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Sérgio Mattos é o famoso olheiro e dono da agência 40º Models

Foto: Divulgação/Renato Higel

Por André Bernardo

Estampar capas de revistas, protagonizar comerciais milionários e desfilar nas passarelas mais quentes do mundo. O glamour deste universo, no entanto, caminha lado a lado com padrões de beleza bastante limitados, muitas vezes até idealizados. Mas as coisas estão mudando, à medida em que as marcas mundo afora se tornam mais atentas às belezas possíveis, menos óbvias. Sérgio Mattos, famoso olheiro e dono da agência 40º Models, conversa sobre esse novo momento do universo fashion

O que realmente faz um caça-talento e como você percebeu que tinha um olhar clínico para descobrir talentos para as passarelas?

O caça-talento é um olheiro. Ele sempre  tem que estar atento para descobrir um novo talento na praia, na fila do ônibus, numa festinha... Em qualquer lugar pode estar um rosto superinteressante. Pra você ver como vida de olheiro é maluca: o Márcio Garcia foi descoberto quando foi no estúdio buscar a namorada, que estava fotografando. Acabei o convidando para ser modelo também. Viajo muito também, minha vida é viajar. É um trabalho que dura 24 horas. Quando comecei a trabalhar na Yes Brazil (famosa marca carioca dos anos 80), levava sempre uma turma bonita para trabalhar de vendedor e acabava virando modelo.

A sua agência tem dois departamentos: o fashion e o comercial. Conte-nos um pouco como funcionam os departamentos e como é esse mercado. Quais foram suas maiores revelações?

O mercado comercial é o mercado da publicidade e dos anúncios, todos os perfis são bem-vindos. Já o mercado fashion é o mercado da moda, dos desfiles, dos editoriais das revistas. Não posso mentir que é ideal para o estilo fashion que a pessoa tenha corpo magro, pernas compridas, mas o principal é ter muita personalidade. Tem que fotografar bem também. Tem pessoas que são lindas e não ficam bem nas fotos, por outro lado, tem pessoas que não são tão bonitas assim e, quando fotografam, nossa, você até cai para trás. Já passaram por mim: Cauã Reymond, Ana Beatriz Barros, Isabeli Fontana, Raica Oliveira, Daniella Sarahyba, Pablo Morais, Jesus Luz, Felipe Roque, Beatriz Arantes, Rômulo Arantes, Mariana Rios, entre outros.

Muito se fala em padrão de beleza, principalmente na passarelas, tanto para homem quanto para mulher. Você consegue sair desse óbvio? 

Antes era só “Barbie”, meninas loiras dos olhos azuis. Hoje não tem mais isso. Olha a Caroline Ribeiro, que foi da MTV. Ela é de Belém do Pará e tem uma beleza bem latina, mas fez o maior sucesso. O mercado hoje aceita bem outras belezas: lábios grandes, o cabelo afro, a índia. Tem de tudo. Hoje, o mercado está mudando e essas pessoas, até então ditas “exóticas”, são bem-vindas e também as com mais curvas e fora do padrão da passarela. Sempre faço um acompanhamento pessoal com cada talento, alguns precisam melhorar medidas, outros a pele, outros mudar o cabelo e assim vai. Na agência, estamos começando o departamento voltado para modelos plus size, mas, se repararem nas agências do exterior, eles já estão pedindo algumas modelos com “curvas”.

Você já recebeu alguma reclamação por não ter agenciado alguma dessas ditas fora do padrão?

Acho que existem muitos padrões de beleza no mundo. Tem as de concurso de beleza, de miss, tem as ditas “mulheres-fruta”, que tem um corpão, e também tem as modelos de moda. As modelos têm medida padrão. Quero ressaltar que essas medidas das modelos não são as agências que impõem, é o mercado da moda mesmo. A área comercial precisa de modelos com pele, sorriso, cabelo bem-cuidado. A altura não é tão importante, já tive modelos de 1,60m. Os padrões de beleza vão mudando, mas, para o mercado comercial, cuidado consigo mesmo é importante. Tem muita modelo fashion que está ganhando dinheiro no comercial, como a própria Gisele Bündchen, por exemplo.

Você acha que o Brasil é um dos melhores países para se descobrir talento devido à sua miscigenação imensa?

Com certeza. No Brasil, temos todos os estilos e nosso borogodó é único. Quando se vai para fora, percebe-se que tudo mudou muito, o mercado foi se profissionalizando com o tempo e, hoje, temos boas referências, tanto de modelos quanto de fotógrafos, estilistas e em todos os outros seguimentos. Com o sucesso da Gisele, o mercado para modelos deu uma guinada e todas as agências internacionais estão de olho nas nossas new faces. Ela fez mudar o padrão de beleza. Foi absurdo. De repente, todo o mundo queria imitar o jeito dela de andar, o corpo, o cabelo. Os gringos querem saber o que tem na água desse país. 

Com esse “boom” das redes sociais, você já descobriu alguém pela internet?

Sim. Já vi muita gente e também recebo muito contato pelo site da agência, por e-mail e redes sociais. Hoje sou mais procurado do que procuro, na verdade. Participo muito de eventos também, palestras e workshops. Antes, se eu queria divulgar alguém lá fora, era uma trabalhão, tinha que mandar o book, ligar, falar com um monte de gente. Hoje, com um clique, coloco as fotos dos modelos na internet e divulgo nas melhores agências do mundo todo. É muito mais eficiente. Até pelo próprio site da agência, as pessoas mandam fotos e, se a gente gosta, pede para conhecer pessoalmente.

Para as meninas e meninos que hoje sonham ser modelos, você tem alguma dica ou conselho? 

É simples: é informação, pesquisa, apoio da família, bom scouter, boa agência. Tem que ter um biótipo, ver se é fashion ou comercial. Tem que encarar como profissão, ter foco em resultados e muita determinação. Tem que ter talento. O ideal é que comecem entre 15 e 16 anos e já estejam preparados com um inglês bom e alguns cursos de fotografia.