Pedido de propina confirmado

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ouviu ontem (1º) o policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira. Após ser questionado pelos senadores, o policial teve que assinar um termo circunstanciado e seu celular foi apreendido. O equipamento foi lacrado na presença dos senadores da comissão.

Dominguetti confirmou que participou de uma reunião com integrantes do Ministério da Saúde na qual teria sido pedido propina de US$ 1 pela venda de cada uma das 400 milhões de doses, em negociação com a pasta, da vacina Oxford/AstraZeneca.

Segundo ele, o encontro ocorreu em fevereiro, em um restaurante em Brasília, com a presença do então diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, e do coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, à época diretor substituto do mesmo departamento. Os dois foram exonerados na quarta (30) da pasta após reportagem sobre o assunto publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Luiz Paulo Dominguetti disse ainda que uma quarta pessoa, que ele não sabe o nome, também esteve no encontro.

Suspeita - Aos senadores, o vendedor causou estranheza ao garantir ser representante da empresa Davati no Brasil desde janeiro e que tinha autorização para negociar com o governo em nome dela. Dominguetti disse que está na Davati há um ano e meio, mas que, por ser servidor público, não tem contrato formal e que acumula a função privada com o trabalho de policial, o que é ilegal, para complementar a renda. Perguntado se a Davati tem licença da AstraZeneca para comercializar imunizantes, Dominguetti disse que somente o dono da empresa brasileira, Herman Cárdenas, que tem acesso a documentos confidenciais, poderia responder a essa pergunta.

Áudio- Dominguetti Pereira surpreendeu os senadores ao ser questionado se teve conhecimento de algum parlamentar que teria tentado negociar diretamente a compra de vacinas com a Davati. "A informação que tenho é de um: o que aqui que fez acusação contra o presidente da República", respondeu numa referência ao deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Dominguetti ressaltou, no entanto, que não conhece o parlamentar que, na verdade, teria conversado com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.

"O Cristiano me relatava que volta e meia tinha parlamentares procurando, e o que mais o incomodava era o Luis Miranda", declarou. O vendedor acrescentou que Carvalho lhe enviou um áudio pedindo uma live, que tinha um cliente recorrente que comprava pouco e em menor quantidade, mas que poderia "colocar a vacina para rodar".

Dominguetti, então, mostrou um áudio em que supostamente Miranda negociava vacinas. A gravação teria sido enviada para Carvalho e, posteriormente, ele encaminhou ao policial. Segundo o depoente, o áudio foi enviado junto a críticas ao depoimento de Miranda durante a CPI da Pandemia. "Olha ele lá [na CPI], porém falando o inverso. No áudio, a prática era tentativa de aquisição de vacinas", ressaltou o depoente.

Outro lado - Diante das acusações Luis Miranda esteve no Senado para confrontar o depoente, mas foi impedido pela segurança da Casa de entrar no plenário da CPI. Apesar disso, ele conversou reservadamente com o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e os senadores Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, e Marcos do Val (Podemos-ES). "O que ele [Luis Miranda] disse é que esse áudio é de 2020, uma negociação dos Estados Unidos, e que o que está aqui foi editado para prejudicá-lo", contou Aziz.

Ainda segundo o presidente da CPI, o deputado foi à polícia fazer uma denúncia-crime, e vai disponibilizar o áudio original à CPI. Mais tarde, em entrevista coletiva no Senado, Luis Miranda disse que o áudio se tratava da intermediação para aquisição de luvas pela empresa dele nos Estados Unidos.

Novo depoimento - Após a reprodução do áudio da conversa do deputado Luis Miranda, Omar Aziz confirmou a reconvocação do parlamentar para próxima terça (6) em audiência aberta e não secreta como havia solicitado o deputado. "Se o deputado Luis Miranda estiver envolvido com maracutaia, se ele pegou pernada, isso é problema dele, não é nosso. Não tem que proteger ninguém aqui não", ressaltou Aziz.