Itaipu: canal se fecha e ameaça saúde da lagoa

Canal de Itaipu desde ontem está fechado, o que impede a renovação das águas do sistema lagunar da Região Oceânica - Foto: Divulgação/Gustavo Supmann

Niterói
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Depois de meses lutando contra as forças da natureza, ontem o canal que liga a Lagoa de Itaipu à praia voltou a ser fechado pela areia. Aberta pelo homem há algumas décadas, a passagem para o mar é responsável pela renovação da água do sistema lagunar da Região Oceânica de Niterói, garantindo a limpeza e oxigenação do espelho d'água, que ainda sofre com derramamento de esgoto. Como resultado, ele está mais escuro e com uma textura quase pastosa, contam banhistas. O mau cheiro já tomou conta do local. Preocupados, moradores e frequentadores organizaram um mutirão para o próximo domingo, às 9h. Com pás e enxadas eles farão um ato simbólico para chamar a atenção das autoridades.

Mas o problema no local não é novidade. Até poucos meses, retroescavadeiras da prefeitura eram vistas no canal, garantindo ao menos um filete de água para impedir o completo assoreamento. Mas as máquinas foram retiradas e a situação veio se agravando a cada dia, com as sucessivas ressacas.

Desapropriações - O instrutor de stant up paddle (SUP) Gustavo Supmann, uma das principais referências do esporte no município e liderança local, conta que o prefeito Axel Grael, durante sua campanha eleitoral, havia sinalizado que havia um projeto de dragagem para salvar a lagoa que levaria seis anos para ser implementado, já que obrigaria a desapropriação de vários imóveis à beira do complexo lagunar, mais precisamente na área construída na região da ciclovia em Piratininga.

"Com uma abertura definitiva do canal, não esse paliativo que temos visto ao longo dos anos, o nível da água subiria uns 80 centímetros e a água invadiria as residências. Então, desapropriações teriam que ser feitas antes das obras. Foi o alegado na época. Também foi dito que as ações dependiam da liberação pelo Inea - Instituto Estadual do Ambiente", lembra Supmann, ressaltando que a lagoa está morrendo e não pode esperar. "Precisamos de uma ação urgente", alerta.

O complexo lagunar da região oceânica é fonte de sustento para pescadores artesanais e celeiro de atletas de esportes náuticos como o SUP, windsurf e o próprio surf, praticado por iniciantes nas ondas que se formam na área protegida no canal de Itaipu.

"Hoje (ontem) não consegui ficar mais de cinco minutos na água", lamentou Cátia Nascimento, de 25 anos, que tentou se aventurar na Lagoa de Itaipu com sua prancha de SUP.

Convênio - O Inea informou que é favorável à abertura do Canal de Itaipu, por meio de dragagem e adequação dos molhes, para promover a recuperação do sistema lagunar Itaipu-Piratininga. No entanto, entende que tal obra deve ser precedida por estudos mais aprofundados, que levem em conta potenciais efeitos adversos de processos de erosão costeira e possíveis consequências de elevações no nível médio do mar. O assunto já foi apresentado ao Conselho da Reserva Extrativista Marinha de Itaipu, que avaliou como positiva a intenção do Inea de iniciar os estudos para readequação da obra e de dragagem imediata.

O Inea ressaltou, no entanto, que através de convênio concedeu à prefeitura poderes de atuação para manutenção dos corpos hídricos situados no município, após licenciamento para estas intervenções.

Licitação - A Coordenação do Programa Região Oceânica Sustentável (PRO Sustentável) diz que já foi constituído processo licitatório e está sendo aguardada aprovação, por órgãos internos da prefeitura, para publicação do edital de contratação do projeto executivo de desassoreamento do canal da Lagoa de Itaipu e recuperação dos enrocamentos (blocos de rocha compactados) que protegem o canal. Mas prazos não foram divulgados.