Um novo paradigma

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Dom José Francisco*

É muito difícil convencer uma pessoa de que é preciso evoluir dos antigos padrões que garantiam a segurança dos paradigmas construídos.

Observem que, já, os anúncios a Sara, Rebeca, Raquel, Ana foram todos construídos sobre o modelo de uma quebra de paradigmas. A esterilidade das mulheres bíblicas e sua reversão marcou uma etapa na civilização, que foi a passagem da coisa à palavra, da certeza à esperança. A partir de Abraão, os filhos já não foram mais concebidos a dois, mas a três, com a intervenção de um gesto eficaz.

O anúncio a Zacarias e a Maria seguiu a mesma entoada bíblica, mas, ao mesmo tempo, a modificou: o centro estava na palavra. Depois do anúncio, Zacarias perde a fala; Maria, ao contrário, ganha a palavra.

É muito interessante ver os visitantes perguntando a Zacarias, por gestos, como o filho se chamaria. Ora, até onde sabemos, ele estava mudo, não necessariamente surdo. A verdade é que ele estava amputado da palavra. Para reencontrar a palavra, Zacarias escreveu numa tabuinha o nome do filho: João. Foi a palavra, que lhe havia sido tirada, que o resgatou da ausência de si e o trouxe de novo ao convívio.

No princípio é sempre a palavra, e ela resiste, tenazmente, a toda tentativa de lhe esgotar o sentido. Sem a palavra, não entendemos o mundo. A mesma palavra que gerou os primórdios do mundo, fez a virgem engravidar. "E Deus disse: que a luz seja! E a luz veio a ser".

Uma imagem fala mais do que mil palavras? Pode até ser verdade! Mas observe: só depois que as mil palavras foram usadas para explicar a imagem.

Nada supera a palavra, nada a constrange nem a detém: nem a esterilidade das mulheres bíblicas nem a secura de uma modernidade cada vez mais ávida de coisas, porém esvaziada do sentido que trafega nas rotas da palavra.

Esse é um novo paradigma.

Vamos aderir a ele?