Para um ano novo mais simples

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Eu vou torcer para que a gente se ame mais. Para que a gente se cuide para conseguir estar pronto uns para outros. Para que a gente não maldigue o nome de ninguém, nem mesmo quando acharmos que o outro merece. Para que a gente entenda que perder é só um ponto de vista e que podemos – como já foi dito e é bonito – aprender ou ganhar. Perder não. Para que a gente olhe com mais doçura para o mundo e entenda o copo meio cheio ou meio vazio, tanto faz, mas que isso não nos impeça de agir com solidariedade e bondade com nós mesmos.

Eu vou torcer para que a gente tenha o que deseja, mas que aprenda a desejar um pouco melhor. Vou torcer para que a gente ganhe paciência, sabedoria, obstinação. Para que a gente não passe por cima de ninguém e entenda as próprias limitações e limitações do outro com generosidade. Vou ficar aqui torcendo para que a gente não se esqueça de que não há ninguém para nos livrar das nossas próprias inundações ou tempestades. Se quisermos chamar de karma, justiça divina ou lei do retorno, tudo bem. Mas que a gente não entregue ao outro a missão de nos desafogar. Algumas coisas são com a gente. Assumamos o risco.

Eu vou torcer também para que a gente tenha mais motivos para sorrir. Que a gente aprenda a desarmar pessoas, que a gente aprenda a ter um coração desarmado também. Que a gente compreenda que só há um tempo em que podemos viver, então que a gente viva um tanto melhor, sem pensar tanto no ontem e no amanhã, Que a gente se angustie menos e aprenda a dissolver nossas mágoas e nós. Que a gente entenda que não há muito a se fazer em relação ao outro, mas que podemos fazer muito em relação à interferência dele nas nossas vidas. Que a gente se lembre do exercício duro e contínuo que é ouvir, se ouvir, respeitar e se respeitar. 

Estarei daqui torcendo pela nossa capacidade de respeitar nosso tempo. Respeitar as coisas que sentimos, seja alegria ou tristeza. Que a gente não se cobre exaustivamente, como se precisasse alcançar algo que todo o mundo alcançou. A única coisa que precisamos almejar com afinco é a capacidade de entendermos a nós mesmos como aprendizes. Não corra tanto assim, não suba a montanha, como disse outro dia, sem apreciar a vista, sem olhar o caminho, sem se orgulhar do percurso. Tudo o que você é e tem, de alguma forma, em algum momento você desejou. 

Eu vou torcer para que a gente não desperdice a própria energia. Que a gente a use para coisas benéficas, para nós e para o coletivo – não há como fugir do coletivo. Que a gente a preserve, assim como fazemos com uma bateria de telefone quando sabemos que vamos precisar mais tarde. Vou torcer para que cada um – à sua maneira – aprenda a recarregar, reenergizar. E que a gente não imponha essa forma aos outros como se fôssemos o próprio messias encarnado com a fórmula da salvação e da felicidade. Que a gente entenda a nossa importância, unicidade, particularidade. Quando assim for, estaremos preparados para as semelhanças e, sobretudo, para as diferenças.

Eu vou torcer para a simplicidade de 2018. Que a gente envie mensagens claras às deusas, ao universo, ao deus, ao outro. Eu vou torcer para que a gente fuja das redes sociais de vez em quando, que a gente se liberte do compromisso de noticiar, de apresentar nossa felicidade ou qualquer outro sentimento publicamente. Eu vou torcer para que a gente corra mais atrás dos sonhos do que de likes, e para que a gente não precise da aprovação do outro para se sentir pleno, satisfeito. Eu estou torcendo muito por mim. E por você também. Estou torcendo para que a gente se dê bem. Cresça, permaneça, evolua. Para que a gente seja firme e, quando possível for, forte. 

Toda boa sorte desse mundo a nós. A nós que torcemos.