Aranhas, perigo que mora em casa
Por professora doutora Selma Sabrá, especial para O FLUMINENSE
Acidentes causados por aranhas são mais frequentes do que possamos imaginar, porém a maioria não apresenta repercussão clínica. As aranhas venenosas que habitam as residências são carnívoras e alimentam-se de insetos. Geralmente são pequenas (medindo cerca de 3 a 4 cm) não tecendo teias geométricas, com hábitos noturnos e possuindo dois ferrões. Elas vivem em entulhos, montes de lenha ou madeira, fendas, buracos de muros ou mesmo em cascas de árvores. Geralmente refugiam-se em utensílios como toalhas, sapatos, travesseiros e em roupas usadas em dias frios e chuvosos.
Os acidentes ocorrem mais frequentemente nas regiões Sul e Sudeste. No período de 2007 a 2017 foram registrados 27.125 casos por envenenamentos por aranhas, sendo que, destes, 36 evoluíram para óbito. Existem três gêneros de importância em saúde pública no Brasil:
Phoneutria, Loxosceles, Latrodectus. Os acidentes causados por Lycosa (aranha-de-grama) e pelas caranguejeiras possuem importância médica.
Acidente por Phoneutria: conhecidas como armadeiras, medem de 3 a 4 cm, porém, o corpo pode atingir 15 cm de envergadura e pode saltar até 40 cm de distância. É caçadora, atacando quando incomodadas e possuem atividade noturna. Abrigam-se sob troncos, palmeiras, bromélias, e entre folhas de bananeira. Podem se alojar em sapatos, atrás de móveis, cortinas, sob vasos, entulhos, material de construção. Respondem por 40% dos acidentes aracnídeos, que raramente são graves. Seu veneno pode provocar dor imediata e intensa com poucos sinais visíveis no local da picada, porém pode apresentar sintomas como sudorese, taquicardia, agitação, vômitos e aumento na salivação.
Acidentes por Loxosceles: é o acidente mais grave, mais frequente em adultos no Sul e no Sudeste. Ela não é tão agressiva e, normalmente, pica quando comprimida contra o corpo. Tem 1 cm de corpo e até três de comprimento total. Apresenta hábitos noturnos, costuma construir teia irregular como se fosse um "algodão esfiapado". Costuma esconder-se em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou embaixo de quadros, rodapés, mesas, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões, ou mesmo em outros ambientes com pouca iluminação e movimentação. O veneno pode provocar reação inflamatória com necrose. A picada, na maioria das vezes, é imperceptível e não provoca dor. A lesão se instala de maneira lenta e progressiva. Inicia com vermelhidão intensa, edema (inchaço), dor de cabeça e febre alta. A lesão evolui com calor, rubor, superfície endurecida e escura, podendo evoluir para ferida com necrose em 1 a 12 dias com crosta que se destaca em 3 a 4 semanas. Além desta forma localizada, pode ocorrer a forma visceral, mais grave, com anemia, icterícia (pele e olhos amarelos), escurecimento da urina, alteração na coagulação sanguínea e insuficiência renal aguda.
Acidente por Latrodectus: os acidentes por viúva negra têm sido relatados com mais frequência no Nordeste (BA, CE, RN e SE) A fêmea pode chegar a 3 cm e o macho a 2 a 3 mm. Tem atividade noturna, e costuma fazer teia irregular em arbustos, gramíneas, cascas de coco e sob pedras. É encontrada próxima ou nas casas, em ambientes sombreados, como frestas, sob cadeiras e mesas em jardins. As manifestações locais são dor, calor,vermelhidão, tremores, ansiedade, dor de cabeça, insônia, coceira, contração muscular,alterações de pressão e de batimentos cardíacos, sensação de morte.
O que fazer em caso de picada de aranha:
A primeira medida é lavar o local com água e sabão. Não fazer torniquete ou garrote, não espremer ou fazer sucção e nem aplicar folhas, pó de café ou terra para não provocar infecção. Em algumas regiões do país é comum oferecer à vítima "pinga", entre outras substâncias, mas isso não é recomendado.
Deve-se levar o acidentado imediatamente ao serviço de saúde mais próximo, para a emergência dar suporte necessário de acordo com a gravidade e avaliação do melhor tratamento.