Mourão fala de sua paixão pelo Rio: 'Precisamos estar unidos'

Radialista Antônio Carlos dos Santos entrevistou o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão - Foto: Divulgação

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Em entrevista ao radialista Antônio Carlos dos Santos, presidente do PRTB-RJ, na rádio carioca AM 710, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, contou um pouco de sua história de vida, apontou várias medidas para recuperar o estado, para o combate à violência contra a mulher, e falou de sua paixão pelo Flamengo, além de deixar uma mensagem de esperança para toda a população do Estado.

Antônio Carlos dos Santos - General, o senhor, como militar, conhece o Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste, assim como vários países do mundo onde participou de missões militares e missões de paz. Nós queremos saber como foi sua chegada ao Rio de Janeiro e como nasceu essa paixão pelo nosso Estado?

Hamilton Mourão - Meu pai também era militar. Eu nasci no Rio Grande do Sul e com 9 anos cheguei ao Rio de Janeiro, no segundo semestre de 1962. Nós viemos morar na Urca e a partir daí iniciou essa, vamos dizer, simbiose minha com a cidade do Rio de Janeiro e mais ainda com o Estado do Rio de Janeiro. Naquela época, o Rio tinha deixado de ser a capital da República, era o estado da Guanabara, de saudosa memória. Era um momento totalmente diferente da história do Brasil, ainda era o país que estava recém se industrializando. Não tinha dado o seu grande salto avante. Era um importador de alimentos e o Rio, a vitrine do Brasil. Na minha opinião, ainda tem um grande espaço essa cidade. Tem esse espaço para ser isso. Uma cidade maravilhosa. A Avenida Atlântica era uma pista só, o Aterro do Flamengo tinha sido recém inaugurado. Era uma outra cidade. Uma cidade que estava engatinhando ainda quando comparada ao que nós vivemos nos dias de hoje. Vivendo ali na Urca, estudei na escola Estácio de Sá, que fica dentro do forte São João, e depois ingressei no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Então foi um período muito bom da minha vida essa primeira fase em que fiquei no Rio de Janeiro.

Antônio Carlos dos Santos - Mas o Rio de Janeiro vem sofrendo, já há muitas décadas, com o forte declínio econômico financeiro. Um declínio, eu digo, até moral, político e que isso vem trazendo consequências principalmente agora, na pandemia, que é onde ela aflora mais. É grande o número de casos de violência, de pessoas de situação de rua, por exemplo. O senhor enxerga algumas saídas para a retomada do desenvolvimento da cidade e do Estado do Rio de Janeiro?

Hamilton Mourão - O Rio de Janeiro é um retrato 3X4 do que ocorre no Brasil como um todo. Ele não foge daquilo que nós viemos enfrentando no País, além da crise política que vive, não é? É lamentavel que no nosso Estado os últimos governos foram extremamente controvertidos por praticamente todos eles estarem envolvidos em atos de corrupção, ou seja, desvios de recursos públicos que deveriam ser utilizados para atender às necessidades da população e na realidade foram desviados para os bolsos. Daquilo que meu amigo, grande jornalista Elio Gaspari, chama dos "maganos", aquela turma do colarinho branco. Esse pessoal se locupletou. A primeira coisa que a gente precisa, vamos dizer assim, é de uma classe política realmente comprometida com a moralidade, a legalidade, a impessoalidade e com transparência, ou seja, com os bons princípios da administração pública.

Nós precisamos, na questão econômica, resolver os dois problemas que são iguais ao do Brasil. Um é o equilíbrio fiscal no Rio de Janeiro. Ele tem que entrar dentro do orçamento que é capaz de arrecadar e este orçamento ser utilizado sem desperdícios e sem corrupção. E para isso reformas que vem sendo feitas como a questão previdenciária, a questão administrativa, um enxugamento do estado é necessário para que ele realmente seja mais moderno, mais ágil e que tenha a capacidade de atender as necessidades da população e também a questão da produtividade e tributos que são muito elevados. Vamos dizer assim: ambiente de negócios que não é o mais amigável, então nós precisamos fazer avançar em nível nacional e estadual, com legislações que facilitem a vida de quem quer empreender, trabalhar, produzir. Dando asas para que as pessoas realmente busquem as suas vocações e empreendam.

Na questão social, que é muito grave, nós temos em primeiro lugar uma ocupação desordenada do solo do Rio de Janeiro. Não é possível nós continuarmos a conviver com as favelas da forma como elas estão e eu falo com a palavra favela porque se usa o eufemismo comunidade. Mas na realidade as pessoas vivem ali sem saneamento básico, sem segurança. É necessário que as pessoas que se instalaram nesses lugares tenham acesso à água tratada, que tenham esgoto, que tenham escola na proximidade, que tenham posto de saúde e, principalmente, que tenham rua com número, casa com seu número, ou seja, o título de propriedade daquele local que ele ocupou, ou seja, uma regularização fundiária. Se fala muito na regularização fundiária que todo mundo pensa em termos da área rural, mas não na área urbana. Nós temos um sem número de famílias que não têm o título da casa, do terreno, onde acabaram ocupando e construindo. Então é necessário que o Estado regule isso aí. O Rio de Janeiro pode ser um grande centro financeiro, comercial e portuário. E, consequentemente, gerando empregos e renda para a imensa maioria dos fluminenses que aí vivem.

