Salvos pela arte

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A arte é, para a designer Ludmilla Coutinho, o momento em que se sente realmente completa

Foto: Lucas Benevides

Nos dias de hoje, a correria diária e as obrigações corriqueiras levam as pessoas a não se preocupar o suficiente consigo mesmas. Estudos mostram, porém, que é importante parar e tirar um tempo para si e fazer uma atividade que gosta, um hobby, para manter a mente sã e menos sobrecarregada. Para muitos, essa válvula de escape para o dia a dia caótico é encontrada na arte, em suas mais diversas formas. 

Ludmilla Coutinho, designer de Niterói, diz que é através da arte que ela se completa. 

“É quando me conecto entrando em contato com minha essência, onde consigo verdadeiramente me concentrar e deixar fluir o que está dentro de mim. A arte me faz transparecer. Não existe hora certa pra criar e é isso que me dá liberdade”, aponta a designer, que começou a ter aulas de pintura ainda adolescente, mas diz não se lembrar de quando começou a ser artista. “Minha mãe me conta que veio da barriga dela, pois, quando estava grávida de mim, ela pintou todo o meu enxoval à mão. Desde muito pequenininha, minha diversão era espalhar lápis de cor, canetinhas, cola colorida, papéis de várias cores e diversos materiais no chão e ficar deitada, debruçada pintando, desenhando, criando”, lembra.

Foi então que, aos 16 anos, Ludmilla começou a ter aulas de técnicas de pintura, entrando para a Associação Fluminense de Belas Artes. Foi quando começou a pintar telas e nunca mais parou.

“Comecei a desenvolver quadros e peças com outros tipos de materiais também”, afirma Ludmilla, que, mais tarde, se formou em Design de Moda. “É é na arte que tomo consciência dos meus objetivos. É o momento onde posso expressar a minha alma de verdade”. 

A arte é, também, capaz de proporcionar uma maior atenção ao momento presente, como explica o médico Lucas Medeiros. 

“Quando a pressão interna numa máquina está acima do limite, ela corre o risco de quebrar, rachar e parar de funcionar. No nosso cérebro, não é diferente. Hoje em dia, vivemos de forma acelerada e distraída. Segundo pesquisas de Harvard, passamos 47% do nosso dia pensando em problemas do passado e coisas para resolver no futuro. Exercitamos muito pouco o ‘aqui e agora’. Uma atividade diferente, que mude a mentalidade e promova relaxamento e prazer sensorial, é muito bem-vinda para nossa saúde mental, com repercussões positivas neuroendócrinas reconhecidas na literatura médica”, explica. 


Duda Oliveira faz uma autoinvestigação pela arte

Foto: Arquivo pessoal

Para Teresa Carneiro, assessora de 55 anos, a arte também tem um papel muito importante. 

“Você se transporta para dentro da tela, é muito prazeroso ter a experiência de ver a realização do seu trabalho bem-feito, de ver o que você é capaz de fazer. O artista tem muito orgulho daquilo que ele fez. Nisso, a autoestima fica superelevada, você vendo que tudo o que aprendeu, você conseguiu transmitir pra tela. Esse retorno é muito bom”, conta a artista, que pinta óleo sobre tela desde 1999. Nessa época, ela morava no interior e procurava algo com o que se ocupar. Então, começou a fazer aulas de pintura e, hoje, tem até um ateliê em sua casa. 

Para a psicóloga Vanessa Monteiro, essa válvula de escape não tem que ser necessariamente uma atividade fora da vida profissional.

Já a advogada por formação e especializada em Direito Ambiental, Duda Oliveira, encontra essa terapia na arte de esculpir.

“É como se eu tivesse que encontrar aquilo que está oculto dentro do material, seja argila, ferro. Então, quando consigo materializar a construção dessa obra, entendo o que estava dentro de mim que eu tinha que colocar pra fora”, conta a artista, que descobriu a arte como válvula de escape depois dos 40 anos. Para a psicóloga Vanessa Monteiro, essa válvula de escape não tem que ser necessariamente uma atividade fora da vida profissional.

“O escape não é necessariamente algo que não seja o trabalho, ele é necessariamente alguma coisa que a pessoa goste. É um escape a tudo que possa enclausurar a existência, que possa limitar a capacidade criativa, a sensação de alegria, a sensação de estar fazendo algo que tem a ver com você. Basicamente limitar a autonomia”, explica a psicóloga, que também ressalta a importância de diversificar a rotina. Principalmente na contemporaneidade, em que a lógica de que se tem que produzir o tempo todo é tão presente e acaba sobrecarregando os indivíduos.