Palco da maturidade

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Apresentação da oficina de teatro da UFF no Centro de Niterói

Foto: Divulgação

A terceira idade pode ser a época de descobertas para muitos idosos, que, com muito tempo em mãos, encontram faces de sua personalidade que não conheciam e até novos talentos, que por algum motivo não desenvolveram durante sua juventude. Uma dessas paixões é o teatro, ofício que encanta muitos senhores e senhoras pelos palcos. 

Um exemplo é o de Maria Helena Barrozo Laissance, de 73 anos, que há 17 participa de uma oficina de teatro para idosos realizada pela UFF, no UFF Espaço Avançado Trabalho Social com Idosos, no campus Gragoatá.
 
“Entrei quando tinha perdido membros da família e estava muito chateada. Uma amiga insistiu muito para que fosse com ela e acabei indo. No começo, ficava com medo, mas, depois, comecei a fazer várias peças. Carmem Miranda, Charles Chaplin... Até hoje, já interpretei 12 personagens”, conta a aposentada, que hoje também canta nos saraus da oficina e até comemora seus aniversários lá. 

“Quando criança, a gente fazia muito teatrinho religioso, coisa de menina de 11, 12 anos. Sempre tive vontade de fazer uma coisa diferente, uma coisa que brilhe, mas não tinha oportunidade. Antigamente, a gente não podia aprender jazz, sapateado, que os pais não deixavam. As moças eram criadas pra se formar, casar e ter filhos, e não pra ter carreira artística”, explica Maria Helena, que diz também sempre ter gostado de multidão, de estar no meio das pessoas, de festa, de aplausos. 

Ela conta, ainda, que já acorda animada em dia de ir para a oficina, se arruma e escolhe uma roupa bonita. 

Leitura de clássicos faz parte dos encontros

Foto: Lucas Benevides

“O que eu mais gosto no teatro é de treinar com as amigas, de conversar com a professora, que é jovem e alegre, e trata a gente muito bem. Antes do teatro, a gente faz algumas brincadeiras pra descontrair, e aquela troca de conversa é muito boa. Hoje em dia, a gente nunca tem tempo de conversar com ninguém, não conhece ninguém. Lá no prédio, por exemplo, tem um monte de idoso, mas ninguém se conhece, é só bom dia, boa tarde. E lá não, lá você conhece e interage com todo mundo”, aponta ela. Além disso, ela reforça a importância de ser ativo e se divertir na terceira idade, pois isso dá vida à criança que existe dentro de todos.

“A gente vai muito nos asilos de idosos, às vezes tem gente da nossa idade que não consegue fazer nada, acha que ficou velho e fica num canto sentado. A gente vai e as pessoas veem e começam a gostar do teatro, se incentivar, e vão até se matricular”, explica.

Maria Aparecida Severino, que faz aula de teatro há 9 anos, conta que se emociona quando vai se apresentar para outros idosos.

“A gente apresenta às vezes pra outros idosos, que estão em asilos, casas de repouso. Muitos deles não têm a mesma condição que a gente, não podem fazer as coisas sozinhos. E a gente vai lá levar um pouco de alegria pra eles, e isso até me emociona, é muito bonito”, confessa. Ela ressalta a importância da prática do teatro principalmente para a memória, dizendo que, se o idoso ficar parado, sem fazer nada, a tendência é piorar a memória.

A professora de teatro Beatriz Venâncio explica que, por se tratar de uma atividade voltada para idosos, são necessários alguns cuidados. 

“O cuidado deve ser em relação aos exercícios de oficina, que precisam ser apropriados para a capacidade física dos participantes. Mas a atividade acontece como em qualquer outra oficina”, explica, afirmando que o objetivo é o uso da linguagem teatral para uma maior qualidade de vida. 

Rosalina Rodrigues Santiago, de 77 anos, é outra que desenvolveu uma paixão pelos palcos de forma tardia. 

“Pro grupo em si, teatro é vida! Tanto que as faltas acontecem só quando estão realmente doentes, e não podem ir de jeito nenhum. Minha vida realmente é o teatro”, aponta a professora aposentada, que também tem um buffet. 

“Minha vó sempre me contava que, desde pequenininha, eu brincava de professora com as bonequinhas que ela fazia de pano, já gostava dessa coisa de representar. Eu gosto de aparecer. Falou em aparecer, em brilhar, é comigo mesmo!”, completa ela.