Por um mundo menos imundo

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Dom José Francisco*

O homem traz marcas de sua pertença ao mundo: ele é finito e infinito, ao mesmo tempo.

Existe um percentual da estrutura humana que podemos chamar da sua realidade mais íntima, e essa realidade, apesar de íntima, é curiosamente abrangente segundo a particularidade única de cada ser humano, também ele único. É bom saber que essa realidade totalmente íntima não é nem rígida nem definida de uma vez por todas, como se o ser humano fosse um cadáver ambulante.

E ainda mais, mesmo sendo íntima, ela é voltada para o amanhã e para o lado de fora: aberta para o futuro e para o mundo. É assim que encontramos, no homem, as modalidades de um ser, ao mesmo tempo, interno e externo, íntimo e último, presente e futuro, consciente e inconsciente, preso às conveniências e livre delas, aberto na diversidade e livre na transcendência. Sim, livre, sobretudo, quando não tem nada a perder: só é realmente livre quem não tem nada a perder.

Essa riqueza humana é tão grande e soberana, que o homem, com frequência, nela se perde e perde a liberdade.

Não é de hoje que o homem troca liberdade por supremacia, ainda mais, se tiver de conviver com outro humano como ele. Triste é que essa difícil convivência acabe sendo regida pela força, e a força se transforme em poder, escancaradamente.

Nunca foi tão necessário ter clara a noção de direito.

Não é por acaso que as ditaduras extremas se tornam repressivas, por desconhecerem, justamente, o que seja o direito. Daí que lancem mão do embuste da violência e inventem caricaturas obscenas de democracia, como se por si só, e na ausência de legitimidade, isso garantisse a sua manutenção,

Um mundo como esse é torto demais para ser levado a sério. Em latim, mundo (mundus) significa limpo: um mundo assim é imundo.