Em um cenário de crescente tensões geopolíticas, a 17ª Cimeira do BRICS, que ocorre entre os dias 6 e 7 de julho de 2025 no Rio de Janeiro, revela-se um encontro de grande relevância. Este evento, sob a presidência do Brasil, promete ser muito mais do que uma simples reunião entre os líderes dos países do bloco das economias emergentes. Com uma agenda centrada na reforma das instituições de governança global, a cúpula busca propor alternativas ao domínio do Ocidente, enquanto enfrenta um cenário de desafios impostos principalmente pelos Estados Unidos.
A declaração feita por Donald Trump, ex-presidente dos EUA, gerou um clima de tensão quando ele afirmou que os países integrantes do BRICS poderiam ser sujeitos a tarifas de até 100% caso tentassem criar uma alternativa ao dólar como moeda global de pagamento. Tal ameaça está diretamente relacionada à proposta de implementação de um sistema de pagamentos utilizando moedas locais, que chegou a ser retirada da agenda recentemente, conforme anunciou o embaixador brasileiro Maurício Lyrio. No entanto, a discussão sobre a “desdolarização” permanece viva e possivelmente será um dos tópicos mais abordados na cimeira.
A cimeira de 2025 não é apenas uma plataforma para discussões sobre reformas econômicas e financeiras, mas também sobre questões globais como a inteligência artificial, a redução das desigualdades e o desenvolvimento sustentável. Neste contexto, o bloco tem se consolidado como uma alternativa ao G7, o grupo das economias mais desenvolvidas do mundo. Embora com uma proposta semelhante ao movimento dos Não Alinhados, criado durante a Guerra Fria, os BRICS buscam reafirmar que o Ocidente não representa a totalidade do mundo global.
A composição do BRICS foi ampliada, especialmente após a adesão de novos membros em 2024, como Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos, ampliando a representação geopolítica do bloco. Em 2025, a Indonésia também se juntou ao agrupamento, enquanto outros países, como Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, foram introduzidos como parceiros. A Argentina, sob a liderança de Javier Milei, decidiu não seguir adiante com sua adesão ao grupo, demonstrando os desafios internos que alguns países enfrentam em meio a pressões internacionais.
Lula e o BRICS: A Busca por um Novo Modelo Global
Ao abrir os trabalhos da 17ª Cimeira dos BRICS, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao aumento dos gastos militares no mundo, especialmente após a recente decisão da OTAN de destinar 5% do PIB dos países membros para despesas com defesa. Lula afirmou que, ao invés de priorizar o investimento em segurança e paz, os recursos continuam sendo direcionados para a escalada de armamentos, em detrimento de iniciativas de paz e desenvolvimento global.
Na mesma linha, Lula também lamentou a perda de força do multilateralismo no cenário internacional e a crescente fragmentação das relações globais. Durante seu discurso, ele destacou que as crises atuais, incluindo as tensões envolvendo a Palestina e Israel, o conflito na Ucrânia e as violações de soberania do Irã, têm sido abordadas de maneira inadequada pela comunidade internacional. Para Lula, o BRICS surge como uma força capaz de promover soluções mais equitativas e justas para os desafios globais.
O presidente brasileiro reforçou o papel do bloco como uma plataforma de inclusão e justiça, afirmando que a diversidade do BRICS o torna uma potência capaz de promover a paz e mediar conflitos em diversas regiões do planeta. Um dos principais pontos da agenda de Lula foi a proposta de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, uma estrutura que considera arcaica e excluente. “Cada dia que passamos com uma estrutura internacional excludente é um dia perdido para solucionar as graves crises que assolam a humanidade”, declarou o presidente, reiterando o desejo de uma maior representatividade para países em desenvolvimento no cenário global.
Putin e os BRICS: A Visão de um Mundo Multipolar
Em sua intervenção por videoconferência, o presidente russo Vladimir Putin destacou o crescimento contínuo dos BRICS, que, segundo ele, já superam em termos econômicos o G7, representando cerca de 40% da economia global. Putin reafirmou que o modelo de globalização liberal está obsoleto e que o mundo está em um momento de transição para uma nova ordem econômica e política. Ele ressaltou a importância de os países do BRICS continuarem a fortalecer a cooperação, especialmente em questões de segurança, economia e cultura, em um momento em que a estrutura global dominada pelo Ocidente parece em declínio.
Cimeira 2025: Um Olhar Crítico para o Futuro
Ao longo das discussões da cimeira, temas como inteligência artificial, reformulação das quotas no FMI, e o fortalecimento das instituições multilaterais dominaram as conversas. O fortalecimento do multilateralismo será um dos pontos-chave da reunião, já que os BRICS tentam construir uma nova arquitetura internacional, mais inclusiva e alinhada aos interesses das economias emergentes.
No segundo dia da cimeira, a agenda se volta para questões ambientais, com destaque para a COP30, e para temas de saúde global. O Brasil, sob a liderança de Lula, segue propondo uma agenda de reformas que contemplem as necessidades globais mais urgentes, ao mesmo tempo em que desafia as hegemonias tradicionais, reforçando o papel do BRICS como uma alternativa relevante e sólida no cenário internacional.
O encontro no Rio de Janeiro promete ser mais uma etapa na construção de um bloco que, a cada ano, se solidifica como um ator central na política global, desafiando as dinâmicas de poder estabelecidas e reafirmando a importância de um mundo multipolar, onde a voz dos países emergentes seja ouvida e respeitada.
Por Gazeta Rio/Ricardo Bernardes
BRICS se Reúnem no Rio de Janeiro em Meio a Ameaças dos Estados Unidos
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