A passageira inusitada

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Motoristas de aplicativo não podem escolher passageiro. Mas será que eles encarariam levar um esqueleto no banco de trás? O escultor francês Jean-Marc Laroche encara na maior tranquilidade. Costuma passear de bicicleta com um esqueleto enganchado em sua cintura. Na verdade, o esqueleto é uma obra de arte, que ele criou em 2015 e batizou como “A passageira”, responsável por atrair a atenção por onde passa. Durante todo o verão, ele poderá ser visto pedalando pelos mais diversos pontos da cidade. Para saber por onde ele vai passear com sua ilustre carona, é só ficar ligado no perfil dele no Instagram: @jmlarochesculpteur.

“Minha companheira de passeios faz sucesso por onde passa e provoca simpatia geral: jovens, velhos, crianças, ricos, pessoas em situação de. Ela gera muita alegria para todo mundo, sem diferença de classe ou idade. No outro dia mesmo, passei por um morador de rua, ele estava meio triste, mas, quando viu ‘A Passageira’, de repente deu gargalhadas sem parar. Achei ótimo!”, entusiasma-se Laroche, que é casado com brasileira e passa metade do ano em seu apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro.

“A Passageira” é feita de resina, mas o escultor conta que o realismo dos ossos já confundiu muita gente. Os olhos são de pedras brasileiras, cristal de quartz de Minas Gerais. O capacete é de cobre. Ela calça umas sandálias com saltos de 15 centímetros, usa batom vermelho e óculos Alain Mikli. Ela é parisiense, chique, sexy e elegante.

Em Paris, criador e criatura circulam pela cidade de moto. Lá a obra já é muito popular. Um vídeo que Laroche fez dela tem 250 milhões de visualizações no Instagram e no Tik Tok. Aqui no Rio, “A Passageira” é mais preocupada com o meio ambiente e só anda de bike. Até março, ela poderá ser vista na garupa de Laroche rodando pela Cidade Maravilhosa. Seu lugar preferido é a orla, mas ela já encantou Madureira!

As reações das pessoas diante da obra são quase sempre divertidas. Geralmente, riem bastante e brincam. Laroche lembra de algumas frases que já ouviu pelas ruas cariocas, tipo: “o cara não larga a esposa nem depois de morta”, “coitada... a esposa pegou covid”, “tão linda de batom e sapatinho... Perfeita!”.

 

Um pouco sobre a história de Jean-Marc Laroche

O artista veio ao Brasil pela primeira vez em 1986, atraído pela música, querendo conhecer o país da bossa nova, da música de Vinicius de Moraes e Gilberto Gil. Tinha, então, tinha 27 anos, apaixonou-se pelo país e se dedicou a aprender a língua. “Em um ano, já falava quase fluentemente”, recorda ele, que, em 1987, conheceu a esposa Vilma, carioca. Desde então, passa quase a metade de cada ano no Rio e diz: :”sou um ‘parioca’ de coração brasileiro”.

Também em 1987, Laroche começou a carreira de escultor. Ficou famoso pelas facas artísticas que criou durante dez anos. Depois, passou a criar mais estátuas e também mecanismos e sistemas. Fez exposições na Europa e também nos Estados Unidos (Los Angeles, Nova York... ) E tem fãs famosos como o premiado cineasta mexicano Gillermo Del Toro. Para o diretor de “O labirinto do fauno” e “A forma da água”, o trabalho de Laroche “é uma síntese única e poderosa de vida, morte e poder bruto”.

O fascínio do artista francês por caveiras vem da infância, quando ficou impressionado com a múmia Rascar Capac, capa de uma das aventuras do herói Tintim, escritas por Hergé. “A minha ideia é valorizar a vida por meio da representação da morte. As pessoas ficam rindo quando a veem — no mundo de hoje, precisamos de um pouco de maluquice para aliviar. Então faço por isso, além de divulgar meu trabalho”, explica o escultor.

Várias obras de Laroche também podem ser vistas em Recife, no Instituto Ricardo Brennand, classificado pelo Trip Advisor como o ponto cultural número um de toda a América do Sul. Também conhecido como Castelo de Brennand, o complexo – que envolve foi fundado em 2001 pelo colecionador e empresário pernambucano Ricardo Brennand e aberto ao público em setembro de 2002.