Tragedia anunciada: O Vírus venceu!

Por José Ricardo Marques é atualmente Secretário de Desenvolvimento Econômico

José Ricardo Marques

No ano passado redigi juntamente com o médico infectologista, Edmilson Migowiski, artigo que tratava da quarentena e abertura dos setores produtivos, os aspectos científicos e conseqüência na economia, especialmente nas pequenas empresas, responsáveis pelo grande número de empregos no Brasil e os milhões de empresários individuais, que investiram praticamente toda a sua economia diante de um nível de desemprego recorde.

O fato é que 2020 e 2021 (pelo menos no primeiro trimestre) arrastam a população brasileira para um abismo que parece cada vez mais fundo e perigoso, sem uma perspectiva de salvação, senão por aqueles poucos que guerreiam com uma fé inabalável e um esforço extraordinário.

Sim, estamos em uma guerra contra um inimigo invisível e incompreensível para a grande massa de pessoas pelo mundo.

O Brasil errou feio nas estratégias diante da grave crise sanitária que se apresentou em março de 2020 e, neste momento, tem o pior cenário.

Temos o negacionismo como planejamento, enfrentando o coronavirus de frente, sem máscaras e atendimento necessários aos protocolos sanitários.

As vacinas, ofertadas por pelo menos 4 grandes laboratórios que desenvolveram seus imunizantes, pelos desafios impostos pelas dimensões do Brasil, levarão pelo menos 2 anos para atender os mais de 210 milhões de brasileiros.

Chegamos ao ponto de ter um vírus para chamar de nosso, uma variante, que se desenvolveu em Manaus-AM, descoberto pelo Japão e que agora se espalha por todas as regiões deste país continental.

Um dos maiores problemas é a falta de coordenação, que deveria vir do governo federal e do Ministério da Saúde, com comunicação adequada e planejamento inteligente para conter a contaminação ou pelo menos, minimizar suas graves conseqüências.

No início, alguns Estados fizeram barreiras com isolamento mais severo, mas pelo apelo dos setores produtivos, absolutamente natural, afrouxaram as medidas de contenção.

Os testes, imprescindíveis para melhor tratamento epidemiológico foram abandonados, e hoje percebemos que poucos estados e municípios testam, quando esta é uma das maiores ferramentas para procurar monitorar a incidência do vírus em determinadas regiões.

De acordo com análises científicas e comportamento do vírus e sua variante mais contagiosa, teremos dias ainda mais difíceis e provavelmente chegaremos a mais de 2 mil óbitos por dia.

Ano passado foram instalados hospitais de campanha com equipamentos especiais como respiradores, que chegando da China, eram festejados por políticos como um troféu e agora, simplesmente desapareceram e foram desativados pelos desvios percebidos e pressão dos órgãos de controle, que se esmeram para perseguir criminosos, sem a cautela de atentar-se com indícios científicos. Ora, os hospitais de campanha eram e são absolutamente necessários.

O sistema de saúde entra em colapso em pelo menos 17 estados, praticamente não há vagas nos hospitais, os profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, estão à beira de uma crise de pânico e estresse, algo sem precedente. O risco é ter um colapso em funerárias e um número enorme de pessoas morrendo sem ar nas suas casas.

A OMS já retrata a tragédia brasileira. Continuamos com o negacionismo e grande parte do país, especialmente governantes sem preparo com a gestão da coisa pública, começam a entrar em desespero, sem saber exatamente o que fazer.

Especialistas indicam algumas soluções: primeiro, após o monitoramento de regiões com maior índice de contaminação, a solução é o chamado lockdown, testar, testar e testar, para evitar contaminação em massa e atuar com medidas adequadas, inclusive com instalações de hospitais de campanha e transporte de pacientes para outras regiões. Uma campanha massiva para alertar as pessoas a evitar aglomerações, o uso de máscaras e higiene pessoal e dos ambientes. Os ambientes, aliás, merecem melhor atenção. As lojas, os shoppings centers, restaurantes, bares, salões de beleza e tantos outros locais de acesso público e coletivo deveriam estabelecer padrões sanitários, evidenciando a sua segurança com monitoramento profissional e soluções que garantam a eficácia contra os microrganismos presentes, neste caso, o coronavírus.

Os meios de transportes são outro meio de contaminação que deveriam ter um tratamento diferenciado.

Não se pode negar que o vírus está na dianteira e vencendo nosso cansaço e paciência e a necessidade de trabalharmos para pagarmos as contas, muitas para abrigar serviços públicos.

Os imunizantes devem ser adquiridos em quantidade suficiente para no menor prazo possível vacinarmos a grande população e minha sugestão é atender ao máximo possível os que estão mais ativos na economia, para retomarmos as atividades econômicas o mais breve.

Os idosos, estes, por maiores cuidados, devem permanecer em total isolamento, sem sequer visitas dos mais próximos. A tecnologia está presente para mantermos contato, até porque a maioria dos filhos, falemos a verdade, somente encontram com seus pais e avós por telefone e em longos períodos.

As escolas precisam funcionar, pois a morte real é ter nossa educação, já qualificada como muito ruim, no seu fim, e para recuperar dois anos perdidos, levaram algumas décadas de muito trabalho.

O Home Office e a mudança no mercado imobiliário é uma realidade sem volta. Cidades do interior, com bom clima e infraestrutura receberão mais profissionais e famílias. Os grandes centros e imóveis de escritório minguarão. A solução, talvez, seja a adoção de pequenos apartamentos, especialmente para jovens, e coworking adaptados com toda a segurança e atendimento a protocolos.

A tragédia foi anunciada e o vírus, com capacidade impressionante de transmissão, venceu os negacionistas e todos os que de alguma forma desdenharam da grave crise de saúde pública e das medidas necessárias e urgentes.

É possível vencer a guerra, como tantas outras já vencidas, temos tecnologia e ciência, a questão é ter capacidade de gestão e execução no enfrentamento da pandemia que entra em uma fase ainda mais dramática.

A vacinação deve ser prioridade máxima, e neste ponto, discordando da Dra. Dalcomo da Fiocruz, penso que deveria haver autorização para que a iniciativa privada possa adquirir os imunizantes e vacinar seus colaboradores e até os clientes. A CNC, CNI, CNA. COFEN. CFM, OAB. CNT, SEBRAE e tantas outras instituições que tem papel crucial na economia e seu desenvolvimento, poderiam ser instrumentos poderosos para colaborar no plano nacional de imunização. O importante é vacinar o maior número de brasileiros, especialmente os que estão à frente da saúde, os professores (precisamos retomar as aulas o mais rápido possível), e todos os que de alguma forma possam contribuir para a retomada da economia.

Agora, aquela pessoa que havia contraído o vírus e falecido, um desconhecido em primeiro plano, está mais próximo.

Vamos manter a esperança, pois o otimismo responsável deve sempre prevalecer, nos unir para dar soluções rápidas e não fazer parte do problema.

O vírus até agora vem comemorando a nossa ineficiência... ele está vencendo, infelizmente!

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