Roched Seba é fundador do Instituto Vida Livre, ONG que resgata, reabilita e devolve à natureza os animais silvestres
Foto: Divulgação
Em agosto do ano passado, a fêmea de tucano Tieta virou notícia ao ganhar uma prótese para seu bico, feito a partir de uma impressora 3D. A ave tinha perdido a parte superior do bico devido a maus tratos de traficantes ilegais de animais. Um dos responsáveis pela recuperação de Tieta foi o niteroiense Roched Seba, fundador do Instituto Vida Livre, ONG que resgata, reabilita e solta animais silvestres que sofreram tráfico ilegal ou foram impactados por perigos urbanos. Em entrevista a OFLU Revista, o publicitário conta como foi esse processo e o que aconteceu com a ave após a recuperação, além de explicar como o Instituto funciona e como é possível ajudá-lo.
Você é graduado em publicidade e propaganda e é mestrando em engenharia de produção. Sua profissão não tem ligação direta com o cuidado de animais. De onde vem a paixão?
Essa é uma pergunta crônica. Realmente, à primeira vista, a publicidade e a propaganda não têm uma relação direta com animais. No entanto, esse é um entendimento que para mim é limitado. Os animais compõem conosco o mundo e a própria sociedade. Pensar nos animais pode ser um atributo de todos os campos do conhecimento. Por exemplo, mesmo com essa formação, eu fiz minha monografia e minha dissertação de mestrado focados no tema dos animais silvestres e tudo foi absolutamente coerente. Muito difícil explicar uma paixão, eu me reconheço a partir dessa relação.
Quando e como surgiu o Instituto Vida Livre?
O Instituto Vida Livre surgiu como ideia em 2010, mas só começamos a operar em 2015. Teve todo o tempo da formalização da ONG e depois eu entrei para o mestrado. Queria dedicar meu trabalho e tempo a algo que eu pudesse conduzir com meus valores e conceitos de promover liberdade.
A ONG tem um projeto que ajuda a cuidar dos animais silvestres maltratados e devolvê-los à natureza. Como funciona?
Nosso trabalho é e sempre foi em parceria com Ibama-RJ. Os animais que são resgatados ou apreendidos pelos agentes públicos são encaminhados para o Centro de Triagem do Ibama em Seropédica e o nosso trabalho completa essa ação quando recolhemos os animais, realizamos os exames e tratamentos finais de reabilitação, conduzimos o trabalho nos recintos de soltura para então devolvê-los à natureza.
O Instituto ajudou a recuperar o bico da fêmea de tucano Tieta com o auxílio de uma impressora 3D. Como isso foi pensando?
Eu encontrei a Tieta sem o bico no centro de triagem recém-resgatada de uma ação da polícia. Aquilo me comoveu muito e eu mobilizei nossos veterinários, o Ibama e a Coppe (local onde eu fiz o mestrado) a buscar uma solução através da tecnologia. Foi uma experiência maravilhosa.
Como a ideia foi executada? Vocês imaginavam toda esse repercussão do caso?
Foram feitos exames clínicos e laboratoriais para avaliar sua saúde, enriquecemos sua dieta e em seguida começamos a construção da prótese. Usamos o bico de um tucano morto como base para ser escaneado. Em seguida o designer responsável pelo trabalho começou a criar o novo bico. Várias próteses foram feitas até chegarmos na ideal e assim pudemos realizar a cirurgia. Sabíamos que seria um trabalho novo e encantador, mas a repercussão foi muito maior do que podíamos imaginar.
Como está a situação de Tieta?
Infelizmente, depois de totalmente recuperada, ela morreu numa briga com um tucano macho.
Vocês têm uma estimativa de quantos animais já ajudaram? Qual a média de duração dos tratamentos?
Desde 2015, algo em torno de 500 a 600 animais já foram resgatados, socorridos, reabilitados e tratados por nós. O tempo de tratamento varia muito, porque são muitas situações, mas, em média, os animais ficam cerca de 40 dias no processo de soltura.
Qual a maior dificuldade que o Instituto encontra no cuidado com os animais?
Nossa principal dificuldade é a falta de uma estrutura adequada que nos permita agir com independência e condições ideais de tratamento dos animais.
Vocês atuam em algum lugar específico? Como funciona a equipe?
Estamos construindo nossa sede. Como temos uma relação direta com o Ibama, somos informados por eles das necessidades de ajuda. E recebo também muitas solicitações diretas de pessoas que conhecem o nosso trabalho. A equipe é enxuta, somos essencialmente eu, Danielle Aires e Thiago Muniz (nossos veterinários).
Como o Vida Livre se sustenta?
O Vida Livre é mantido principalmente com investimentos pessoais meus. Alguns serviços que realizamos são custeados por clientes que confiam no nosso trabalho e ainda por colaboradores que apoiam a nossa causa.
Vocês recebem trabalho voluntário? Quem quiser ser solidário, como pode fazer?
Recebemos e buscamos todos os perfis possíveis de colaboradores. Queremos e acreditamos no nosso trabalho através da paixão e da diversidade de conhecimento. Nós dispomos de uma conta e aceitamos doações para manter o nosso trabalho!
Pela vida silvestre
Tpografia
- Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
- Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo Leitura