Antônio Carlos dos Santos - Mudando um pouquinho de foco, nós estamos em agosto. Agosto é um mês referência da campanha de combate à violência doméstica. Sou um defensor árduo da Lei Maria da Penha. O Rio de Janeiro possui elevadíssimos números de violência contra a mulher. Para o senhor ter uma ideia, diariamente, 250 mulheres sofrem algum tipo de violência doméstica. Essa legislação completa 15 anos e nós agora, no Agosto Lilás, comemoramos esta fantástica criação da lei e, mais ainda combatendo este absurdo de feminicídios e de violências. O que o senhor pensa a respeito da importância da Lei Maria da Penha no combate a este tipo de crime tão absurdo e tão covarde?

Hamilton Mourão - Essa questão da violência exercida contra a mulher em todos os níveis, vamos dizer assim, é algo que tem que ser tratado não só com a legislação forte, mas com educação. A educação para que as pessoas, os seres humanos, principalmente nós que somos homens, desde cedo entendamos que os dois sexos têm igualdade de direitos, foi algo que foi sendo conquistado ao longo da história da Humanidade. Vamos lembrar que antes a mulher não votava, depois a mulher passou a votar, a mulher não tinha acesso ao mercado de trabalho, haviam determinadas profissões que dizia essa aqui é profissão para mulher, a mulher não podia ser engenheira. Então isso tudo aí a mulher foi conquistando com paciência, que é uma grande característica do sexo feminino. E nós temos que ultrapassar essa questão que a gente vive hoje. De ainda existir um elevado número de atos violentos e assassinatos. Apesar que temos uma legislação bem impositiva que é a Lei Maria da Penha. Então, eu julgo exatamente que nós temos que dar educação. Eu bato muito nessa tecla. Desde cedo a convivência harmônica que começa dentro da escola do parquinho desde que a gente é criança e subindo ao longo da vida dentro da empresa que trabalha um respeitando ao outro, entendendo possibilidades e limitações e só dessa forma nós vamos conseguir entrar num patamar superior de um relacionamento aí entre as pessoas. Agora é óbvio que a legislação sempre terá que haver por que o primado da lei que permite que haja um estado de direito. O estado de direito é exatamente isto. Se não nós viveríamos num estado anárquico onde não haveria respeito mútuo e onde cada um faria o que bem entendesse. Então o primado da lei é a lei valendo para todos. Isso é importantíssimo. Eu boto esse "TODOS" com letras maiúscula, em letras garrafais mesmo. É fundamental para que uma democracia funcione perfeitamente.

Antônio Carlos dos Santos - Agora, general, num momento de descontração, vem uma pergunta que não quer calar. Flamengo: de onde vem essa paixão rubro-negra? O senhor nas suas entrevistas, nas suas palestras, está sempre com a máscara do Flamengo e não esconde isso. De onde surge esse amor pelo nosso "Mengão"?

Hamilton Mourão - Você começou me perguntando quando é que eu cheguei ao Rio de Janeiro, como é que nasceu essa minha empatia com a cidade. Naquele momento eu também estava formando ali, aos 9 anos de idade, recém feitos, a minha identidade futebolística. E ali nasceu essa simbiose com o Flamengo. Apesar de ter sido um momento extremamente difícil. Na final do Campeonato Carioca de 1962 o Botafogo tinha uma esquadra que era dos sonhos. O ataque do Botafogo era Garrincha, Amarildo, Quarentinha e Zagallo. No meio do campo Didi e na lateral esquerda, Nilton Santos. O Flamengo perdeu por três a zero. Então ali poderia ter acabado vamos dizer assim a minha paixão, mas muito pelo contrário.

Saudade do velho Maracanã, da charanga do Jânio de Carvalho. O ambiente de respeito que havia entre as torcidas. Era muito bom. Lamentavelmente hoje, muitas vezes a gente vê conflito entre torcida que é um troço horroroso. E óbvio que aí foi sendo construída essa paixão rubro-negra. O hino do Flamengo eu considero sensacional. Não me vejo não ser outra coisa que não fosse Flamengo, e ainda bem que meus filhos são flamenguistas, meus netos são flamenguistas. Então estou no meio de uma família de flamenguistas.

Antônio Carlos dos Santos - Gostaria que o senhor mandasse para o nosso povo uma mensagem do seu coração. Uma mensagem de fé e de otimismo.

Hamilton Mourão - Mando uma mensagem aí para o povo do Estado do Rio de Janeiro não só para a cidade do Rio. Para o povo lá de Angra dos Reis, lá da minha Resende, onde eu vivi seis anos da minha vida, quatro anos como cadete e dois anos como tenente instrutor, Volta Redonda, Barra Mansa, aquelas cidades ali da vizinhança, pessoal da Região dos lagos, Búzios, Cabo Frio, Araruama, Arraial do Cabo. Também lá do norte do estado. Lá de Macaé, São Fidélis, terra do meu amigo Evaristo Siqueira, e para todas essas cidades que compõem esse maravilhoso estado. Vamos superar. Precisamos estar unidos. Precisamos entender também que disputa política não necessariamente significa briga. Muito pelo contrário: a disputa política é para a gente mostrar qual é o melhor programa. Qual é o melhor caminho para que a gente atinja os objetivos de prosperidade, de termos renda para todos os habitantes e que a gente viva em harmonia. Essa é a mensagem que eu quero mandar e contar uma história do velho Maracanã. Na geral, viu Antônio Carlos, o torcedor jogou o chinelo no bandeirinha e depois, ele ficou pedindo:" Bandeirinha devolve o meu chinelo, senão
eu vou voltar descalço para casa". Esse é o espírito do Rio de Janeiro.