E você me pergunta, como se precisássemos confirmar nosso entendimento com os versos mais tristes da literatura, o que seria a sua ausência. E eu, sem muita cerimônia e prolixidade, respondo plácida e um tanto triste só de pensar: sua ausência é minha fraqueza.
Ando, como um emissário sem cartas, relembrando endereços e memórias que me dão algum entendimento sobre a felicidade.
Uma memória traidora que me entrega não só histórias, mas também cheiros, gestos, pequenas e furtivas alegrias. E me pego olhando distraída para outro lado, como se por algum milésimo de segundo a sua ausência e a minha fraqueza fossem tão genuínas, que você fosse capaz de se materializar logo aqui do lado, me fazendo forte outra vez.
Quando entrei com você na empreitada que é o amor, tinha me esquecido completamente de como é difícil sair dela. Falando de quantidade e intensidade, acumulei um terrível vício da sua presença, do seu cheiro, do seu timbre, da forma que me conduz na ciranda da vida, mesmo sabendo que não sei dançar direito.
Perdi a conta de quantas risadas - daquelas em que a gente coloca a cabeça para trás de tanta alegria - dávamos ao fim da noite. Rindo como se o mundo fosse só nosso. Como se a mim bastasse você. E bastava. E basta.
Parei para pensar e não consigo mensurar o quanto de entrega havia ali, quando você colocava os seus olhos em cima dos meus. Quando depois de muito tempo sem dizer nada, você ria e falava: “Que foi que tá me olhando?”.
São nessas e noutras horas que percebemos a grandeza da vida e a beleza que há nos grandes encontros. Todos os dias, a qualquer hora, se alguém me perguntasse sobre a felicidade, eu diria que a felicidade está, também e sobretudo, no amor que dispensamos a alguém. E eu dispenso a você.
Todas as vezes em que pensava em você, era como se uma paz me invadisse. Quando alguma coisa parecia não estar tão certo, me lembrava de que alguma coisa nesse mundo ainda funcionava bem. Éramos nós. Havia uma força capaz de mover para um outro estado, onde tudo permanecia bem. Isso é raro e é bonito.
Dia desses, me lembrei - como se em algum momento eu tivesse me esquecido - que você ainda é o meu maior vício. Você ainda é quem me faz ter uma esperança, quase infantil, de que tem muita coisa boa por vir. Que posso ter dias difíceis, mas a certeza da sua hombridade vai me ajudar a ser um tanto melhor.
E é por isso que eu não vou embora. Não vou porque você me dá sorte. Já fui de uma personalidade que sai das brigas, dos amores e dos bares cedo demais por medo da conta altíssima que pagam aqueles que se entregam de corpo e alma. Mas isso não fez de mim uma pessoa melhor.
Me tornou só uma pessoa que tem medo de amar, de se entregar e de viver grandes histórias. É um medo que paralisa. E eu, também com sua ajuda, decidi por caminhar.
Decidi que deixaria você vir, em plenitude, com toda amplidão que essa palavra tem. Decidi que iria até a você com o melhor que posso oferecer.
E esse melhor é insistir, é me lembrar sempre de toda essa energia que circula entre a gente. É me lembrar que em nenhum momento, nem nos mais difíceis, eu cheguei a me arrepender de você.
É ter nas mãos uma vontade imensa de transformação, para que a novidade esteja com a gente cotidianamente. É olhar de novo, quando a noite chega, você dormir e me sentir protegida. Amada e protegida. É essa segurança que muita gente clama por todas as esquinas. Alguém que te dê alguma certeza, pequena que for.
Os dias continuam a transcorrer normalmente, se esvaindo entre os dedos. O carrossel nunca para de girar, lembra? Temos uma música preferida, um restaurante preferido, um vinho preferido, o cigarro incomum, algum filme que a gente nunca vai terminar de assistir.
Temos também uma indecisão sem fim. Falta alguém para dizer “vai ser assim e pronto”. Mas, olha que bonito, dentre todas as pessoas que poderiam vir, eu prefiro você. Como já foi dito e a gente acha lindíssimo: Nada nesse mundo apaga, hoje, o desenho que temos aqui.
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