A verdade

Por Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/ Divulgação

Cidades
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Dom José Francisco*

Luís XIV, o Rei-Sol, que teve um reinado longo, era um homem de pouquíssimas palavras. Quando os ministros lhe levavam as resoluções de Estado, ele dizia: "Verei!" E se afastava.

Eu sei que a História não comporta julgamentos de valor: o que um dia serviu numa determinada situação, necessariamente, não precisa servir em outra. Os tempos mudam, e cabe a nós a arte da interpretação das mudanças: nos sentimentos, nas palavras, nos gestos e no poder, que em muitos casos, age como um corrosivo de tudo o que foi dito atrás.

O poder é um perigoso jogo de aparências. Luís XIV não via o que dizia que ia ver: apenas aparentava.

Falo isso, porque as aparências são, hoje, distribuídas em larga escala pela mídia. É fato que muita gente já viu algum close feliz, em ângulos estudados e sempre sorridentes, de famílias poderosas, que reinam em algum lugar da Terra, distribuindo elegância e gentileza. É assim, na verdade, não porque os seres humanos sejam "máquinas" de aparentar felicidade. Mas acabam por mostrar só o que sirva a algum objetivo, que nem sempre vem ao caso, ético ou não.

Sabe por que isso acontece? Porque nós detestamos o vazio.

As nossas respostas curtas e o nosso silêncio eloquente sempre deixarão o opositor na defensiva. Daí, acabamos preenchendo o vazio com comentários eficientes que produzam o objetivo de revelar só o que o ouvinte quer ouvir, ou seja, sempre uma notícia favorável, e se possível, sempre feliz.

Expressar apenas o necessário é uma arte. Torna-se um desvio da arte quando atrapalhamos as intenções e confundimos verdades com conveniências.

Lembram que foi isso o que fizeram no caso do Titanic? Ninguém falava a verdade que o navio estava afundando, e a festa "rolava" feliz. Se à verdade não for dada a prioridade, nosso Titanic também acaba afundando.