receber o enxerto de vinhas viníferas.  
Hoje, a Adega produz em torno de 30 rótulos. Esse Luis não sossega! Suas criações merecem ser apreciadas e é preciso espaço no papel para enumerá-las. Melhor seria tê-las todas na adega de casa, mas elas têm o péssimo hábito de se esvaziarem rápido demais...

Falemos, então, da surpresa do Abafado Molecular Rosé. Abafado é o termo usado para designar a interrupção da fermentação por resfriamento. E se as leveduras morrem, param de consumir o açúcar do vinho. O resultado é mais uma estripulia do Luis! Nem sou fã dos vinhos mais doces, tirando o Porto, o Madeira, o Moscatel de Setubal, o Tokaji, o Sauternes, o Passito de Pantelleria e o Jerez. Nem ligo tanto para os outros, mas a cor desse abafado, abafa. É hipnótica! 

Seu Luis, o que o senhor pôs ali? Técnica e domínio da baga, pureza, o frescor, a acidez... Sei lá... Acho que é um vinho para servir no “chá das cinco” da rainha, com um bolo de frutas que os ingleses fazem tão bem, com aqueles scones recheados de geleia de framboesa e queijos, queijos sempre. 

Se existem frutas vermelhas no céu é assim que elas se manifestam, soltas nesse Abafado Molecular Rosé. Ah... e antes que eu me esqueça, o detalhe no rótulo, que parece uma taça, na verdade é uma homenagem à mulher brasileira e seus belos biquínis. Só mais uma coisa: por favor, não sossegue não, Sr. Luis Pato!