Em águas revigorantes

Por Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/ Divulgação

Cidades
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Dom José Francisco*

A mais popular de todas as virtudes - "Ame o seu próximo como a si mesmo" - traz em si uma dificuldade inerente, que acontece quando percebemos que o próximo, a ser amado, inclui nosso inimigo preferencial. Ele também é próximo, às vezes, até demais, sobretudo, quando pensamos obsessivamente nele. Nossos "inimigos de estimação" são nossos próximos mais próximos.

Todos sabemos que o perdão é uma postura de vida maravilhosa, até que, realmente,tenhamos algo a perdoar. Certa vez um amigo me contou que, numa palestra sobre perdão, um senhor bem idoso lhe perguntou, de chofre, se ele estaria disposto a perdoar a Gestapo caso fosse

judeu? Com a sua falta de vivência no tema, meu amigo procurou revestir sua resposta com o manto

verdadeiro da ausência de experiência. Foi quando ele resolveu chamar o Cristianismo em seu auxílio.

Pois não fomos nós que inventamos o Cristianismo. No âmago das palavras: "Perdoa nossas dívidas, como temos perdoado os nossos devedores", não há qualquer brecha pra incluir um perdão que somos incapazes de receber, simplesmente, por não sabermos doar.

Perdoar também se aprende. Não começamos na matemática pelo cálculo diferencial, mas pela aritmética. Nem aprenderemos a perdoar a História começando pelos crimes hediondos, mas pelo exercício caseiro do perdão diário. Isso vai demandar muito tempo? Esqueça o relógio! O tempo físico não entra nas equações da alma.

Se não for possível amar, perdoe. Se não for possível perdoar, compreenda. E observe, atentamente, que não foi usado o verbo aceitar: os verbos "amar, perdoar e compreender" se encontram num degrau distante do verbo "aceitar". Os três primeiros são possíveis; é o quarto que requer um mergulho numa piscina gelada. Se você souber nadar e não estiver exposto a nenhuma pneumonia, vai descobrir como aquelas águas são revigorantes.