A cena que tomou conta das ruas de Rio das Ostras nesta quinta-feira (23) mostra mais do que um simples protesto. Mostra o cansaço de quem carrega nas costas a máquina pública, mas recebe, em troca, descaso e silêncio.
Servidores da saúde e da educação - pilares que sustentam qualquer cidade - decidiram ocupar o espaço público porque já não encontram espaço dentro do próprio governo para serem ouvidos
O prefeito Carlos Augusto, que em campanha prometeu valorização e diálogo com o funcionalismo, agora se esconde atrás de justificativas e protocolos. Falou-se em repassar 100% do plano de saúde dos servidores, promessa que ficou apenas no discurso. Três anos sem reajuste e uma rotina de insegurança, adoecimento e desmotivação formam o retrato da atual gestão: uma prefeitura distante, fria e incapaz de enxergar o ser humano por trás do crachá
Enquanto isso, na educação, impera a tentativa de controle político. Servidores e professores denunciam o desrespeito à legislação que garante a gestão democrática nas escolas públicas. A interferência direta do prefeito na escolha de diretores, ignorando o direito da comunidade escolar de decidir, é um retrocesso inaceitável — e uma ofensa à própria essência da educação pública.
Não é apenas a estrutura administrativa que está em crise, mas a relação de confiança entre governo e servidor. Quando o poder público deixa de ouvir, ele se isola. Quando o prefeito prefere calar diante do clamor das ruas, ele se distancia da realidade que deveria conduzir. O resultado é o que vimos: trabalhadores adoecidos, escolas em tensão e uma cidade mergulhada em descrença.
Governar não é apenas administrar recursos, é cuidar de gente — e Carlos Augusto parece ter se esquecido dessa máxima. O discurso do respeito se perdeu entre os corredores do poder. Rio das Ostras precisa de um líder que esteja ao lado do servidor, não acima dele. Ainda há tempo para reconstruir pontes, mas isso exige mais que promessas: exige escuta, empatia e ação concreta.
O silêncio do poder pode ser conveniente para quem está no alto, mas nunca é eterno. Ele inevitavelmente cede espaço ao barulho da indignação — e esse som, uma vez ecoando nas ruas, não há como conter.
Até o fechamento desta matéria, o prefeito Carlos Augusto não se pronunciou sobre as denúncias, mantendo-se em silêncio. O espaço segue aberto para eventual manifestação do chefe do Executivo municipal.



