Por Denise Emanuele Paz Carvalho
Em clima de cordialidade e simbolismo diplomático, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron protagonizaram hoje um passo importante na reaproximação entre Brasil e França. Após anos de distanciamento político, os dois líderes assinaram mais de 20 acordos bilaterais no Palácio do Eliseu, consolidando um novo capítulo na relação entre os países — com foco em meio ambiente, economia, segurança, cultura e fronteiras.
A visita de Lula a Paris, a primeira de um presidente brasileiro em mais de uma década, marca também os 200 anos de relações bilaterais entre as nações, celebrados com a promessa de um “humanismo a serviço do progresso”, como frisou Macron.
O que foi firmado: uma aliança com múltiplas camadas
Entre os principais avanços da visita estão:
• Parcerias ambientais, com destaque para a COP30, que será sediada em Belém (PA), e compromissos conjuntos em descarbonização e proteção da biodiversidade.
• Acordos comerciais e de investimento, com perspectiva de expandir os atuais US$ 9,1 bilhões em fluxo bilateral.
• Fim do regime de vistos para o trânsito entre o Amapá e a Guiana Francesa.
• Cooperação em segurança na fronteira, com foco em combater o garimpo ilegal, tráfico e contrabando.
Macron, em gesto de apoio internacional ao Brasil, confirmou presença na COP30 e reafirmou a disposição da França em liderar, ao lado de Lula, o esforço global pelo clima e pelo equilíbrio ambiental.
Pontos positivos: pragmatismo com visão de futuro
1. Retomada de protagonismo internacional
A visita recoloca o Brasil como ator estratégico na Europa, especialmente em temas ambientais e energéticos. A presença de Lula em fóruns como a Conferência da ONU sobre os Oceanos, na próxima semana em Nice, é mais um sinal da reinserção ativa do país no multilateralismo climático.
2. Cooperação em segurança regional
O reforço na vigilância da fronteira amazônica com a Guiana Francesa sinaliza não apenas combate ao crime, mas também valorização da Amazônia como território de integração binacional, com forte apoio logístico e científico.
3. Impulso à cultura e ao soft power brasileiro
A realização de mais de 300 eventos no Ano Brasil-França 2025 reforça a estratégia brasileira de usar cultura como ponte diplomática. A camisa 10 do PSG com o nome “Lula” é mais que um presente: é símbolo de afinidade e identidade entre os povos.
Pontos de tensão e desafios pela frente
1. Comércio ainda aquém do potencial
Apesar dos números crescentes, Lula reconheceu que o intercâmbio comercial “não condiz com a envergadura da parceria estratégica”. O presidente cobrou aumento nos investimentos e integração das cadeias produtivas – um desafio frente ao protecionismo europeu e às exigências ambientais para produtos sul-americanos.
2. Acordo Mercosul-União Europeia segue travado
Lula voltou a pedir a Macron que “abra o coração” para concluir o acordo entre Mercosul e União Europeia, emperrado por divergências ambientais e pressões de agricultores franceses. O gesto foi simbólico, mas ainda sem garantias de avanço.
3. Expectativa x Realidade nas metas climáticas
O entusiasmo com a COP30 contrasta com a lentidão de parte dos países desenvolvidos em cumprir metas de financiamento climático. O Brasil dependerá da França para manter a pressão sobre os demais líderes.
Consequências estratégicas: o Brasil em movimento
O encontro representa um realinhamento de eixos internacionais do Brasil, com foco na reconstrução de alianças históricas e na construção de novas bases de cooperação. Ao reativar estruturas como o Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica e abrir espaço para maior circulação de pessoas e ideias entre os países, os governos Lula e Macron criam oportunidades para uma diplomacia de resultados — com impacto direto em ciência, defesa, infraestrutura e cultura.
Além disso, a aproximação com a França fortalece o papel do Brasil como interlocutor entre o Sul Global e o Norte desenvolvido, principalmente diante de crises como a guerra em Gaza, citada por Lula, e os dilemas energéticos do pós-pandemia.
Conclusão: mais que uma visita, uma sinalização geopolítica
A visita de Lula à França vai além dos acordos assinados: é um reposicionamento diplomático. França e Brasil apostam numa agenda de convergência entre economia verde, inclusão social e multilateralismo climático.
Como resumiu Macron: “O Brasil está em casa na França”. E Lula, com a camisa 10 do PSG em mãos, respondeu com diplomacia e afeto. O campo agora está aberto — e os próximos passos serão decisivos para transformar afinidades simbólicas em políticas públicas sustentáveis e eficazes.
Por Redação Gazeta Rio