Sobre os ventos e as águas

Por *Dom José Francisco Mitra Arquidiocesana de Niterói

Dom José Francisco*

Três potencialidades sempre ocuparam lugar de proeminência na vida humana: o poder, o dinheiro e a sexualidade. É a maneira como são usadas que denuncia as mais profundas convicções do usuário.

Já sabemos que a sociedade brota de suas relações com o poder de pessoas, grupos ou instituições que detêm a força de impor normas e exigir submissão. O poder é uma realidade da qual não escapamos.

Ninguém mais que a sociedade da Palestina do tempo de Jesus sabia disso. Vassala do Império Romano, tentava se adaptar quanto podia às normas dos poderosos. Mas poder sempre é poder.

E Roma tinha um poder legal de coerção e exercia um controle tão rigoroso sobre as estruturas sociais, que não permitia que sua legitimidade sofresse abalos de qualquer ordem. Para tanto, confiava numa enorme máquina militar. Porém, nada disso seria possível sem o apoio de uma elite local colaboradora, leal aos dominadores, que se pavoneava sobre o povo e dele recebia respeito e admiração. Imaginem!

Vivendo nesse meio, Jesus sempre manteve uma atitude crítica em relação aos detentores de poder na sociedade. Ao mesmo tempo, possuía uma autoridade incomum, que tanto surpreendia como atraía.

De onde ele tirava essa autoridade sem apresentar nenhum credenciamento oficial, sem o testemunho de nenhum mestre publicamente reconhecido ou alguma autoridade em quem se apoiar?

No caso dele, não havia mesmo nenhuma autoridade hereditária humana. O exercício coercitivo do poder o desviaria do seu caminho. A autoridade de Jesus brota no território da liberdade.

Essa é sua grande novidade!

E ela deitava raízes numa singular experiência com alguém a quem ele travava por Abbá, Papai. Se ele exerceu algum poder direto foi sobre os ventos e as águas. Apenas!

Precisamos voltar a esse assunto.

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