Caso Henry: perito diz que lesões podem ter sido feitas no hospital

Contratado pela defesa, como assistente técnico, o perito Sami El Jundi, reiterou que Henry chegou vivo ao hospital - Foto: Reprodução

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Marcada por discussões quentes entre advogados e até com a juíza, a audiência do julgamento da morte do menino Henry Borel, que ocorreu na última quarta-feira (1º), gerou uma reviravolta acompanhada de uma interrogação sobre o caso. A principal delas seria a causa da laceração hepática que teria provocado a morte do menino.

Contratado pela defesa do vereador Jairo Souza Santos Júnior, como assistente técnico, o perito Sami El Jundi, reiterou que Henry chegou vivo ao hospital Barra D'or, mas que a morte do menino aconteceu na própria unidade de saúde, onde ele teria sido submetido a uma manobra de ressuscitação. Sami realizou uma análise de cada uma das 23 lesões encontradas no corpo de Henry e concluiu que as externas tinham correspondências com manipulação médica e, as internas, com lesões que poderiam ter sido provocadas por massagem cardíaca, durante tentativa de reanimação de Henry. Dessa forma o perito destacou que os machucados nada teriam a ver com Jairinho e Monique.

De acordo com Jundi, Leonardo Tauil, perito do Instituto Médico Legal, admitiu durante audiência na 2 Vara Criminal do Rio uma série de omissões de informações no primeiro laudo de necropsia, como arranhões no rosto, até a ausência de achados médicos dentro do corpo de Henry. O assistente técnico do Dr. Jairinho afirmou que, por muitas vezes, Tauil se mostrou arrependido de não ter detalhado as lesões.

Estas omissões e contradições que os advogados Cláudio Dalledone e Flávia Fróes, defensores de Jairo, exploraram durante as 12 horas de depoimento. A primeira omissão comentada pela defesa foram as fotos do corpo do garoto, que ninguém conseguiu responder quando elas foram tiradas e por quem, já que Tauil teria negado sua autoria. As fotos teriam sido usadas, "numa perícia indireta", para descrever diversas lesões apontadas em laudos complementares. Segundo a defesa, lesões não mostradas nas fotos também foram descritas. "Eu usei as minhas anotações", se defendeu Tauil, que já revelou que as jogou fora. Sami criticou a atitude, dizendo que "anotações de uma necropsia não se joga fora e sim as arquiva, justamente para comprovação do laudo e evitar questionamentos".

Lesões no hospital - Ainda segundo a defesa, os depoimentos feitos pelos peritos colocaram em dúvida até a reconstituição dos fatos feita no interior do apartamento de Jairinho e Monique que, contou com a presença da cúpula do Instituto de Criminalística Carlos Éboli. Uma vez que esta reconstituição apontou que Henry Borel teria morrido dentro do apartamento.

Com base nas informações do prontuário médico do Barra D`Or e do raio-x feito no hospital, Sami El Jundi disse que é perfeitamente possível afirmar que a lesão hepática pode sim ter sido provocada, mesmo que de forma involuntária, pelos médicos.

"O prontuário do Barra D`or informa que Henry Borel chegou no hospital em PCR (parada cardiorespiratória), mas com presença de sinais vitais, portanto, vivo. Foi feito rapidamente um procedimento de reanimação por cinco médicos e enfermeiros que por duas horas realizaram 12 mil compressões contra o tórax de Henry para que o coração voltasse. São 12 mil 'pancadas' no corpo de Henry para reanimá-lo. E que depois o raio-x comprovou que causou contusão nos dois pulmões", afirmou em longo depoimento.

Bate-boca com a juíza - Os promotores do MP foram contra a solicitação da defesa de Jairinho e a magistrada deve se manifestar nos próximos dias. A juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio, que discutiu com os advogados do acusado, pode ser alvo de uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Dalledone, advogado de Jairo, disse que irá acionar o CNJ nos próximos dias para apurar a conduta da magistrada durante todo o processo da morte de Henry. A defesa alega que a juíza mostrou completo descontrole na condução do caso, além de parcialidade.

"Hoje ela deixou claro que não está com os controles emocionais dentro do que se espera de um juiz", disse Dalledone, citando a parte da audiência onde a juíza perguntou ao perito Tauil se ele achava que Henry podia ter batido a cabeça três vezes no chão, fruto de uma queda. O perito respondeu que seria "improvável". Em seguida, a magistrada comentou: "só se fosse uma bola de vôlei e ficasse quicando". O comentário foi altamente criticado pela defesa, que disse ter se sentido ofendida pela atitude de Elizabeth. A condução deve ser resolvida no CNJ.

O caso - Henry Borel morreu no dia 8 de março de 2021, por conta de uma hemorragia interna por laceração hepática por ação contundente, segundo o laudo complementar de necropsia do IML. O laudo revela que o corpo do menino tinha 23 lesões.

Jairinho e Monique são réus pela morte do menino. De acordo com as investigações, a criança morreu por conta de agressões do padrasto e pela omissão da mãe. A defesa tenta provar a inocência do réu.