É preciso dialogar sobre o Centro

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Charbel Tauil Rodrigues*

Alardeada nos últimos dias pela prefeitura, a tal série de intervenções no Centro de Niterói requer uma análise mais detida, e principalmente o condão do diálogo prévio com a sociedade, sob risco de imenso desperdício de dinheiro público, podendo inclusive resultar num esvaziamento ainda maior do bairro.

Comecemos pelo "pecado original", que no caso é a absoluta falta de exercício democrático nas práticas do Executivo municipal. Anuncia-se um grande e milionário pacote de intervenções no Centro, envolvendo desde a "revitalização da Avenida Amaral Peixoto" e a "reurbanização da Rua da Conceição", até a reforma de diversas praças e obras no entorno da Concha Acústica, e por aí vai.

Tudo soa muito bem, mas pergunto: quantas pessoas e entidades da sociedade civil foram ouvidas a respeito? Houve reuniões, audiências públicas a respeito? Procuraram saber o que os moradores, os profissionais liberais e os empresários têm a sugerir? SE sim, quando e como foram feitos esses levantamentos? O Sindilojas, por exemplo, não foi ouvido. E as outras entidades do Comércio, foram? Os representantes da prefeitura procuraram a OAB? Os síndicos dos edifícios? Os representantes das faculdades instaladas no bairro?

A prefeitura diz, por exemplo, que vai plantar árvores ao longo da Avenida Amaral Peixoto. A natureza é sempre bem-vinda, mas alguém foi consultado se isto atenderá aos desejos, anseios e expectativas de quem vive ou trabalha ali? É de se imaginar que, para plantar tais árvores, será preciso sacrificar espaços da pista de rolamento, assim como dos poucos pontos de estacionamento que ainda restam por ali. E aí, teremos a Amaral Peixoto com seu trânsito estrangulado? Aquele trecho não estaria precisando muito mais de áreas para estacionamento (ainda que subterrâneas), para que o consumidor possa voltar a frequentar o bairro? Estreitando-se a pista e reduzindo ainda mais as pouquíssimas vagas existentes poderá resultar num esvaziamento do Centro ainda mais grave do que o atual. Talvez outros pontos ou trechos do Centro sejam mais disponíveis e vocacionados para receber árvores, arbustos e jardins, mas não a Amaral Peixoto.

Questões assim precisam ser debatidas publicamente, com calma, urbanidade e serenidade, para que então sejam tiradas quais as iniciativas a serem tomadas e quais as prioridades.

É muito ruim que um governo apresente um projeto multimilionário, como esse do Centro, sem ouvir a sociedade. E quando dizemos "ouvir a sociedade" estamos falando do indispensável diálogo humanizado. Não vale colocar no ar um site com plantas baixas e orçamentos genéricos, e depois "abrir consulta" via e-mail, só para constar.

Cremos ser válido colocar na mesa inclusive a ordem dos investimentos a serem feitos em cada área. Na listagem divulgada pela prefeitura constam, por exemplo, R$ 14 milhões a serem desembolsados no Parque das Águas Escondidas (onde já se gastou uma dinheirama, por exemplo, num elevador que está parado); R$ 20 milhões no entorno da Concha Acústica (à parte dos R$ 97,5 milhões previstos para o Parque Esportivo da Concha); R$ 25 milhões para a reforma do prédio da Caixa Econômica Federal, e R$ 5 milhões para a reforma das praças do Rink, Jardim São João, Praça das Águas, República e Leoni Ramos. Que tal conversarmos sobre tudo isto?

Cremos que será dialogando, opinando, trocando ideias e sugestões, que poderemos começar a construir um caminho sólido rumo ao renascimento deste bairro tão importante histórica e economicamente para todos nós.