Orgasmo mental

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A carioca Taíssa Rubim é ASMRtist desde 2013

Foto: Arquivo Pessoal

Sigla para “Autonomous Sensory Meridian Response” – “Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano”, em português, – o ASMR surgiu na internet em 2010, através do compartilhamento de vídeos que propõem produzir sensações agradáveis, de prazer e conforto, e, na maioria das vezes, objetivam garantir o sono dos espectadores.

Os vídeos têm o formato dos tradicionais vlogs, só que compostos de sussurros, pequenos atritos produzidos por objetos e sons suaves feitos com a boca, tudo bem próximo ao microfone.

A carioca Taíssa Rubim, de 29 anos, é ASMRtist – nome dado aos performers do ASMR – desde 2013, e, de lá para cá, alcançou mais de 700 mil visualizações. Ela conta que seu público está espalhado por todo o mundo, mas é 92% brasileiro.

“Os meus espectadores variam entre 18 e 35 anos. Costumam demonstrar muita gratidão por ajudá-los a dormir, acalmar, melhorar um estado depressivo e ansioso. Geralmente eles pedem vídeos longos e com muitos sons emitidos pela boca”, revela Taíssa, que conta que o ASMR pode ser estimulado através de gatilhos estratégicos respondidos de formas diferentes pelos espectadores. Através dos comentários, ela busca descobrir qual gatilho leva mais resultados para os espectadores, considerando os sons e movimentos emitidos, além de imagens diversas.

Os vídeos propõem produzir sensações agradáveis, de prazer e conforto, com o objetivo de garantir o sono dos espectadores

Foto: Reprodução da internet

Ela desenvolveu a vontade de fazer os vídeos após ter comprovado a eficácia em si mesma. 

“Eu conheci o ASMR através do meu irmão, que me indicou quando me viu muito angustiada assim que desenvolvi transtorno de ansiedade generalizada. Como a terapia foi muito eficaz pra mim, resolvi criar vídeos de ASMR voltados para pessoas com distúrbios psicológicos e ajudá-las a sair dessa, como eu saí”, lembra.

 Mesmo não existindo comprovação científica da real ação fisiológica do ASMR, a neurologista Isabella D’Andrea explica que existe uma forte relação entre o nosso cérebro com o que vemos e ouvimos.

“O cérebro funciona de forma integralizada, e as imagens e sons que percebemos no mundo são processados em várias regiões. Uma delas é o sistema límbico, que também tem relação com nossas emoções. Portanto, sons e imagens podem nos remeter a situações tanto de prazer e relaxamento como de medo e angústia”, define a médica.

O som dos vídeos é gravado com um microfone com função binaural – que simula as duas orelhas – e torna a sensação de proximidade com o ASMRtist a mais real possível. A médica explica que, apesar de algumas controvérsias, existem estudos que apresentam modificações em algumas faixas de frequência no eletroencefalograma durante a exposição a esses sons.

Contudo, com relação aos vídeos, ela diz que a princípio não existe nenhuma evidência científica que comprove algum efeito deles sobre o organismo e também não há nada que indique que sejam prejudiciais. 

Os vídeos têm o formato dos tradicionais vlogs, só que compostos de sussurros e pequenos atritos produzidos por objetos próximos ao microfone

Foto: Reprodução da internet

Com o crescimento da quantidade de canais voltados especificamente ao ASMR, houve também o crescimento da variedade de estilos, temáticas e elementos presentes nos vídeos. É possível ver ASMRtists protagonizando situações que só aconteceriam em relações interpessoais, como carinho, a leitura de um livro, incentivo emocional, ou até fingindo possuir algum vínculo com o espectador, se apresentando como amigos, namorados. 

Para a psicanalista Virgínia Ferreira, isso se configura como mais um artifício natural dos valores que regem as sociedades pós-modernas. Tudo é impessoal.

“No ASMR, não há nem relação nem interação com o outro, que é um mero desconhecido. Apenas esse desconhecido, através de imagens de seu próprio corpo e sons (via de regra, sussurros), que provoca e captura os sentidos, sobretudo, a visão e a audição. Ao capturar os sentidos, o espectador ‘entra na cena’, fantasia, fica como que num estado de hipnose, sob o domínio de um desconhecido que o capturou, como um pescador que lança uma rede ao mar”, conclui Virgínia.