Por Denise Emanuele Paz Carvalho
A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados acionou a Corregedoria Parlamentar nesta semana após a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ter sido alvo de novos ataques verbais durante uma audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, realizada na última quarta-feira (2).
Durante a sessão, o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), integrante da bancada ruralista e autor do requerimento que convocou a ministra, comparou Marina a grupos como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao grupo extremista Hamas. O parlamentar ainda retomou um discurso anterior em que havia associado a ministra a um câncer. “Um dia, eu fiz uma citação aqui comparando com um câncer. E eu pedi desculpas depois porque o câncer, muitas vezes, tem cura”, declarou.
Outro episódio polêmico envolveu o deputado Cabo Gilberto (PL-PB), que pediu “calma” à ministra durante sua fala. Marina reagiu, acusando o parlamentar de uma postura machista, ao apontar que homens, quando se exaltam em discursos, não costumam ser repreendidos da mesma forma.
Diante da repercussão, a Secretaria da Mulher publicou nota oficial repudiando o comportamento dos deputados e anunciando que formalizou uma representação à Corregedoria Parlamentar. A secretaria classificou as declarações como "desrespeitosas e incompatíveis com os princípios democráticos e com o decoro parlamentar".
“É urgente interromper a escalada de casos de violência política de gênero, que têm ocorrido nas esferas federal, estadual e municipal, com o objetivo claro de intimidar e silenciar mulheres que ocupam posições de liderança”, afirma o texto.
A nota também lembra que a Câmara tem o dever de zelar pelo cumprimento da Lei nº 14.192/2021, que trata do combate à violência política de gênero, e critica o que chama de “banalização do espaço parlamentar”, transformado, segundo a secretaria, em “palanques de desrespeito e intolerância”.
Histórico de ataques
Esta não foi a primeira vez que Marina Silva enfrentou hostilidade no Parlamento. Em maio, durante audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, a ministra foi atacada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), que chegou a afirmar, publicamente, que ela “não merecia respeito” por ocupar o cargo de ministra. A situação levou Marina a deixar a sessão antes do encerramento.
Os episódios recentes fazem parte de uma sequência de embates entre setores da bancada ruralista e a titular do Meio Ambiente, conhecida por sua atuação firme em defesa da Amazônia e de pautas socioambientais. Os confrontos refletem a polarização crescente em torno de políticas ambientais no Congresso, especialmente após o retorno de Marina ao governo federal em 2023.
Quem é Marina Silva
Filha de seringueiros, Marina Silva nasceu em 1958, no seringal Bagaço, no Acre. Superou uma infância marcada pela pobreza e pelo analfabetismo, alfabetizando-se aos 16 anos. Tornou-se professora, formou-se em História e ingressou na militância política e ambiental ao lado do líder seringueiro Chico Mendes.
Eleita vereadora, deputada estadual e senadora pelo Acre, Marina ocupou o cargo de ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, durante o primeiro governo Lula, sendo responsável por políticas que reduziram o desmatamento da Amazônia. Reconhecida internacionalmente por sua trajetória ambientalista, disputou a Presidência da República em três ocasiões (2010, 2014 e 2018).
Seu retorno ao governo em 2023 marca uma tentativa de reposicionar o Brasil como protagonista nas pautas ambientais globais, mas também tem provocado reações intensas de setores do agronegócio e da direita ideológica.
Por Gazeta Rio