Valorizando o que se tem

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Com o avanço das questões feministas, é cada vez mais forte a ideia de buscar sempre “a melhor versão de si mesma”

Foto: Divulgação/Gustavo Paixão

Os padrões de beleza estão em constante mudança, passando da Vênus de Willendorf às musas fitness da atualidade. A mulher comum se vê tentando encaixar-se em um modelo inalcançável. Hoje, com o avanço das questões feministas, é cada vez mais forte a ideia de buscar sempre “a melhor versão de si mesma”, ou seja, valorizar a sua beleza, sem querer ser uma outra pessoa, sem apelar para transformações invasivas e que descaracterizam aquilo que se é. 

Fernanda Guimarães, fisioterapeuta de 35 anos, por exemplo, conta que está sempre atrás de procedimentos que realcem sua beleza, destacando as características que gosta em si mesma. 

“Acredito que a beleza é um conjunto de fatores que te fazem sentir bem consigo mesmo. Para mim, quanto mais natural, melhor. Gosto de valorizar meus atributos naturais e principalmente da reação da família e dos amigos, que sempre dizem que a idade só está me deixando mais bela”, conta a fisioterapeuta, que diz ser fã de diversos procedimentos, como o de micropigmentação de sobrancelhas, alongamento de cílios e o dermaclean, que cuida das estrias. Além disso, sempre faz massagens, que, além de relaxarem o corpo e a mente, a fazem sentir melhor.

“Todos os tratamentos sempre me fazem sentir maravilhosa! A autoestima vai lá no céu”, relata, confessando também que já teve vontade de fazer procedimentos estéticos mais invasivos, que fossem modificar muito sua aparência, mas, agora, não quer radicalizar. Portanto, segue nos tratamentos menos invasivos possíveis. 

Um dos locais que oferece esse tipo de serviço é o Spa Boutique, do Espaço Cláudia Miranda, que completa três anos em abril e propõe ser um espaço para cuidar da beleza, sem descuidar do bem-estar.

“Nossa clientela quer se mostrar bem, com aspecto jovem e saudável, mas sem abrir mão da sua beleza natural, da sua individualidade. Muitos clientes chegam até nós porque não querem se submeter a procedimentos radicais, como cirurgias plásticas, por exemplo”, explica a proprietária, a fisioterapeuta e esteticista Cláudia Miranda.

Dentre os procedimentos mais procurados estão massagens, limpeza de pele, peelings, depilação a laser, design e micropigmentação de sobrancelhas, que prometem realçar o que as clientes têm de melhor. 

“A beleza vai além da aparência, ela tem relação com a saúde, com a autoestima e com a felicidade”, afirma Cláudia. 
Os profissionais mais qualificados hoje criticam intervenções e métodos que mudem demais a mulher, até eles acreditam na ideia de que a beleza parte também da autoestima. É o caso da doutora Iris Florio, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Clínica Cirúrgica desde 2009.

Luiza Junqueira criou um canal no YouTube sobre aceitação, valorização da própria beleza e autoestima. Hoje, ela conta com mais de 300 mil inscritos

Foto: Divulgação

“A valorização da beleza natural é o primeiro passo para a aceitação pessoal. Em uma época onde vemos muitos padrões impostos pela sociedade, a beleza natural se tornou um diferencial que pouco vemos. Por isso, é de extrema importância a sutileza em cada procedimento estético para ressaltar a beleza e não modificar. Em nosso país, a diversidade é uma herança cultural e deve ser preservada e exaltada”, afirma a médica, dizendo ainda que todas as mulheres têm suas particularidades e aprender a aceitá-las é o primeiro passo para reconhecer a sua beleza.

“Quando uma pessoa aceita o seu corpo e a sua aparência, isso se reflete no seu modo de agir e viver, transparecendo ainda mais sua beleza. O mesmo acontece quando realizamos os procedimentos estéticos na busca dessa autoestima. Quando bem realizados, eles têm o poder de renovar e transparecer a beleza feminina através de sorrisos e atitudes”, ressalta, alertando até que já teve que atender pacientes para tentar amenizar complicações decorrentes de procedimentos estéticos feitos de maneira inadequada.

É muito importante que qualquer procedimento seja realizado e acompanhado por um profissional devidamente capacitado, como ressalta o cirurgião plástico Luiz Victor Carneiro Jr, coeditor do livro “Cirurgia Plástica para Formação do Especialista”. 

