Retomada cultural à vista em quatro municípios da região

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Recomendações de distanciamento social provocaram o cancelamento de diversos eventos em museus, casas de show, teatros, cinemas, entre outros, e juntamente a isso a garantia de renda de toda uma cadeia produtiva. Já se sabe que os setores da cultura e da economia criativa foram os mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, e que em alguns casos a perda de receita pode chegar a 100%. Com o desafio de reverter esse cenário grave, gestores da região, que cuidam diretamente desse setor, revelam seus projetos e ações na busca por uma retomada ao mesmo tempo desafiadora e necessária. E apesar do cenário atual, eles também apostam na cultura como área fundamental para que os municípios se recuperem da crise atual.

Niterói - Apostando no setor como forte aliado para retomada econômica pós-pandemia no município, para Leonardo Giordano, secretário das Culturas de Niterói, é preciso compreender a cultura como um direito básico de cidadania, assim como é a saúde, a educação e a assistência social.


"A retomada econômica do setor cultural de Niterói será uma meta prioritária. Existem cerca de 15 mil empreendimentos relacionados à Cultura em nossa cidade, entre CNPJs e MEIs, além de um grande contingente de agentes culturais atuando na informalidade, coletivos culturais nas diversas comunidades e territórios do município etc. Uma cadeia econômica e produtiva ampla, diversa e complexa. Estou convicto de que o setor cultural não só precisa ser fomentado e estimulado pelo poder público, mas poderá ter um papel importante na alavancagem da economia municipal no pós pandemia, seja na geração de trabalho, emprego e renda, seja no incremento da arrecadação municipal através de tributos. A economia da cultura é um dos principais pilares do desenvolvimento do Século XXI globalmente, e Niterói dispõe de infraestrutura, profissionais qualificados e empreendimentos culturais importantes que respondem por parte significativa da economia local", ressalta.

Entre as ações imediatas, em Niterói, segundo Giordano, está a chamada pública para projetos de retomada econômica do setor cultural, que irá contemplar iniciativas de formação, manutenção de espaços e produção cultural, com investimento total de R$ 1 milhão. De acordo com o secretário das Culturas, Niterói também terá uma territorialização do orçamento da cultura, com participação popular na definição dos investimentos, a articulação em rede entre os equipamentos culturais públicos do município.

"Pretendemos realizar ainda este ano, assim que o contexto da pandemia permitir, a realização de um grande festival intitulado Niterói Encontra Niterói, que será como o próprio nome já diz, um reencontro da cidade consigo mesma após um período tão longo de distanciamento, perdas e muitas dificuldades. A Cultura ajudará na superação das dores e dos traumas deste momento tão difícil que estamos atravessando. Vamos ainda nos primeiros 100 dias de gestão sistematizar e disponibilizar para a população toda a oferta de serviços públicos de Cultura que a cidade já dispõe. Sou autor da lei que garante gratuidade aos moradores de Niterói para acesso a museus e centros culturais da cidade. Um direito que muita gente não usufrui por desconhecimento. Isso precisa mudar", defende Leonardo.

São Gonçalo - A recuperação dos equipamentos é uma prioridade para Lucas Muniz de Almeida, secretário que acumula a gestão dos setores de Turismo e Cultura. Segundo ele, esses espaços têm sofrido um grande descaso nos últimos anos.

"Estamos trabalhando dia e noite em cima da inauguração do Teatro Municipal. Não poderíamos manter um equipamento desse porte, de portas fechadas. Governos anteriores não conseguiram inaugurar em 5 anos sendo que ele já está pronto. Em menos de 30 dias resolveremos o problema e vamos entregar o equipamento à população. Sou jovem, nascido e criado em São Gonçalo, vereador reeleito, conheço a realidade da ausência do poder público durante décadas. Vamos tirar São Gonçalo do atraso e fomentar esse grande celeiro de artistas que somos", ressalta Lucas.

Ampliar as opções culturais da cidade é outra meta do novo gestor da pasta, que adianta as próximas estruturas previstas para fomentar a retomada do setor no município.

"A principal diretriz da nossa pasta será o diálogo com os artistas, os fazedores de Cultura. Vamos entregar em 100 dias, todos os nossos equipamentos reabertos, em condições de receber a população. Queremos ainda em 2021 inaugurar mais uma lona cultural, três bibliotecas e duas casas de artes. Vamos aumentar consideravelmente em quatro anos a quantidade de equipamentos que recebemos. Mas, para isso contamos com a contribuição dos fóruns, conselhos, profissionais e dos nossos servidores", convoca o secretário.

Itaboraí - Uma Cultura menos centralizada e mais inclusiva é a meta do secretário Roberto Costa para Itaboraí. Das manifestações regionais, aos espetáculos mediados pela tecnologia, ele garante que os esforços serão dar espaço e vez tanto ao público quanto aos artistas locais.

