O Centro continua à espera

Charbel Tauil Rodrigues*

A abertura de uma filial do Magazine Luiza em Niterói, bem na Rua São Pedro, no "centro do Centro", é algo a ser festejado pelo que representa em termos de geração de empregos e novos atrativos para os consumidores em geral. Mas que o público não se iluda: a chegada da loja aqui na cidade se dará por questões de localização comercial estratégica, não tendo absolutamente nada a ver com a prefeitura municipal. Na verdade, não há absolutamente nada, na região, que seja positivo e decorrente de ação do nosso midiático Executivo. Muito pelo contrário: o Magazine Luiza vai abrir em Niterói apesar do total descaso da prefeitura com a região do Centro, o que já perdura há pelo menos nove anos.

A rede Luiza está se expandindo nacionalmente de forma admirável, e vai abrir aqui como está fazendo (e fará) em muitas outras localidades estratégicas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Neste contexto, Niterói é apenas mais uma peça no tabuleiro, e muito conviria aos nossos administradores públicos que começassem a sair da inércia, porque senão em breve poderemos ver a Magalu ir embora num estalar de dedos, conforme seus funcionários forem constatando a duríssima realidade do dia-a-dia no Centro de nossa cidade. Isto pode muito bem acontecer.

Tomemos como exemplo a própria Rua São Pedro. O trecho inicial, transformado em rua de pedestres, funciona na verdade como uma triste avenida da camelotagem, com barracas acotoveladas a menos de três metros da porta de cada loja ali existente. É um cenário horroroso, que além de tampar a visão das vitrines e fachadas impede, em caso de necessidade, a passagem de ambulâncias ou veículos dos Bombeiros. O comerciante legalizado, que paga seus impostos e mantém empregos, se vê escorraçado para um canto do cenário e, se ocorrer algum incêndio, pior para ele, pois o socorro não conseguirá acessar o local. Cabe aliás perguntar à nossa prefeitura por que não obriga — por uma questão de segurança — os camelôs a desmontar suas barracas ao final do dia, de forma o trecho livre.

Agora mesmo vemos a prefeitura comemorar o projeto da nova orla de Charitas. Que bom. Charitas merece, e nossa cidade também. Mas e o Centro, onde há quarteirões e mais quarteirões de lojas, escritórios, estabelecimentos de ensino e unidades habitacionais? Nada? Nada mesmo, nunca? É este o reconhecimento do Poder Público para com esta região vital para o desenvolvimento de nosso município? A Zona Sul, e só ela, tem que estar sempre em primeiro lugar?

Já o dissemos e vamos repetir aqui: quando nós, do Sindilojas, discorremos sobre o Centro, não estamos falando da estação das barcas, do Caminho Niemeyer nem da Jansen de Mello, que são contornos, linhas externas ao bairro. Nós, comerciantes, queremos ver o miolo do Centro reflorescendo, recebendo investimentos de peso em urbanização e modernização, de forma a transformá-lo numa região novamente atrativa para negócios e moradia.

O Centro de Niterói continua à espera de uma ação abrangente de revitalização, sem a qual deixa de ter legitimidade qualquer discurso oficial que fale em desenvolvimento econômico e social.