“Quando procuram um cirurgião plástico capacitado, as pessoas são bem orientadas quanto aos procedimentos estéticos, suas conquistas e limitações. Nem sempre a expectativa sonhada pelo paciente vai corresponder à realidade. Por exemplo, não é toda mulher que tem estrutura corporal para colocar uma prótese de silicone muito grande. Isso tudo requer uma conversa franca e aberta com o cirurgião plástico, que é parte fundamental durante a consulta. A partir do momento em que o paciente está ciente de todas essas condições, a felicidade após a cirurgia fica mais garantida”, esclarece o médico, que ressalta também a importância da motivação do paciente para buscar quaisquer procedimentos. “Em uma era de mídias sociais e superexposição, os padrões de beleza midiáticos acabam influenciando muito a percepção corporal das pessoas. É importante que o paciente que deseja se submeter a uma cirurgia plástica esteja ciente das suas motivações. É fundamental saber os seus limites, valorizar as características individuais e ter moderação”, destaca.
 

Entre os tratamentos com maior procura está a micropigmentação da sobrancelha, que valoriza o olhar da mulher

Foto: Douglas Macedo

Além de questões puramente estéticas, os procedimentos podem ser realizados por questões de saúde e bem-estar, como uma redução de mama, que pode aliviar problemas decorrentes, como a dor nas costas. 

Hoje, há muitas pessoas falando sobre essa superexposição, os padrões de beleza midiáticos, e o impacto que isso pode ter na vida das pessoas, principalmente nas mulheres. Uma dessas pessoas é Luiza Junqueira, youtuber de 25 anos que mora no Rio de Janeiro, responsável pelo canal “Tá, Querida”, com mais de 300 mil inscritos. 

“Se a gente for olhar na sociedade como um todo, o padrão de beleza tá cada vez mais inalcançável, as pessoas estão cada vez mais fazendo procedimentos estéticos, cirúrgicos, invasivos para conseguir chegar no padrão. Isso tá cada vez mais sendo cobrado da gente, com redes sociais, como o Instagram, onde tudo é imagem”, ressalta a youtuber, que luta contra a gordofobia e teve uma longa trajetória para conseguir se sentir bem na própria pele. 

“Antigamente, eu era uma pessoa que me achava horrível, não suportava me olhar no espelho. Me comparava o tempo todo com outras pessoas me sentindo inferior, me comparava com as mulheres das revistas, da TV. Isso mudou quando eu comecei a entender toda essa ferramenta do sistema que faz com que a gente se sinta desconfortável na nossa pele. Sabendo disso, e olhando pro lado e me comparando com pessoas parecidas comigo, depois que eu descobri a importância da representatividade, minha relação está muito mais saudável”, explica. 

O peeling de vitamina C, que promove o clareamento da pele, é um dos tratamentos não invasivos mais procurados

Foto: Divulgação

A autoestima pode interferir diretamente na saúde das pessoas, em sua qualidade de vida, como afirma a psicóloga Vanessa Monteiro. 

“Isso afeta a vida delas em todos os sentidos, especialmente no modo de se relacionar com outras pessoas. É difícil generalizar aqui esses efeitos, pois cada situação é uma e tem relação com as experiências e referências de cada uma dessas pessoas. Mas, em um apanhado geral, vejo muitas situações em que acabam guardando muitos ressentimentos com relação aos outros, algumas por se sentirem inferiorizadas, outras por sentirem inveja, outras por quererem se autoafirmar com tanta urgência a ponto de terem comportamentos que sacrificam a elas mesmas e as deixam infelizes”, afirma.

De forma geral, esses problemas afetam principalmente as mulheres, mas não deixam de ser comuns aos homens.  

“A questão da beleza afeta principalmente as mulheres não por uma questão fisiológica, é importante frisar, e, sim, por uma questão sociocultural. A mulher foi cultural e socialmente submetida a um modo de relação de certa serventia ao homem, se fizermos uma análise histórica, no sentido de ter passado a maior parte do desenvolvimento das sociedades ocidentais em um lugar de passividade ao homem, chefe da casa. Por conta disso, ideologias de que a mulher deveria cuidar de sua beleza para agradar o olhar do outro e para satisfazer o desejo masculino ganharam terreno e se consolidaram, tendo como desdobramentos pensamentos que criaram padrões de comportamento e vestimenta adequados, idealizados”, explica a profissional.