Maquiagem: uma arma da Viradouro

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Quando a Unidos do Viradouro entrar na Marquês de Sapucaí e o mestre Ciça comandar os primeiros sons da sua bateria nota 10, o público da arquibancada estará de olho no que a vermelho e branco de Niterói irá mostrar. São fantasias, alegorias e milhares de rostos e corpos coloridos com muita arte, muitos deles com a assinatura da visagista e maquiadora Christina Gall, que faz história na escola do Barreto desde quando ela ainda estava no grupo de acesso. A escola cresceu junto com as histórias da Gall que, em 2018, conquistou o título de melhor maquiador artístico concedido por uma revista especializada, por seu trabalho na comissão de frente e algumas alas.

Christina Gall e sua equipe são responsáveis pela criação de vários personagens, e o trabalho os levou até a França, conquistando o patrocínio de uma grande marca francesa.

"As pessoas acham que é só ir lá e fazer um rosto bonito. Não é!!!!!! Tem pesquisa, tem estudo, tem análise de figurino, afinal, tudo é julgado. Nosso trabalho está sujeito às ocorrências da natureza como calor ou chuva. Por isso, tem todo um estudo para as maquiagens feitas com produtos à prova de água. São muitas horas e muitas horas sem dormir", explica Gall.

Uma dessas personagens, a Sereia, marcou o desfile da Unidos do Viradouro de 2020. Ela "nasceu" duas semanas antes do desfile. "O figurino estava pronto e eles acharam que a maquiagem poderia fazer a diferença. O que seria só pintura do rosto e cabelo virou também maquiagem do tórax da sereia e tinha que ser resistente à água, porque uma atleta de nado ficaria dentro da água", lembra.

Outro trabalho de grande destaque foi as ganhadeiras da Comissão de Frente reluzentes como o ouro. "Precisamos destacar o valor que essas mulheres tinham e têm. As escravas mostrando o empoderamento numa leitura atual, destacando as negras escravas que deram início a tudo".

As inovações foram tantas que as técnicas criadas por Christina Gall a levaram à França para ensinar a técnica a maquiadores franceses que continuam vindo ao Brasil para aprender com ela.

"Nem sempre os melhores trabalhos são os que o público ama, porque o melhor trabalho pode passar despercebido. Ele fica invisível, sabe por quê? Porque ele se integra tanto ao figurino que a gente não sabe onde um acaba para começar o outro. Eu sempre procuro levar algo inovador e muito elaborado. E para 2022, o que eu criei realmente vai inovar e fazer com que muitos queiram utilizar essa técnica daqui por diante e, quem sabe, não vira uma tendência", aposta a maquiadora.

Este ano, a maquiagem de Galli vida ao Arlequim, que estampa a capa do CD com o samba enredo da escola e promete muito mais. Serão 600 pessoas na avenida maquiadas por 110 maquiadores, já que Galli conta com a ajuda de alunos do curso profissionalizante do Senac, numa parceria que já vem de três anos. Além deles, 15 maquiadores franceses que estão no Brasil aprendendo a técnica também vão ajudar na maquiagem da Sapucaí. Essa turma terá cerca de duas horas para deixar os rostos lindos e os personagens reais para a hora do desfile.