Retorno de quem viu de perto os horrores de uma guerra

Presidente Jair Bolsonaro recebeu os brasileiros repatriados que chegaram em aviões da FAB. Voos saíram da Polônia - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Após semanas de incertezas, privações e riscos em meio a bombardeios de guerra na Ucrânia, um grupo de brasileiros, ucranianos, argentinos e um colombiano trazidos da Polônia em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a Brasília em segurança.

Além de 43 brasileiros repatriados, o grupo é formado por 19 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano. Entre eles, há 14 crianças, oito cachorros e dois gatos de estimação. Após conseguirem cruzar a fronteira da Ucrânia com a Polônia, as pessoas se concentraram em Varsóvia, de onde foram resgatadas por duas aeronaves da FAB: um KC-390 Millennium e um jato Embraer Legacy.

A maior parte das pessoas viajou a bordo do KC-390, que pousou na Base Aérea de Brasília perto de 12h30. No Legacy, viajaram uma grávida e duas famílias com crianças de colo, além do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que estava na Polônia, coordenando as etapas finais da chamada Operação Repatriação.

Ao deixar os aviões, o grupo foi recepcionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro e pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ministros de Estado, parlamentares e oficiais militares também prestigiavam a cerimônia de recepção.

A capital federal foi o destino final de uma viagem de quase 12 horas que, a partir da capital polonesa, contou com rápidas escalas em Lisboa (Portugal), na Ilha do Sal (Cabo Verde) e em Recife (PE), onde a aeronave pousou por volta das 6h30 de ontem (10), e permaneceu por cerca de três horas.

De Brasília, as pessoas puderam seguir para seus destinos finais com passagens cedidas por companhias aéreas, mas, antes, passaram por procedimentos administrativos e sanitários necessários para entrada no país.

Choque de realidade - Alívio por estar de volta ao seu país e preocupação com os amigos que deixou na Ucrânia. Assim o estudante de medicina Rony de Moura explicou o que estava sentindo ao finalmente pousar, em segurança, na Base Aérea de Brasília, junto com outras 67 pessoas de diferentes nacionalidades resgatadas da guerra na Ucrânia.

"Estou me sentindo aliviado, mas, ao mesmo tempo, estou preocupado com os ucranianos que conheço. O dono da casa onde eu vivia de aluguel e outras pessoas que não sei onde e como estão", disse Moura. Natural de Niquelândia (GO), ele vivia há três anos na capital ucraniana, Kiev, e também já viveu na Rússia.

Aos jornalistas que acompanhavam a recepção oficial ao grupo, o estudante contou um pouco das incertezas e privações que as pessoas vêm enfrentando na Ucrânia. Segundo ele, a venda de produtos essenciais está sendo racionada e há filas "gigantescas" nos estabelecimentos comerciais que seguem abertos.

"Medo de morrer eu não senti, mas foi um choque de realidade quando eu entrei em um supermercado e não tinha mais água à venda. Esse foi, talvez, o pior momento para mim, pois vi as pessoas desesperadas", disse Moura, explicando que, por residir longe do centro de Kiev, não chegou a testemunhar os ataques russos.

"Como o local em que eu vivia, em Kiev, fica fora da cidade, o máximo que escutei foram duas bombas que caíram perto da minha casa. Naquele momento, senti muito medo. Mas outros brasileiros tiveram mais contato [com o conflito]", disse, lembrando ter sido necessárias cerca de 13 horas para percorrer um trajeto de aproximadamente 440 quilômetros entre Kiev e a cidade de Lviv, onde foi recebido nas dependências da Embaixada do Brasil.

"De Lviv à fronteira [com a Polônia] foi mais tranquilo. Tínhamos escolta policial, acompanhamento da Cruz Vermelha. Mas na fronteira foi dramático. Havia uma fila gigantesca de pessoas tentando deixar a Ucrânia. Nós passamos por estarmos com o pessoal da embaixada, mas havia muitas crianças e mulheres à espera", relembrou o estudante, acrescentando querer abraçar a namorada e o filho assim que fosse autorizado a deixar a Base Aérea.