Distanciamento é prova de amor

Acostumada a grandes festas desde criança, a arquiteta Cristina Grossi vai comemorar o Natal de forma diferente este ano - Foto: Alex Ramos

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A distância como um ato de amor. Assim será o Natal para muitas famílias ao redor de todo mundo este ano. Em meio a uma alta perigosa nos casos de covid-19, o Brasil também vai seguir essa tendência, e trocar as reuniões com os familiares, por uma celebração mais intimista, em nome da segurança. Especialistas são unânimes em afirmar que esses encontros representam, sim, uma grande ameaça à saúde de todos e que é preciso continuar com o isolamento. Para muitos a saída para não se sentir só vai ser usar a internet, mas sobretudo manter em mente que, desta vez, ficar longe é uma atitude tão cheia de afeto quanto um abraço.

Acostumada a grandes festas de Natal desde criança, a arquiteta Cristina Grossi se viu obrigada a comemorar a data de uma forma diferente este ano, buscando evitar aglomerações e proteger seus entes da pandemia de covid-19. Ainda assim, ela quer manter o espírito de fé e comunhão, e vai tentar conciliar segurança e afeto.

"Sou de uma família enorme. Minha mãe tem nove irmãos. E todos os anos nós nos reunimos. No início na casa da minha avó e depois nas casa dos meus pais ou da minha tia. Uma festa para no mínimo 60 pessoas. Esse ano vai ser diferente, cada um vai ficar no seu pequeno núcleo em casa. Estou tentando organizar um encontro virtual com todo mundo para que a gente faça pelo menos uma oração juntos. Agradecer, pois ainda temos duas avós centenárias vivas. Também vou fazer uma singela lembrancinha para distribuir para toda família", revela.

Infelizmente a tradição de Natal deverá ser diferente este ano e enquanto estivermos sob o perigo da pandemia de covid 19. As recomendações das autoridades sanitárias continuam valendo. As festas onde se reúnem famílias numerosas em ambientes fechados devem ser evitadas pelo risco de disseminação da doença que representam, explica Aluísio Gomes da Silva Júnior, médico sanitarista e doutor em saúde pública.

"Grupos pequenos, com até 6 pessoas, têm menor risco de transmissão se o encontro se der em ambientes abertos, com boa circulação de ar, todos usando máscaras adequadamente e observando as lavagens de mãos ou o uso de álcool em gel e distância mínima de 1,5m entre as pessoas", ensina.

A criatividade deve ser usada para que a data não passe em branco, ressalta Aluísio que também é diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFF. Ele lembra que o universo digital é uma forma de estarmos "juntos" mas também protegidos, e ainda que, especialmente esse ano, pessoas mais idosas ou aqueles que moram sozinhos devem ser lembrados também com contatos telefônicos.

"A troca de presentes e lembranças pode se dar pela internet em serviços virtuais e de entrega em domicílio, evitando as aglomerações em shoppings e feiras. Penso que o Natal possa ser comemorado com solidariedade e respeito às vidas. Estamos numa fase de alerta, onde os casos da doença voltam a subir e as unidades de saúde públicas e privadas voltam a encher, portanto, não promover aglomerações ainda é fundamental para o controle da pandemia e para evitar o colapso do sistema de saúde. Muitas vidas têm sido salvas assim", alerta o médico.

Seja com a família ou com os amigos, Natal sempre foi uma data para reunir gente querida no calendário da professora Gláucia Mendes Lixa, de 54 anos. Mas por conta da necessidade de isolamento social, este ano ela terá uma comemoração diferente, menos inclusiva e mais intimista, ao lado do filho, o universitário Pedro Zoninsein, de 24 anos.

"Moro com meu filho em Niterói, mas todo resto da família praticamente mora em Minas Gerais. Quando a gente não passa o Natal com eles a gente faz o que eu chama do 'Natal dos desfamiliados', com outras pessoas amigas que estão sozinhas na cidade por alguma razão. Seja aqui ou lá é sempre a maior galera reunida. Mas esse ano eu não vou fazer nem uma coisa nem outra. Vai ser só meu filho, a namorada e eu. Não vai rolar reunir muita gente, apenas uma videoconferência na hora da ceia com todos que quiserem participar", convida Gláucia.

As festas de Natal e Réveillon são momentos em que tradicionalmente encontramos parentes e amigos, ocasiões em que nos confraternizamos. Mas nesse momento, no entanto, representam ameaças à saúde porque a taxa de transmissão da covid-19 voltou a crescer, alerta Ligia Bahia, sanitarista da UFRJ, ressaltando que a recomendação é permanecer em regime de distanciamento social, evitando o comércio e os transportes públicos cheios.

"Isso significa dizer em linguagem bem objetiva deixar para comemorar o Natal e o ano novo em 2021 e 2022. Evitar reuniões presenciais não quer dizer abandonar a comunicação, sugere-se sim dar um alô usando máscara e mantendo distância para poder ver filhos ou pais, principalmente. Ter bom senso", aconselha a sanitarista.

O impacto da mudança na tradição vai ser bem forte para a professora Aline Carrijo, de 45 anos. De família grande e pra lá de animada, neste fim de ano ela optou por renunciar pela primeira vez ao mega Natal produzido por sua família, justamente para proteger seus entes queridos

"A noite de 24 para 25 eu sempre passo em um núcleo familiar menor. Geralmente vou para casa minha mãe com meu filho, mais minha irmã e uma vizinha. Mas no almoço do dia 25 a gente sempre junta a família inteira. E em alguns anos foram mais de um dia de festa, uma parte da família num dia, outra parte no outro. Coisa de 50 a 60 pessoas juntas. A gente aluga tendas, mesas e tem sempre muita comida, presente, chegada do Papai Noel, praticamente só termina no Réveillon. É tão animado que eu apelidei de 'Micareta Natalina'", brinca Aline.

Sem perder o espírito de comunhão e amor, a professora pretende aproveitar ao máximo a data ao lado do filho Gabriel Carrijo, de 25 anos.

"Esse ano por causa da pandemia vou ficar apenas com meu filho em meu apartamento. Vai ser só nós dois, nem meu namorado vai poder estar com a gente porque vai estar de plantão. Na meia noite a gente vai tentar se reunir virtualmente com os outros para tentar dar um feliz Natal para todo mundo. Mas eu também quero aproveitar esse momento com meu filho. Tudo isso meu fez repensar essa questão dos relacionamentos e graças a Deus minha relação com ele está muito bacana. Comprei uma caixa bem bonita, que vou chamar de 'caixa do perdão', e propus a ele a gente escrever sobre o que ficou mal resolvido entre nós e colocar ali, para depois depois a gente trocar e conversar com calma sobre aquilo", conclui.