Por Denise Emanuele Paz Carvalho
A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita, em 10 de julho de 2025, para ocupar a Cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição em seus 128 anos de história. A autora, que tem 55 anos, é a mais jovem do atual quadro de imortais da ABL e assume a vaga que era ocupada pelo filólogo Evanildo Bechara, falecido em maio de 2025. A eleição de Gonçalves representa um marco importante na busca por maior diversidade e representatividade dentro da academia, pois ela é apenas a 13ª mulher a integrar a instituição.
Natural de Ibiá, em Minas Gerais, Ana Maria Gonçalves iniciou sua trajetória profissional como publicitária em São Paulo, mas, em 2002, abandonou a carreira para se dedicar à literatura. Seu primeiro romance, Ao lado e à margem do que sentes por mim (2002), foi publicado de forma independente, vendendo quase toda a tiragem de mil exemplares por meio da divulgação na internet. A obra chamou atenção pela sua abordagem inovadora e conquistou uma base de leitores que ajudou a consolidar a carreira da escritora.
Porém, foi com Um Defeito de Cor, lançado em 2006, que Gonçalves se firmou como uma das principais vozes da literatura brasileira contemporânea. A obra, que demorou cinco anos para ser concluída, dois dos quais dedicados a uma pesquisa profunda, narra a história de Kehinde, uma mulher africana escravizada na Bahia que, por décadas, busca seu filho perdido. A obra foi amplamente aclamada pela crítica e venceu o Prêmio Casa de las Américas em 2007, na categoria de literatura brasileira. Recentemente, o romance foi considerado o melhor livro de literatura brasileira do século XXI por um júri da Folha de S.Paulo.
Ana Maria Gonçalves também é conhecida pelo seu trabalho como roteirista, dramaturga, professora de escrita criativa e curadora de projetos culturais. Ela já foi escritora residente em instituições de prestígio nos Estados Unidos, como Tulane, Stanford e Middlebury, além de ter atuado como colunista no The Intercept Brasil. A escritora também foi co-curadora da exposição Um Defeito de Cor, que passou por importantes espaços culturais, como o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) e o SESC Pinheiros, contribuindo para a ampliação do debate sobre a história da escravidão e da cultura afro-brasileira.
Em sua cerimônia de posse na ABL, a escritora destacou a importância de sua eleição para a história da literatura brasileira, especialmente para a representatividade das mulheres negras no cenário literário. "Este é um espaço de resistência e de afirmação da minha identidade e de tantas outras vozes silenciadas", declarou Ana Maria Gonçalves, que foi recebida com grande entusiasmo pelos membros da academia e pela comunidade literária em geral.
A autora reafirmou o compromisso de continuar sua jornada de escrita e de luta pela valorização da cultura negra no Brasil. Sua eleição para a ABL não só simboliza o reconhecimento de seu talento, mas também a abertura de um espaço para a diversidade de vozes na literatura brasileira.
Com sua entrada na ABL, Ana Maria Gonçalves reforça o papel fundamental da literatura como ferramenta de transformação social, além de consolidar sua posição como uma das maiores escritoras de sua geração. Ela será lembrada, não apenas pela força de sua obra, mas também por quebrar barreiras e inspirar novas gerações de escritores e leitoras a se engajarem na construção de uma literatura mais plural e representativa.
Por Gazeta Rio/Micheli Faria