Levanta os olhos, conta as estrelas

Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/Divulgação

Cidades
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Dom José Francisco*

"Levanta os olhos, conta as estrelas!" (Genesis 15,5). Essa foi a ordem que Abraão recebeu ao ser conduzido para fora (não se sabe de onde), cujo único objetivo de levantar o olhar.

A transcendência só acontece levantando o olhar para essa experiência de exterioridade total, para que se fuja dos pequenos olhares e diga adeus às ilusões fragmentadas!

"Levanta os olhos, conta as estrelas!"

Uma vez, conduzidos para fora dos nossos circuitos fechados, entre interrogações ou evidências, nós abrimos as janelas para o vasto, erguemos os olhos e descobrimos as estrelas: essa imensidão tatuada na pele do universo.

Abraão descobriu isso. Antes de ser chamado para protagonizar uma nova história, experimentou essa descoberta como um gênero musical escrito para alargar as fronteiras do seu mundo.

Mais tarde, já idoso e sempre com promessa adiada, ele rompe. Rompe
com o cenário geográfico-familiar que lhe dava apoio. Rompe com o sentido
da segurança de uma cidadania, com o reconhecimento parental, com a pertença, até com o sangue. Ele rompe!

Agora, só lhe restava um último patamar em que se sustentar: o da transcendência. Que começa com um desafio: renunciar à ilusão individual e pretensamente definitiva que todos damos à existência - essa coisa tão pequena a que se apega tanto! - e se abrir ao descoberto da transcendência.

Daí: "Levanta os olhos, conta as estrelas!"

Nem sempre basta a impressão de uma época a que falta quase tudo. Chegou a hora de abrir a porta... sair... levantar os olhos e contar as estrelas!

"A espantosa realidade das coisas é minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é. E é difícil explicar a alguém como isso me alegra: e quanto isso me basta!"

(Fernando Pessoa).