Ainda somos Pilatos?

Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/Divulgação

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Dom José Francisco*

Desde que Jesus se impôs por todas as partes do mundo, sua presença não pôde mais ser dispensada. Podemos recusar ou evitar, jamais ignorar; podemos contestar, mas devemos constatar.

É tarde demais para silenciar sobre ele, esquivar-se ou fingir ignorá-lo.

Uma pergunta nos espeta, aquela que ele mesmo fez: "Quem os homens dizem que eu sou?" (Marcos 8). Todas as abordagens filosóficas, teológicas, linguísticas, ainda que indispensáveis, não resolvem essa questão: ela fica lá, na esquina da existência.

Jesus teria respondido? Verdadeiramente morto num verdadeiro abandono, ele deixou seus discípulos verdadeiramente perdidos, num verdadeiro desespero. Para que eles cressem, era urgente que alguma coisa acontecesse, de forma ainda mais verdadeira do que a sua morte e o desespero que ela ocasionou.

Não aconteceu, apenas. Está acontecendo. E ele não respondeu, está respondendo.

Se não é fácil, ninguém prometeu que seria. Atestar que alguém morreu-e-voltou repousa sobre as provas do impossível: é como atravessar uma pinguela entre a loucura e a insensatez, e sair dali, pelo menos, renovado.

Na nossa finitude, não conseguimos ir além da fronteira entre o possível e o impossível.

Ainda não conseguimos responder: E vocês, quem vocês dizem que eu sou? (Marcos 8).

Para os teólogos e filósofos, decepcionados, ele deixou que essa questão permanecesse aberta, como uma pergunta, a ser respondida por cada um, na medida em que for buscada com honestidade de coração.

Diante dele, ainda somos Pilatos. "Tu és o rei dos judeus?" (Marcos 15). O tempo passa, e continuamos Pilatos, esperando que ele dê provas, seja o que nunca quis ser, responda questões que nunca se propôs a responder.

Pilatos quis ver o rei, ali onde se encontrava o Servo.

Ainda somos Pilatos?