Aranha: um inimigo que pode morar em sua casa e até matar

Aranha Loxosceles é a espécie que causa acidentes mais graves em adultos no Sul e no Sudeste do país. Veneno pode provocar intensa reação inflamatória com necrose - Foto: Pixabay

Saúde
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Por professor Aderbal Sabrá e professora Selma Sabrá, com os formandos Paula Moreira e Luan Sales

Acidentes causados por aranhas são mais frequentes do que possamos imaginar, sendo que a maioria não apresenta repercussão clínica, porém algumas podem ser graves e até fatais.

As aranhas venenosas que habitam as residências são carnívoras e alimentam-se de insetos. Geralmente são pequenas (medindo cerca de 3 a 4 cm) não tecendo teias geométricas, com hábitos noturnos e possuindo dois ferrões. Elas vivem em entulhos, montes de lenha ou madeira, fendas, buracos de muros ou mesmo em casca de árvores. Geralmente refugiam-se em utensílios como toalhas, sapatos, travesseiros e em roupas usadas em dias frios e chuvosos.

Os acidentes ocorrem mais frequentemente nas regiões Sul e Sudeste. No período de 2007 a 2017 foram registrados 27.125 casos por envenenamentos por aranhas, sendo que, destes, 36 evoluíram para óbito. Existem três gêneros de importância em saúde pública no Brasil: Phoneutria, Loxosceles, Latrodectus. Os acidentes causados por Lycosa (aranha-de-grama) e pelas caranguejeiras possuem importância médica.

Acidente por Phoneutria: conhecidas como armadeiras, essas aranhas medem 3 a 4 cm, porém, o corpo pode atingir 15 cm de envergadura e pode saltar até 40 cm de distância. É caçadora, atacando quando incomodada e possui atividade noturna. Abriga-se sob troncos, palmeiras, bromélias, e entre folhas de bananeira. Pode se alojar em sapatos, atrás de móveis, cortinas, sob vasos, entulhos, material de construção. Respondem por 40% dos acidentes aracnídeos, que raramente são graves. Seu veneno pode provocar dor imediata e intensa com poucos sinais visíveis no local da picada, porém pode apresentar sintomas como sudorese, taquicardia, agitação, vômitos e aumento na salivação.

Acidentes por Loxosceles: é o acidente mais grave, mais frequente em adultos no Sul e no Sudeste do Brasil. Ela não é tão agressiva e, normalmente, pica quando comprimida contra o corpo. Tem 1 cm de corpo e até três de comprimento total. Apresenta hábitos noturnos, costuma construir teia irregular como se fosse um "algodão esfiapado". Costuma esconder-se em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou mesmo embaixo de quadros, rodapés, mesas, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões, ou mesmo em outros ambientes com pouca iluminação e movimentação. O veneno pode provocar intensa reação inflamatória com necrose. A picada, na maioria das vezes, é imperceptível e não provoca dor. A lesão se instala de maneira lenta e progressiva. Inicia com vermelhidão intensa, edema (inchaço), dor de cabeça e febre alta (24-72 horas). A lesão evolui com calor, rubor, superfície endurecida e escura, podendo evoluir para ferida com necrose em 1 a 12 dias com crosta que se destaca em 3 a 4 semanas. Além desta forma localizada, pode ocorrer a forma visceral, mais grave, cursando com anemia, icterícia (pele e olhos amarelos), escurecimento da urina, alteração na coagulação sanguínea e insuficiência renal aguda.

Acidente por Latrodectus: os acidentes por viúva negra têm sido relatados com mais frequência no Nordeste (BA, CE, RN e SE). A fêmea pode chegar a 3 cm e o macho a 2 a 3 mm. Tem atividade noturna, e costuma fazer teia irregular em arbustos, gramíneas, cascas de coco e sob pedras. É encontrada próxima ou dentro das casas, em ambientes sombreados, como frestas, sob cadeiras e mesas em jardins. As manifestações locais
são de dor, calor, vermelhidão, tremores, ansiedade, dor de cabeça, insônia, coceira,
contração muscular, alterações de pressão e de batimentos cardíacos, sensação de morte.

Picada - Diante de uma picada de aranha a primeira medida é lavar o local da picada com água e sabão. Não fazer torniquete ou garrote, não espremer ou fazer sucção no local da ferida e nem aplicar folhas, pó de café ou terra para não provocar infecção.

Deve-se levar a vítima imediatamente ao serviço de saúde mais próximo para que possa receber o tratamento adequado e o suporte necessário de acordo com a gravidade de cada caso.

É possível se prevenir com ações simples que podem ser implementadas no dia a dia como usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem. Além disso, é relevante examinar calçados, roupas pessoais, lençóis e toalhas antes do uso desse material.

A maior parte das aranhas fica em locais geralmente com sombra e sem movimentação. Portanto, deve-se ter cuidado ao se aproximar de locais com coisas amontoadas, como entulhos, restos de troncos, pedras ou objetos guardados por muito tempo.

Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede são medidas importantes.

Aranhas têm hábitos noturnos, dessa forma, utilizar telas em portas, janelas e ralos são bons hábitos para a prevenção destes acidentes. Manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros. Manter a grama sempre cortada, para evitar que sirvam de abrigo para aranhas.