Por um maio de esperança

Marcus Vinícius Dias, diretor do Azevedo Lima - Foto: Divulgação

Cidades
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*Marcus Vinicius Dias

O sinal amarelo alerta ao motorista que tenha atenção! É um prenúncio de que a luz vermelha, que sinaliza a ordem de PARE, está por vir. No intuito de chamar a atenção do mundo para os acidentes viários, o movimento Maio Amarelo surge do resultado da união do poder público e da sociedade civil visando a mobilizar a todos para a endemia dos acidentes de trânsito que ocorrem na sociedade hodierna.

Em um momento de luta contra o vírus do Covid 19, que há mais de um ano aterroriza o mundo e monopoliza a pauta jornalística, vemos, concomitante, uma verdadeira escalada dos acidentes de motocicleta, especialmente motivada pelo incremento da atividade de delivery que foi fortemente impulsionada pela pandemia.

Nas emergências dos hospitais públicos Brasil a fora, vê-se, diariamente, jovens, predominantemente do sexo masculino e da classe C, serem levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o SAMU, porta a dentro, vítimas de acidente em via pública por queda de moto. Não raro estes jovens usam a motocicleta como meio de subsistência; não raro abrem mão de equipamentos de proteção próprios do motociclismo; muitas vezes não possuem o devido treinamento e habilitação para pilotar; não raro, sofrem lesões graves que requerem tratamento cirúrgico especializado; não raro carregam consigo sequelas definitivas em virtude de fraturas. Infelizmente, muitas vezes, têm suas vidas ceifadas em fase precoce por conta dos ferimentos decorrentes do acidente...

Em tempos em que se discute o papel efetivo e concreto de medidas restritivas de mobilidade no combate à disseminação do vírus, não nos restam dúvidas que uma limitação do deslocamento em vias públicas diminuiu a incidência destes acidentes na ponta. E, de modo relativo, isso promoveu um aumento de leitos disponíveis no Sistema Único de Saúde, principalmente de terapia intensiva, para pacientes com Covid 19 que necessitam de cuidados críticos.

Como a capacidade de tolerar essas restrições da sociedade é limitada, o que observamos no Maio Amarelo passado não é realidade no momento atual. Em meio à pressão que o sistema público sofre por conta da pandemia, vemos, de modo simultâneo, uma pressão enorme dos acidentes de moto dos nossos jovens entregadores sobre as salas de trauma. Estes disputam com os pacientes de Covid além dos leitos, os racionados insumos necessários para a intubação. E, frequentemente, dividem, em portas de entrada pareadas, o espaço pela chance de viver. E se (felizmente!) observamos uma efetiva ação da vacina na prevenção das internações pelo Covid 19, o mesmo destino não é notado em relação às vítimas dos acidentes de motocicleta.

Os impactos e desdobramentos desta endemia que há muito vivemos já foi por mim comentado em outras oportunidades. O peso emocional, social, financeiro e previdenciário causado pela violência do trânsito é intuitivo a um aluno ginasiano. Qualquer olhada nas ruas nos permite observar que os jovens rapazes de motos de baixas cilindradas e suas "caixas" na garupa, cortando o tráfego de modo frenético em busca do seu sustento, vieram para ficar e prosperar em quantidade. Toda vez que recebemos um remédio que nos alivia, uma comida que nos delicia, uma encomenda que nos diverte, há, no ato que nos traz essas necessidades indeléveis, um risco que não é mais oculto. Ao saírem de casa para cumprir suas jornadas, os moto boys, dos grandes e médios centros, literalmente não sabem se irão retornar inteiros ao fim do dia aos seus lares. E, se nada de muito efetivo e reformador não for feito, seguiremos vendo esta escalada no dia-a-dia da sociedade moderna.

Oxalá que em Maio de 2022 o drama da Covid 19 seja coisa do passado. Que as vacinas que mundo aforam são produzidas e desenvolvidas deem ao mundo o refrigério necessário para que o uso de máscaras e "soquinhos" de mão sejam coisas superadas. Mas também que nós, como sociedade, desenvolvamos a imunidade de rebanho para que se supere a endemia das mortes e sequelas evitáveis causadas pelos acidentes de trânsito. E que os Maios futuros não mais sejam amarelos, mas verdes como sinal de esperança.