Para as dores do coração

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Mari Ramos publica o seu primeiro livro, o “Manual do Coração Partido”

Foto: Divulgação

A carioca Mari Ramos, acadêmica de Literatura Brasileira pela UFRJ, precisou mudar sua concepção do que é ser uma escritora, para, então, publicar o seu primeiro livro, o “Manual do Coração Partido”, lançado na Bienal Internacional do Livro pelo selo Best Seller, da Editora Record. Em sua estreia como autora, Mari ensina a passar por uma desilusão amorosa com mais leveza e humor, e garante: dor de cotovelo tem fim.

Esse é o seu primeiro livro. No entanto, você é próxima da literatura há algum tempo. Além de ser professora de Literatura Brasileira, participou de um grupo literário de escritores latinos no exterior e tem um blog de crônicas do mundo feminino. Escrever um livro sempre foi um desejo?

Sim e não. Escrevo desde criança, mas sempre achei que precisava criar algo tão incrível quanto “Perto do Coração Selvagem”, da Clarice Lispector, para ser considerada uma escritora. Mudei minha perspectiva do que era literatura apenas recentemente e, aí sim, entendi que existe qualidade e valor em todo tipo de escrita. Foi quando comecei a ter coragem de mostrar o que escrevia para as outras pessoas. 
 
De onde nasceu a ideia de escrever um livro que aborda um tema delicado e  dramático como a desilusão amorosa, mas com uma pegada mais leve e divertida?

Saiu de uma conversa de bar, acredite se quiser! Morei três anos na China, como professora de língua portuguesa e literatura brasileira e, quando me reunia com meu grupo de amigos de diferentes nacionalidades para tomar chope sexta à noite, esse assunto tomava 95% do nosso tempo! Eu via a necessidade das pessoas compartilharem sobre o tema, fosse para rir ou para chorar. Achei que era um assunto que, se tratado de maneira divertida, mas ao mesmo tempo delicada, poderia ajudar muita gente a se sentir menos sozinha na solidão da dor de cotovelo.
 
Que mensagem você espera passar para os leitores?

Que sofrer, apesar de ser inevitável, pode não ser uma experiência tão desagradável e solitária quando você abre seu coração para o humor e a leveza que existem até nas coisas mais tristes da vida. E que a dor de cotovelo tem fim!

As dicas descritas no “Manual do Coração Partido”  são baseadas na sua própria vivência ou na observação das relações ao seu redor?

Nas duas coisas. Há muito das minhas experiências, mas achei que ficaria mais interessante se eu compilasse várias histórias e relatos de outras pessoas, amigos e amigos de amigos. Não queria fazer um livro sobre minhas experiências, mas focado na dor do amor de uma maneira geral e sob várias perspectivas. 

Capa da obra “Manual do Coração Partido”

Foto: Divulgação

Vi uma crítica em que um internauta questionou a escolha de dar dicas para sair do fundo do poço e não para não chegar ao fundo dele. No entanto, você acha que alguém está livre deste “mal”, principalmente nesse tempo de relações líquidas?

Não acredito em autoajuda de anestesia. Acho que sofrer é inevitável, e o livro aborda exatamente essa perspectiva: viver seu fundo do poço de maneira saudável e até mesmo divertida, por que não? Se eu escrevesse um livro chamado “Como nunca sofrer e não chegar ao fundo do poço”, certamente estaria rica. 
 
Nesse cenário, no Brasil, inclusive, o número de divórcios ao ano cresceu 160% nos últimos 10 segundo o IBGE. Por que é tão difícil manter um relacionamento duradouro nos dias de hoje? 

Olha, essa é uma pergunta difícil. Acredito que as pessoas, hoje em dia, têm mais liberdade e podem optar mais, para tudo na vida. Onde moram, com quem vivem, etc. Mulheres ganharam mais liberdade para optar, isso mudou tudo. Temos uma visão muito romântica do passado também. Minha avó, por exemplo, ficou casada muitos anos não por amor, mas porque não podia se divorciar naquela época, por questões financeiras e sociais. Por outro lado, as novas gerações são muito mais individualistas e imediatistas. As pessoas, antes, se pensavam como parte de uma família: sou mãe, sou pai, sou filho. Hoje, esse pensamento é muito mais diluído, você busca sua felicidade e o que vier pelo caminho é experiência. 

Você é carioca, mas já morou em lugares culturalmente distintos: Londres, Argentina, Costa Rica, Bali e Havaí. Você pôde observar que este comportamento frente a um relacionamento amoroso e ao término é universal ou recebe influências culturais?

Certamente é uma temática universal. O conceito do que é amor muda, mas a importância dele na vida das pessoas acho que é praticamente a mesma. É a questão básica do sujeito: queremos amar e ser amados. Quando não somos, há sofrimento. A forma de lidar com o sofrimento, no entanto, varia. Morar em uma cidade como Londres me mostrou o lado divertido da vida de solteira, por exemplo. Já no Oriente, em um país tradicional como a China, ser solteira aos 35 parecia para eles uma aberração, mesmo em Xangai. Mas o número de divórcios lá também é crescente e o tema circula nas rodinhas de amigos sempre.

Você acredita que realmente é possível amar novamente após uma grande desilusão amorosa?

Sim, sim e sim! Por isso acredito na importância do sofrer: porque quando se lava a alma no choro por algum tempo, você depois está pronto para outra!
 
Ouvi dizer que você já faz planos para escrever um segundo livro. Pode adiantar se ele também vai abordar o universo dos relacionamentos amorosos? 

Dessa vez, estou preparando um romance, que também terá as relações amorosas como um dos principais temas.