"Em Itaboraí, os eventos culturais acontecem quase que em sua totalidade no centro cidade. Vamos mudar isso e levar Cultura a todos os distritos, promovendo oficinas de música, dança e teatros. Vamos identificar e incentivar as manifestações regionais e ajudar na organização de eventos locais. A inclusão das pessoas menos favorecidas na cultura será nossa principal bandeira. Nossa ideia é produzir lives dos artistas locais e das Oficinas da Escola de Artes, assim continuamos promovendo cultura mesmo estando ainda numa pandemia e ao mesmo tempo estaremos dando uma estrutura para esses artistas se mostrarem. Vamos também atender a legislação do Governo Federal e Estadual promovendo a eleição do Conselho Municipal de Cultura e, assim, ativar o nosso Sistema Municipal de Cultural", garante Roberto.

Ex-presidente de escola de samba e artista plástico, Roberto afirma que conhece de perto as dificuldades enfrentadas pelo setor e para isso já trabalha na busca por recursos que possam contribuir para a retomada que está sendo planejada. O resgates de manifestação culturais do município que estão se perdendo por falta de incentivo e valorização, também é outra meta do gestor.

"E também correr atrás de parcerias públicas e privadas para termos mais recursos. Já estamos conversando com os envolvidos da Gaslub/Petrobras (Ex-Comperj) para conseguir contrapartidas culturais e viabilizar a visitação às ruínas do Convento e Vila que hoje estão inacessíveis à população do município. Como falei, precisamos valorizar a cultura regional de Itaboraí. E, acredito, que temos muitas importantes manifestações culturais perdidas que precisam ser revisitadas e apresentadas para nossa população. Nossa cultura regional é muito rica e diversificada. Iremos trabalhar para retornar os prêmios para os artistas, o carnaval nos bairros, feira de artesanatos, as festas religiosas, centro de memória, biblioteca municipal, entre outras.

Maricá - Novamente secretário de Cultura, Sady Bianchin possui uma enorme lista de ações para o setor, que prometem agitar a vida cultural do município, e assim, garantir uma retomada de grande porte para toda uma cadeia produtiva fortemente afetada pela pandemia.

"Além do repasse da lei Aldir Blanc, elaboramos um planejamento estratégico da cultura - PEC, que prevê metas a curto, médio e longo prazo. Entre elas políticas públicas de ações locais. Realizar a Conferência Municipal de Cultura, atualizar o plano cultural do município e criar a lei do fundo municipal de Cultura. Elaboramos uma série de selos que visam valorizar os artistas locais, como o Maricá Disco, Maricá em Cena, Maricá em Dança, entre outros, que têm como finalidade gerar renda através de quatro polos culturais que serão instalados em Itaipuaçu, Inoã, São José do Imbassai e Ponta Negra. Vamos criar a bolsa cultura para jovens talentos e edital de intercâmbio. Estamos preparando a Caravana Cultural que vai rodar por toda a cidade com uma trupe de artistas locais. Temos o único cinema de rua totalmente gratuito do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, o Cine Henfil. Estamos criando galerias a céu aberto, como a escadaria Boavista, criação do Museu de Arte Urbana, o Corredor Cultural no coração da cidade, faremos o projeto personalidades revitalizando o pensamento e obras de Darcy Ribeiro, Maysa Monjardim, João Saldanha, Oscar Niemeyer entre outros nomes ilustres que escolheram Maricá como opção de vida. Faremos também projetos articulados com a Educação como a "Escola aberta para obras", abrindo as escolas nos finais de semana para atividades culturais com a população e criação do Coral dos trabalhadores da Limpeza Urbana', enumera o secretário.

Uma vida dedicada à arte e um currículo que reúne diversas competências voltadas ao setor cultural, como ator, poeta, diretor de teatro, compositor, cineasta e professor, faz com que Sady também tenha uma atenção toda especial para a formação de novos agentes da indústria criativa, como parte de seu planejamento para a retomada da Cultura em Maricá.

"Também pretendo criar um polo cinematográfico e Audiovisual de Maricá, com uma escola de cinema baseada na formação humanista e libertária, uma rede nacional de audiovisual cidadã, festival de cinema e investimento em produções cinematográficas que utilizem Maricá como cenário, transformar Maricá na Capital da poesia brasileira com o FIP-MAR (Festival Internacional da Poesia), com poesia musicada, poesia dançada, poesia interpretada, poesia falada, poesia no audiovisual, entre outros. Estamos articulando o Consórcio Intermunicipal Inteligente do Estado do Rio de Janeiro, um intercâmbio entre os municípios do estado para preparar ações culturais conjuntas e elaborar uma agenda unificada. Faremos uma Bienal de Artes Plásticas de esculturas a céu aberto por toda a cidade', conclui Bianchin.