Alergia ao ovo e vacina para febre amarela

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A febre amarela é uma doença causada por vírus e transmitida por mosquitos, muito grave e com alta taxa de mortalidade (entre 20 e 50%). No Brasil foram registrados grandes surtos de febre amarela silvestre no período de 2014 a 2021 e a Região Sudeste foi atingida, causando preocupação visto ser uma área altamente populosa e com menor cobertura vacinal para esta doença.

A forma mais eficaz de prevenir a febre amarela é a vacinação. Cerca de 90% das crianças e entre 95 e 97% dos adultos que são vacinados para a febre amarela ficam protegidos, principalmente para as formas graves e letais.

Em 2019, o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI) ampliou a recomendação da vacinação da febre amarela para todo o território nacional, com uma dose ao longo da vida para os adultos e, para crianças menores de 5 anos, um esquema com duas doses (primeira dose aos 9 meses e reforço aos 4 anos)

Na composição da vacina para a febre amarela existe a proteína do ovo, o que muitas vezes impede ou dificulta a vacinação naquelas pessoas com alergia a ovo, pelo risco de reações alérgicas. Assim, existe a dúvida sobre vacinar ou não a pessoa que tem história de alergia a ovo.

Não existe necessidade de uma criança comer ovo antes da vacinação para saber se vai ter alergia à vacina, principalmente naquelas sem história clínica compatível com alergia ou que estejam em introdução da alimentação complementar. Se a criança ou o adulto tem diagnóstico ou suspeita clínica de alergia ao ovo, o mesmo deverá ser preferencialmente encaminhado ao alergista para confirmar ou não a alergia e assim ficar tranquilo quanto à vacinação da febre amarela. O médico poderá realizar investigação de alergia solicitando testes alérgicos na pele ou outros exames mais específicos. Assim, os resultados destes exames associados à clínica do paciente poderão ser melhor interpretados pelo especialista que irá indicar ou não a vacinação de uma forma mais segura.

Um aspecto importante a ser considerado é se o paciente refere não ter alergia quando come ovo cozido ou frito, mas não sabe se tolera o ovo cru. Como a vacina para febre amarela não é aquecida em nenhum momento de seu processo de fabricação, mesmo o paciente que tolera o ovo cozido ou frito pode apresentar reação à vacina.

Pessoas que apresentam alguma alergia depois de tomar vacina ou têm história de alergia a algum componente vacinal podem procurar centros especializados em imunização. Em todo o Brasil existe os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais, chamados CRIE. Nesses locais é possível receber orientações quanto à aplicação segura de vacinas de um modo geral e orientações adequadas para aplicação sob supervisão médica.

Conforme recomendação das Sociedades Brasileiras de Imunização e de Alergia e Imunologia, pessoas com história de reações alérgicas leves ou moderadas ao ovo (quando apresenta apenas urticária, por exemplo), poderão receber a vacina febre amarela sob supervisão médica e deverão ficar em observação, no local da aplicação, por 30 minutos após a vacinação. No entanto, pessoas com história de reações alérgicas graves após a ingestão de ovo, têm inicialmente contraindicação para receber a vacina. Porém, dependendo da situação epidemiológica local e do risco de exposição à febre amarela, testes cutâneos alérgicos com a vacina da febre amarela poderão ser realizados no CRIE. Se o resultado do teste alérgico for negativo, pode-se administrar a vacina mas sob supervisão médica e com observação. Já no caso do teste ser positivo, o médico assistente deverá discutir com o alergista a necessidade da dessensibilização, isto é, a aplicação da vacina em etapas, em ambiente que ofereça a possibilidade de manejo adequado em caso de possível reação grave como a anafilaxia após a vacina.

Vacinas que apresentam proteína do ovo em quantidade desprezível na sua composição, tais como a tríplice viral (vacina contra sarampo, caxumba e rubéola) podem ser aplicadas nos pacientes alérgicos ao ovo, e a vacina da gripe (influenza), que também tem na sua composição baixa quantidade de proteínas de ovo, pode ser administrada nas unidades básicas, sem precaução adicional desde que os casos de alergia ao ovo sejam considerados leve a moderada. Entretanto, naqueles casos de reação alérgica grave ao ovo, a aplicação da vacina influenza também deve ser realizada com assistência médica e observação em ambiente adequado como no CRIE.

No Rio de Janeiro, independente do município de residência, a orientação para os alérgicos ao ovo que necessitem receber a vacina febre amarela, é ter um encaminhamento por profissional de saúde para agendamento de atendimento no CRIE. Para os menores de 12 anos, os atendimentos são no CRIE localizado no Hospital Municipal Rocha Maia, endereço: Rua General Severiano, nº 91, Botafogo, Rio de Janeiro/RJ, telefone: (21) 2275-6531. E para os maiores de 12anos, os atendimentos são no CRIE localizado no Instituto Fiocruz, na Av. Brasil, 4.365, Manguinhos, Rio de Janeiro, telefone: (21) 3865-9124/3865-9125 e WhatsApp: (21) 96733-0579.

Diante do recente cenário epidemiológico da pandemia Covid-19, temos que ser cautelosos ao contraindicar a vacinação contra a febre amarela, uma doença com alta letalidade e para a qual não há tratamento específico. Mesmo nos alérgicos graves à proteína do ovo, a vacina febre amarela, quando aplicada em ambiente adequado e por profissionais especializados, é segura e não oferece maiores riscos.